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A agenda de mudança climática está quente

Para o consultor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais, o aquecimento global voltou à agenda política. A questão fundamental é: como os líderes mundiais vão responder às alterações climáticas

Por Michael Jacobs
Atualizado em 6 Maio 2016, 16h13 - Publicado em 24 mar 2014, 15h37

Neste ano, para muitas pessoas ao redor do mundo, o clima já não é assunto de conversa trivial. O tufão Haiyan, nas Filipinas, o gelado inverno sem precedentes nos Estados Unidos, a seca de todo um ano na Califórnia e as inundações na Europa lembraram os perigos da mudança climática em longo prazo e o tema voltou à agenda política. Em resposta, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, enviou uma carta urgente aos dirigentes governamentais, empresas, sociedades civis e líderes financeiros, instando-os a participar da cúpula climática em Nova York, que ocorrerá em setembro.

Essa reunião será a primeira em que os líderes mundiais se reunirão para discutir o aquecimento global desde a fatídica Conferência das Nações Unidas sobre a mudança climática (COP15), realizada em Copenhague em 2009. Em meio a grandes expectativas – e censuras subsequentes, que a reunião não conseguiu obter um acordo juridicamente vinculativo abrangente para reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Portanto, na Cúpula de setembro, será solicitado aos líderes a retomada do processo diplomático. O objetivo é um novo acordo em 2015 para limitar um aumento na média das temperaturas mundiais em até 2 graus Celsius, nível que a comunidade internacional tem considerado “perigosa” para a sociedade humana.

À primeira vista, parece ser uma tarefa difícil. Desde Copenhagen, a mudança climática decaiu na lista de prioridade da agenda global, já que a restauração do crescimento econômico, as preocupações dos eleitores sobre postos de trabalho e qualidade de vida e conflitos violentos, prevaleceram.

Mas a corrente pode estar mudando. Mais pessoas estão percebendo a verdadeira extensão dos perigos que nos esperam. Em sua mais recente avaliação oficial, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) concluiu no ano passado que os cientistas estão agora 95% certos de que as atividades humanas são a causa principal do aumento das temperaturas.

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Ao longo dos próximos dois meses, o IPCC tornará públicos novos relatórios detalhando os impactos humanos e econômicos das prováveis alterações climáticas e os custos e benefícios de combatê-la. O ex-secretário de estado dos EUA, John Kerry, recentemente descreveu a mudança climática como “talvez a arma de destruição em massa mais aterradora do mundo,” e alertou sobre “um ponto crítico sem retorno”. Alguns comentaristas sérios agora argumentam os dados científicos.

Então, a pergunta-chave é a de como os líderes mundiais vão responder. Há motivos para otimismo cauteloso.

Em primeiro lugar, a cúpula em Nova York não vai ser como a de Copenhagen. Os líderes não estão sendo convidados a negociar um novo acordo – essa tarefa continuará com seus negociadores profissionais e ministros do meio ambiente. Além disso, o processo não será concluído este ano, mas na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em Paris, em dezembro de 2015, o que disponibiliza bastante tempo para traduzir os compromissos políticos, feitos em Nova York em um acordo juridicamente vinculativo.

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Em segundo lugar, os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, os Estados Unidos e a China, agora estão mais empenhados na adoção de medidas do que há cinco anos. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou um plano de longo alcance que autoriza a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (Environmental Protection Agency, EPA) a tomar firmes medidas nos próximos meses para limitar as emissões de centrais elétricas, praticamente colocando fim na geração de eletricidade a partir do carvão por completo.

Na China, o agravamento da poluição do ar e crescentes preocupações com a segurança energética levaram o governo a considerar a possibilidade de colocar limites sobre o uso de carvão e reduzir absolutamente as emissões durante os próximos dez a quinze anos. O governo está fazendo experiências com a fixação de preços do carbono e investindo pesadamente em energias, tais como a solar, eólica e nuclear, que reduzem as emissões de carbono.

Além disso, os dois países estão cooperando ativamente. No ano passado, Obama e o presidente chinês, Xi Jinping, se comprometeram a eliminar progressivamente o hidrofluorcarburo, potente gás de efeito estufa. Em fevereiro, anunciaram a sua intenção de cooperarem em matéria de política climática – um nítido contraste com as tensões sino-americanas sobre as questões de segurança e comércio pacífico. Com a União Europeia também se preparando para se comprometer com novas metas climáticas até 2030, as esperanças de um acordo global vão aumentando.

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Um terceiro motivo para o otimismo é a reavaliação da economia de alteração climática. Há cinco anos, as políticas que visam a redução das emissões de gases do efeito estufa eram vistas como carga custosa para a economia. As negociações foram, portanto, um jogo de soma zero, com países pretendendo minimizar suas obrigações, enquanto pedem aos outros que façam mais.

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No entanto, novas provas podem estar alterando o cálculo econômico. De acordo com uma pesquisa realizada pela Comissão Global em Economia e Clima (Global Commission on the Economy and Climate), longe de prejudicar a economia, uma política climática bem projetada, na verdade, pode impulsionar o crescimento. Presidida pelo ex-presidente mexicano Felipe Calderón, a comissão é composta por ex-primeiros-ministros, presidentes e ministros das finanças e está analisando como investimentos em infraestrutura de energia limpa, produtividade agrícola e de transporte urbano poderiam estimular as economias estagnadas. Suas conclusões serão apresentadas na cúpula de setembro; se aceitas, o trabalho da Comissão poderá marcar um ponto de inflexão, ao transformar a maneira como as autoridades econômicas mundiais consideram a política climática.

Isso não garante o sucesso. Poderosos interesses – e, em particular, as indústrias mundiais de combustíveis fósseis – procurarão sem sombra de dúvidas limitar o progresso, e a maioria dos governos ainda não está centrado no problema. Mas uma coisa é certa: a realidade das alterações climáticas nos remete inevitavelmente para a questão.

Michael Jacobs é consultor sênior do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Relações Internacionais (Institute for Sustainable Development and International Relations) em Paris e professor visitante no Instituto de Pesquisas Grantham sobre Mudanças Climáticas e Meio Ambiente da London School of Economics.

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate, 2014

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