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‘Salve Jorge’, a novela que bate recorde de periguetes

Pelo menos três personagens fazem o perfil despudorado ou no jeito de vestir ou no jeito de encarar a vida, incluindo a heroína Morena (Nanda Costa), que deixa aparecer a calcinha quando corre num micro-vestido arrochado no corpo

Por Da Redação
22 out 2012, 21h42

Se Avenida Brasil entrou para a história como a primeira trama das nove a ter a classe C como protagonista, Salve Jorge, que estreou nesta segunda-feira na Globo, pode ser lembrada como a primeira a quebrar a cota de periguetes por trama — em geral de uma personagem por folhetim, caso da Natalie Lamour (Deborah Secco) de Insensato Coração, da Teodora (Carolina Dieckmann) de Fina Estampa e da Suelen (Ísis Valverde) do Divino. Seja pelo jeito de vestir ou pelo modo (fútil) de ver a vida, pelo menos três personagens da nova novela de Glória Perez se enquadram no grupo, a começar pela heroína, Morena (Nanda Costa), que usa vestidos tão curtos e apertados que, além de destacar toda a sua topografia, deixam aparecer a calcinha da mocinha. Mas essa inflação de periguetes, ao menos no primeiro dia, não deu resultado: a trama estreou com 35 pontos no Ibope, dois a menos que a antecessora.

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É claro que Morena, personagem principal da novela, não é uma cabeça oca como Drika (Mariana Rios), a filha da delegada Heloisa (Giovanna Antonelli) com o advogado Stenio (Alexandre Nero). A menina, que faz um desfile de lingerie para as amigas em um motel carioca dias antes de seu casamento, resolve se unir ao noivo na Turquia para… bom, para dar início aos voos da companhia Perez Airlines na nova ponte-aérea da criadora de Caminho das Índias, agora unindo como nunca Brasil e Turquia. É a partir desse casório que Stenio fará negócios com o amigo Mustafa (Antonio Calloni), um turco bairrista que adora exaltar os costumes da sua terra — excelente para os espectadores ávidos por um pouco de cultura de almanaque.

A terceira periguete, essa também de valores questionáveis, é Vanúbia (Roberta Rodrigues), com quem Morena se atraca em um baile no Complexo do Alemão. Em tempo: brincadeiras à parte, Salve Jorge inova por ambientar seu núcleo principal em uma favela pacificada.

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Exceto pela musiquinha de terror que introduziu o público no leilão de Morena, no início do capítulo de estreia, Salve Jorge até começou bem, fazendo um recuo raro aos folhetins nacionais, que adoram passar a história para a frente (três meses depois, nove anos mais tarde…). Primeira cena da trama, ela só pecou pelo tom excessivamente caricatural: a mocinha aparece com uma expressão de dar pena sobre um pedestal enquanto é devorada com os olhos por ricaços babões que fazem lances de milhares de euros para tê-la. Em seguida, antes do recuo temporal, Morena ainda aparece correndo pelas ruas do que parece ser Istambul, se dizendo perdida e pedindo ajuda. Sem explicação, a sequência é um modo de aguçar o espectador para o que há por vir. Embora todos já saibam que a mocinha será vítima do tráfico de pessoas, ninguém sabe como ela se sairá dessa, e o capítulo manteve esse suspense.

A abertura, cantada por um arrastado Seu Jorge (o tom artificial que imperou no capítulo sugere que a semelhança entre o nome do cantor e o do folhetim não é mera coincidência), deu saudade do Oioioi vibrante de Avenida Brasil. Difícil acreditar que a música vá pegar da mesma maneira. Confira abaixo, minuto a minuto, um resumo da estreia de Salve Jorge.

21:10: Começa com um belo voo panorâmico sobre a Turquia. Musiquinha de terror. Corta para um sofisticado salão onde homens elegantemente vestidos de smoking, charuto na mão, fazem lances por Morena.

21:12: “Cavalheiros, façam as suas ofertas”, diz o condutor do leilão, onde quem está à venda é a mocinha da novela. “Ela é brasileira, tem 18 anos.” Um dos ricaços, canastrão, aperta os olhos para analisar de perto o corpo da garota. Mas é pelo dinheiro, não pela qualidade artística, que bate o martelo: oferece 3.000 euros por ela.

21:15: Sai Morena, entra uma mulher que, embora esteja prestes a ser leiloada, surge toda sorridente. “Vejam, senhores, que esplendor de tcheca (sic)”, anuncia o leiloeiro, sem atentar para a infelicidade de seu trocadilho.

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21:16: Oito meses antes. A novela faz um recuo. Tiroteio no Complexo do Alemão. A doméstica Lucimar (Dira Paes) acompanha tudo pela TV, mas a filha da patroa, uma periguete patricinha e insensível, a manda tirar o som, sem mudar de ideia mesmo depois de ela dizer que a filha e o neto moram na favela onde chovem balas.

21:20: Théo (Rodrigo Lombardi) vence uma prova esportiva do Exército. Érica (Flávia Alessandra), sua colega e paquera, entrega o prêmio no pódio.

21:24: “Aquele infeliz do Beto ferrou a minha vida. Não vou dizer que me arrependo da nossa relação porque adoro meu filho, mas sobrou tudo para mim. Tenho que matar dois leões por dia, ele não colabora em nada”, diz Morena para a amiga Sheila (Lucy Ramos), enquanto seguem para o baile da favela. No caminho, param para comprar um churrasquinho.

