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SPFW: moda masculina procura seu lugar no Brasil

Otimistas com o aumento do consumo de roupas para homens no país, estilistas que desfilam na São Paulo Fashion Week apontam os principais receios e erros cometidos pelo brasileiro na hora de se vestir

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 mar 2014, 08h06

Foi se o tempo em que moda para homens significava encontrar uma roupa limpa e passada dentro do armário. Se vestir bem e prestar atenção na aparência entraram, paulatinamente, na lista de interesses do brasileiro, que aprendeu a usufruir dos frutos que uma boa imagem pode trazer. Prova disso é o crescimento visto em algumas importantes grifes nacionais que desfilam na 37ª edição da São Paulo Fashion Week, que começa na próxima segunda-feira, dia 31 de março. O ousado João Pimenta, considerado um dos principais estilista de moda masculina no país, viu a marca que leva seu nome dobrar as vendas em 2013. Já a última coleção para homens da descolada Colcci, que desfila no terceiro dia da semana de moda paulistana, bateu 40% do faturamento total da empresa, contra 19% do fechamento de 2011. No mundo o cenário é parecido. Para este ano, espera-se que o mercado de moda masculina alcance 402 bilhões de dólares, um aumento de 14% desde 2011, segundo pesquisa realizada pelo Marketline, divulgada no site ReportLinker.

“O homem estava focado em ganhar dinheiro e ter um bom carro para parecer bem sucedido. Porém, novos pilares se levantaram. Ele quer o carro e o dinheiro, mas precisa cuidar do visual que lhe dá uma condição de autoestima e melhora seus relacionamentos, tanto na vida profissional quanto afetiva”, diz Alberto Hiar, diretor criativo da marca masculina V.Rom e da Cavalera, que desfila no primeiro dia da SPFW.

Contudo, consumir não é o mesmo que saber usar o que foi comprado. Logo, a necessidade de informações direcionadas para os homens deu abertura para o surgimento de diversos blogs sobre o assunto, fenômeno virtual já conhecido no universo feminino. O estudante de moda Leonardo Azevedo, 20 anos, foi um dos que percebeu a lacuna e criou, há dois anos, o blog Armário Masculino. “Meu site é visitado por vários tipos de homens e de diferentes idades. Eles também estão preocupados com os cuidados de cabelo e de pele. Recebo cerca de cinquenta dúvidas de leitores por dia”, diz. Desde a criação do endereço eletrônico, Azevedo viu triplicar a quantidade de acessos e hoje vive com a renda gerada pelo site. O mesmo caminho foi seguido pelo publicitário Guilherme Cury, 26 anos, do site Moda Para Homens. Hoje com 1,5 milhão de visitas por mês, o blog sustenta seu criador, que dá dicas variadas de moda e beleza para homens e até algumas mais práticas, como acabar com o chulé do sapato.

“Há um público que está aguçado por novidades, mas tanto as marcas quanto a indústria têxtil precisam valorizar o consumidor masculino. Existe mais a procura do que a oferta”, diz João Pimenta em entrevista ao site de VEJA. “O mercado de moda é imediatista. E mulher consome mais, por isso as marcas preferem focar nelas. Homens são diferentes, eles são mais conscientes, logo consomem menos, mas querem roupas duradouras e de qualidade”, conta o estilista que decidiu se dedicar exclusivamente ao ramo da indumentária masculina após receber muitas visitas de homens em sua loja – que na época era voltada apenas para o feminino — em busca de algo diferente que pudessem usar.

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Percalços – Apesar do crescimento numérico em vendas e da busca por novas informações, o estilista da coleção masculina da Colcci, Jeziel Moraes, ainda enxerga diversas pedras no caminho do brasileiro que o impedem de ser considerado um homem realmente elegante e estiloso, como os europeus já são, por exemplo.

“O consumidor ainda está muito preso aos commodities do guarda-roupa masculino, ele continua a consumir o arroz e feijão disfarçado”, diz Moraes. “A principal culpada, na verdade, é a mulher. Quem veste o garoto na infância é a mãe, depois vem a influência da namorada, da noiva, da esposa. E elas querem passar a ideia de homens másculos, bem-sucedidos. A mulher não quer seu homem questionado, que pensem que é gay ou moderninho, por isso compra sempre o mesmo tipo de roupa, com proporções erradas e não deixa o homem tentar coisas diferentes”, conta.

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O receio de associar a opção sexual à roupa é ainda mais significativo quando o próprio homem faz suas compras. “Por mais que eles estejam abertos para consumir, os garotos ainda tem muito medo de parecer afeminado. Por isso, na roupa masculina, não podemos ousar muito”, diz Pimenta.

Histórico – O comportamento conservador do brasileiro na hora de se vestir é explicável, não só pela cultura nacional, que mantém traços machistas, mas também porque o hábito de consumo do nicho ainda é novo no país.

“Na moda brasileira, nos anos 1950, o homem comprava no alfaiate uma roupa sob medida. Na década seguinte, surgem as primeiras lojas especializadas com modelagem pronta. Nos anos 1990, com as marcas de jeans wear e a alfaiataria jovem, o interesse por moda masculina no país começa a se formar”, conta Astrid Façanha, professora de moda do Centro Universitário Senac. Apenas nos anos 2000, com a globalização e a necessidade de mostrar uma boa imagem, que o ramo especializado em vestimenta masculina encontra um lugar no Brasil, fomentado pela busca do consumidor que quer roupas de melhor qualidade e design.

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Recentemente, o desejo pelo varejo de luxo, velho conhecido das mulheres, também entrou na cartilha masculina, o que levou à procura de marcas como a nacional João Pimenta, que usa técnicas de alta costura, e das estrangeiras, como Armani e Salvatore Ferragamo. “A oferta é grande e variada, e se existe oferta, existe demanda. O homem entendeu que a aparência é importante, que ele não pode mais ser padronizado. Ele tem que sair da caixinha e mostrar quem ele é. E a moda o ajuda nesse processo”, diz Astrid.

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