Fora do pequeno mundo da moda, Pedro Lourenço ainda está longe de ser conhecido. Mas não é impossível que, em pouco tempo, o filho dos famosos estilistas Gloria Coelho e Reinaldo Lourenço se transforme em costureiro de fama mundial. A aposta parece ousada – e é. Mas há elementos que a sustentam, a começar pelo fato de que a promessa, de apenas 19 anos, se lançou internacionalmente no início deste mês, com um desfile independente em Paris. Confira no infográfico abaixo as razões do sucesso do estilista brasileiro.
A empreitada foi ousada, arriscada, caríssima – fala-se em 200.000 euros – e bem-sucedida. Engana-se, porém, quem acha que o début só alcançou sucesso devido à montanha de dinheiro empregada. “Não basta ter dinheiro. A KCD (empresa de relações públicas do setor) jamais queimaria o filme apresentando um brasileiro tosco para a Anna Wintour”, acredita Maria Prata, editora-chefe do canal pago Fashion TV Brasil, que esteve no evento. Anna Wintour, vale lembrar, é a diretora da revista americana Vogue que inspirou a implacável personagem do livro O Diabo Veste Prada.
A terra de Chanel e Dior, marcas que se apresentam no mesmo evento, é a mais importante capital da moda do planeta. Fazer uma apresentação particular nessas condições equivale a chamar os convidados de um parque de diversões para curtir a gangorra ali do quintal. Como fazer com que importantes editoras de moda desviem seus saltos altíssimos para a passarela de um desconhecido garoto brasileiro? Transformando a gangorra em parque de diversões, oras.
Com a ajuda da mãe, mais uma contribuição da Agência Brasileira de Promoções de Exportação e Investimentos (Apex), via Associação Brasileira de Estilistas (Abest), além de “investidores secretos”, o menino contratou os melhores da indústria para trabalhar nos bastidores do desfile. Isso inclui a participação da KCD.
Os RPs discaram pessoalmente para as influentes editoras, que só assim confirmaram presença. Anna Wintour não foi, mas concordou em recebê-lo, algo impossível de conseguir sem a ajuda de alguém influente. Pedro foi orientado pela empresa a respeito da quantidade de peças a mostrar (cinco) e até sobre o figurino que ele deveria usar na reunião (ele trajava camisa branca e tinha a barba por fazer). “Ela pediu para ver todas as minhas peças vestidas na modelo, coisa rara. Perguntou sobre a parte comercial, os materiais, minha história, quantas vezes vou aos Estados Unidos por ano. O encontro durou, no máximo, vinte minutos”, conta o brasileiro. Segundo o estilista, Anna Wintour ficou muito bem impressionada com o que viu.
No desfile exclusivo, que aconteceu no salão imperial do hotel Westin, onde Yves Saint Laurent exibia sua alta-costura, as outras importantes editoras também se impressionaram. Nada dessa maquiagem, porém, bastaria para arrancar aplausos e elogios. A par do que acontece nas passarelas do eixo Nova York-Londres-Paris-Milão, ele selecionou o melhor das tendências atuais. E não poupou as costureiras do ateliê da mãe, que se esmeraram nos detalhes decorativos, feitos à mão. Pedro fez sua parte exibindo uma coleção fácil de agradar, porque contemporânea (ou seja, com brasilidade zero), mas difícil de executar – daí o impacto sobre as especialistas.
O trabalho já começou a render frutos. O desfile chamou a atenção dos mais exigentes críticos de moda, e dias depois da apresentação Pedro recebeu um convite para integrar o calendário oficial de desfiles da Semana de Moda de Paris. Evidentemente, aceitou. Com toda essa exposição, pode chegar aos degraus mais altos da passarela e atingir o posto de criador de moda. Então, o que falta para ele tocar o Olimpo? “Pelo menos mais três boas coleções”, acredita a stylist Flavia Lafer, que o conhece desde pequeno e o considera um prodígio. “Quando ele tinha três anos, puxou a barra da minha saia e perguntou se era Martin Margiela (prestigiada grife francesa). E era”. Se cuida, Karl Lagerfeld.