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A revolução do Autolib’ em Paris

Como os 'Bluecars', carros elétricos compactos que começam a rodar pelas ruas da capital francesa, podem mudar o futuro da mobilidade no planeta

Por Fernando Valeika de Barros
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h52 - Publicado em 5 dez 2011, 13h09

Nunca, em nenhuma outra cidade do mundo, houve um programa semelhante com carros elétricos. Independentemente de dar certo ou não, o sistema inaugurado em Paris já faz parte da história do automóvel.

Lançado em Paris e em 45 cidades dos arredores no dia 5 de dezembro, o Autolib’ coloca o automóvel em uma nova era. Trata-se da primeira iniciativa de car-sharing em uma grande cidade do planeta. Traduzindo-se ao pé da letra, o termo em português significa “compartilhamento de carro”. Funciona assim: os interessados em rodar com um dos carros do sistema Autolib‘ poderão aderir a ele com pagamentos anuais, semanais ou diários, desde que tenham carteira de motorista, documentos de identidade e cartão de crédito. Dependendo da fórmula escolhida, pagarão de 5 a 7 euros a cada meia hora de utilização do automóvel, que poderá ser retirado em uma estação e devolvido em outra, situada a quilômetros de distância, desde que em Paris ou em outra cidade da região que também participe do projeto (assim como acontece com outra invenção parisiense, as bicicletas do Vélib).

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O Autolib’, no entanto, é mais que isso. Começa com os BlueCars, os carros compactos desenhados pelo Studio Pininfarina. Terão quatro lugares e um pequeno porta-malas (confira na ficha técnica), e serão equipados com motores elétricos. Isso significa que não emitirão nenhum grama de fumaça e serão silenciosos. A partir do início de dezembro, haverá 300 deles rodando nas ruas de 46 cidades na região da capital francesa. A meta é chegar a junho de 2012 com 1.700 carros e alcançar a marca dos 3 mil veículos em 2013. Nunca, em nenhuma outra cidade do mundo, houve um programa semelhante com carros elétricos. Independentemente de dar certo ou não, o sistema inaugurado em Paris já faz parte da história do automóvel. (Continue lendo a matéria abaixo)

Arte/VEJA

Arte com os números do AutoLib em Paris ()
Logotipo do carro elétrico da Autolib pintado em uma estrada em Vaucresson, Paris ()
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Para surpresa geral, quem opera o sistema não é nenhum grande construtor francês. A Renault esnobou a iniciativa, apesar da agressiva aposta em carros elétricos empreendida pelo seu comandante-em-chefe, o franco-brasileiro Carlos Ghosn; a PSA, dona das marcas Peugeot e Citroen, concorreu em um consórcio com a francesa Veolia, e perdeu a corrida. Nem a Vinci, proprietária de estacionamentos em paris e pedágios pela França afora, que também estava na briga em associação com a locadora Avis, a SNCF – a empresa ferroviária francesa – e a Smart. Quem ganhou a concorrência para desenvolver e implantar o sistema foi Vincent Bolloré, 58 anos, o décimo-segundo francês mais rico da face da Terra, com uma fortuna estimada em 1,7 bilhão de dólares.

Vincent Bolloré ganhou a concorrência, segundo pessoas próximas ao empresário, porque foi o mais ousado no investimento. Enquanto os outros concorrentes queriam se assegurar de que não perderiam dinheiro em caso de fracasso, ele tocou o projeto em frente. Excetuando-se um investimento público de 50 mil euros por estação, que virá dos cofres das cidades participantes, o resto do dinheiro sairá integralmente da carteira de Bolloré.

Recém-chegado ao mundo dos carros, ele tem uma ambição: provar que a bateria de lítio-metal-polímero (LMP), produzida na França e no Canadá por um dos braços de seu grupo, é uma solução melhor para automóveis elétricos do que as de íon de lítio, similares às que equipam telefones celulares ou computadores portáteis.

BlueCars: Como são e como funcionam os carros elétricos

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A principal diferença entre os dois modelos reside no fato de as LMP não utilizarem líquido ou pasta eletrolítica. Por serem completamente secas, elas não necessitam de manutenção e são mais baratas. Além disso, a vida útil é maior, podendo chegar até 10 anos em temperaturas entre -40 e 65 graus célsius. Uma bateria comum dura em média três anos.

O LMP desenvolvido por Bolloré pode ser utilizado em carros, em ônibus e também para estocar energia que, segundo ele próprio, será um dos grandes desafios nos próximos anos. “Paris é uma grande vitrine mundial e muita gente estará de olho no que acontecer com o Autolib’ “, disse ele ao site de VEJA, em uma entrevista realizada em março de 2011, durante o Salão do Automóvel de Genebra, na Suíça, onde a versão final do BlueCar foi apresentada ao público pela primeira vez. (Continue lendo a matéria abaixo)

Assista ao vídeo promocional do Autolib’

http:https://www.youtube.com/embed/lJ-g8LBtSBM

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Bolloré pretende recuperar seu investimento de várias formas. Uma delas é com a venda dos BlueCars. Segundo ele, já existem 8 mil interessados em tê-los na garagem de casa, antes mesmo de o primeiro modelo ser exibido em uma concessionária. Há também o projeto de um ônibus de 22 lugares equipado com baterias LMP, em fase final de desenvolvimento.

Sem falar na venda das baterias desse tipo para outros construtores ou para turbinar o negócio de conservação de energia em milhares de casas (a vantagem seria acumular energia comprada em momentos de tarifa baixa e consumi-la nos horários de pico). Entre o dinheiro colocado para produzi-las em duas usinas – uma na França, outra no Canadá – e o usado para desenvolver o BlueCar, estima-se que o investimento de Bolloré tenha chegado a 1,5 bilhão de euros, quase quinze vezes mais do que custará a operação Autolib’ a cada ano.

Apesar de algum descontentamento por parte do sindicato dos taxistas parisienses, da redução de centenas de vagas de estacionamento na cidade para acomodar a chegada das estações (quem insiste em parar seu carro em uma delas se sujeita a ser multado em 35 euros pela infração), do protesto de membros do Partido Verde (os ecologistas não gostam da ideia de mais automóveis nas ruas de Paris, mesmo que limpos), e até do seu criticado lado Big Brother (o percurso de cada carro será monitorado 24 horas por dia, via satélite, por questões de segurança), o Autolib’ goza de boa imagem na França. Cerca de 1.000 pessoas aderiram ao projeto antes mesmo de sua estreia.

A boa recepção se deve também a outro trunfo secundário, mas não menos importante. O Autolib’ gera empregos, uma palavra mágica em plena recessão europeia. Em cada estação haverá funcionários para proteger os carros de atos de vandalismo e ajudar os clientes com registros e outras formalidades. Calcula-se que 1.500 trabalhadores sejam admitidos no programa nos próximos meses, dos quais cerca de 1.200 nas estações.

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A partir de 5 de dezembro de 2011, Vincent Bolloré tentará provar aos céticos que tem razão. Se vencer a aposta, certamente ganhará muito dinheiro com a venda de suas baterias, com o lançamento de novos Autolib’, em países da Europa para começar e em outros continentes depois. E passará ao futuro como um dos homens que mudou a forma de ir de um lugar para o outro em uma grande cidade. Por tudo isso, vale à pena conferir de perto o que se passará com os carrinhos cinza em Paris nas próximas semanas.

Arte/VEJA

Arte sobre o funcionamento do Autolib em Paris ()
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