21:24: Corta para Théo, numa balada de playboy com Érica. “Claro que eu sonho, Érica. Sonho muito. Quero conhecer a terra de São Jorge, a Capadócia, quero chegar a general, comandar um regimento”, diz Lombardi, com uma empostação de voz pouco natural – como a ponte-aérea que ele já providenciou entre a novela e a Turquia.

21:25: “Não é o Miro?”, dizem Morena e Sheila apontando para André Gonçalves, que, de camisa do Flamengo, improvisa um rap desajeitado e posa com uma metralhadora. Como cantor, é um excelente ator.

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21:27: Volta para o diálogo patético entre Théo e Érica. “E você, tem sonhos?”, pergunta ele para ela, que fica muda. “Eu ia falar o quê, Julinha, ‘Meu sonho é ficar com você’?”, comenta ela mais tarde com uma amiga. O amor às vezes destrói diálogos.

21:30: Théo conta a Érica que, quando criança, passou três dias soterrado, depois que a casa dos pais desabou por causa da chuva. Seu pai atribuiu a sua sobrevivência a São Jorge, seu padrinho. Agora, sim, a ponte-aérea vai decolar.

21:33: Vai começar a ocupação do Alemão pelo Exército. “Preciso passar no Correio para ver se tem algo pra mim. Triste morar num lugar onde o Correio não pode subir para entregar uma carta, um telegrama na casa da gente”, comenta Lucimar com um conhecido, para justificar a ocupação militar da favela. Novela com legenda, gente.

21:34: Traficante diz a Morena que Beto (Sacha Bali), o pai do seu filho, morreu. “Tô pensando em mandar rezar uma missa para ele, ou acender uma vela para São Jorge. Beto era muito devoto de São Jorge”, diz Morena em seguida a Sheila, revelando a criatividade religiosa dos personagens da novela.

21:36: “Ah, meu filho, estão dizendo que vai ter tanque na ocupação do Alemão e eu estou com medo desse seu comportamento tão destemido, medo que você queira ir na frente”, diz a didática Áurea (Suzana Faini) ao filho Théo, para que ninguém tenha dúvida: ele é o herói da história.

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21:38: O Alemão é ocupado pelo Exército rapidinho. Moleza.

21:41: Um carro atropela um biscateiro, Seu José, e Morena sai correndo para chamar ajuda. A saia da mocinha é tão curta que, enquanto ela corre, a calcinha aparece. Morena chega ao “destemido” Théo, que logo pede socorro pelo rádio.

21:42: Abertura da trama, que deixa de lado a exuberância sonora de Caminho das Índias para dar lugar a um sambinha de gafieira de Seu Jorge – pelo didatismo da novela, tudo indica que a semelhança entre o nome do cantor e o da novela não é mera coincidência. Um cavaleiro num cavalo branco (por que não mais um clichê?) circula entre cenários que mesclam o Rio de Janeiro à Turquia, do mosaico bizantino do Cristo Pantocrátor aos varais de roupa das favelas cariocas.

21:48: Drika (Mariana Rios) ergue mais uma ponte entre Rio e Turquia. Em conversa com a mãe, a delegada Heloisa (Giovanna Antonelli), diz que vai se casar em Istambul porque o pai tem contatos lá, como o comerciante Mustafa (Antonio Calloni).

21:52: Stenio (Alexandre Nero) consegue habeas corpus para um suspeito que a ex-mulher, Heloisa, havia posto na cadeia. A notícia do habeas corpus chega bem na hora em que a delegada está anunciando a prisão para a imprensa. Na sequência, os dois batem boca.

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21:59: Mistééério. Heloisa chega em casa, onde trabalha Lucimar (Dira Paes), carregada de sacolas de loja, que diz levarem anotações de trabalho e que ela enfurna no guarda-roupa, sem abrir.

22:01: “Eu gosto dessa dança sensual, que faz bumbum mexer”, diz a música fina do pagofunk, baile onde Morena e Vanúbia têm uma briga de gato.

22:08: Stenio comenta com Haroldo (Otaviano Costa) seu plano de fazer do genro, Pepeu (Ivan Mendes), o sócio de Mustafa em uma loja em Istambul. “Quem sabe assim ele não cresce um pouco?” Encontra a advogada-celebridade Lívia (Claudia Raia), que no mesmo momento recebe ligação de Wanda (Totia Meirelles). A comparsa está cuidando para ela de mais uma remessa de tráfico humano – Carolina Dieckmann está no grupo.

22:10: Corta para a Turquia. Stenio já está lá – nada como a incrível ponte-aérea da Perez Airlines – com a filha, Drika. Banho de loja de Turquia: o advogado ganha um penduricalho para afastar o estresse de Mustafa e lavanda para dar sorte da mulher dele, Berna (Zezé Polessa).

22:15: Volta para o Rio. Procissão de São Jorge, escoltada pelo destemido Théo.

22:17: Morena encontra Beto e parte para cima dele, cobrando a pensão do filho. “Prova que esse filho é meu”, diz o moço, antes de arranhar o braço da ex-namorada, que, diferentemente de Carminha, quer enquadrá-lo na Lei Maria da Penha.

22:18: Morena leva um puxão de orelha de Théo, por soltar a mão do filho enquanto anda pelo Alemão. “Quem é você para me ensinar como cuidar do meu filho?”, disse ela, toda valente. “Se continuar assim, vou ter de prendê-la por desacato à autoridade”, responde o destemido. “Estou pagando para ver”, desafia Morena, numa cena que devia ser carregada de tensão sexual, mas não tem nenhuma. “Esteja presa.”

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