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‘Ninguém é dono da verdade’, diz Ivan Lins sobre biografias

Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música, do qual o cantor faz parte, vai contra o Procure Saber e afirma ser favorável à publicação de livros não autorizados

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 out 2013, 11h23

“Não concordamos com a posição do Procure Saber porque somos contrários à censura e defendemos o direito de as pessoas terem liberdade para colocarem suas opiniões.”

No meio do fogo cruzado entre o Procure Saber de Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Djavan e Roberto Carlos e a Associação Nacional dos Editores de Livros (Anel), surgiu uma organização de artistas com uma atitude menos radical quando o assunto é a publicação de biografias. O Grupo de Ação Parlamentar Pró-Música (GAP) é contra a necessidade de qualquer autorização prévia e o pagamento de parte do lucro das vendas ao biografado, mas considera a discussão sobre o tema muito produtiva. “Opinião não é ofensa, e o debate deve ser sempre sobre ideias. É possível ter um pensamento diferente sobre determinado assunto e seguir respeitando as opiniões divergentes – e as pessoas”, afirmaram eles, em nota divulgada na semana passada.

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O cantor Ivan Lins, que faz parte do GAP, destaca que o que deve ser observado com maior atenção é a ineficiência da Justiça brasileira, que precisa ser mais dura no caso de algum artista ser ofendido ou se alguma declaração a respeito dele for mentirosa. “Existe uma diferença entre biógrafos e biófagos, que são os que devoram os biografados. Os biófagos têm de ser submetidos a uma justiça rigorosa para se sentirem desmotivados a invadir a vida alheia. Mas cercear não me parece ser a saída”, disse, em entrevista ao site de VEJA. Ao lado dele no grupo estão os também músicos Leoni, Fernanda Abreu, Frejat, Sérgio Ricardo, Leo Jaime, Dudu Falcão, Mu Carvalho e o humorista Tim Rescala.

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Quais são as diferenças entre o GAP e o Procure Saber em relação à publicação de biografias não autorizadas? Nós e o Procure Saber temos opiniões divergentes, mas não estamos em confronto. A discussão parte de uma premissa com a qual concordamos profundamente: o direito à privacidade. Somos solidários com eles por terem levantado essa discussão. Mas não concordamos com a posição do Procure Saber, porque somos contrários à censura e defendemos o direito de as pessoas terem liberdade para expressar suas opiniões.

Vocês defendem a publicação de todos os livros, mas fazem ressalvas. Quais são? A verdade é que a tomada de posição do Procure Saber parte do conhecimento e da experiência de que a Justiça brasileira é morosa, lenta, burocratizada, aberta a muitos recursos. O problema central está na nossa Justiça. Se o biógrafo escrever inverdades ou for ofensivo, o Judiciário leva muito tempo para resolver e, às vezes, o mal já está feito. Por isso, defendemos que essa discussão seja feita à luz da razão. O GAP pede que se respeite a opinião das pessoas, principalmente daqueles que são ícones, heróis, que frequentaram a nossa vida com sua obra. Ninguém é dono da verdade.

Em sua opinião, qual é a saída para o debate entre os direitos à privacidade e à liberdade de expressão? Uma punição forte da Justiça, mais rápida e eficiente. Existe uma diferença entre biógrafos e biófagos, que são os que devoram os biografados. Os biófagos têm de ser submetidos a uma justiça rigorosa para se sentirem desmotivados a invadir a vida alheia e a privacidade. Mas cercear não me parece ser a saída. Há muito biógrafo sério, bom, ético. Na verdade, acaba prejudicando alguém. Todos nós temos telhado de vidro. Mas não vejo sentido em censurar, porque muitas vezes um jornalista descobre o fato e pode publicar. Se na imprensa é assim, na biografia também deveria ser.

O que você achou dos artigos escritos por Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil defendendo a censura prévia? Já ouvi questionarem a posição de Caetano, porque ele dizia que era proibido proibir. Éramos todos jovens. Muito dificilmente chegamos a uma idade bem adulta com os mesmos critérios de pensamento. Como jovens, somos malucos e partimos para a briga. Nós vivíamos em uma ditadura, com censura atada a uma violência política e policial muito forte, com torturas e desaparecimento de pessoas. Houve quem fosse colocado em salas com militares, ameaçado de violência por causa da obra, que muitas vezes era censurada. Incoerência também faz parte do nosso viver e conviver. É uma forma de eles se defenderem de forma honesta. Estão expondo um sentimento sincero. Não se pode massacrar os outros, como estão fazendo com grandes nomes da música brasileira. Pode-se discordar de forma educada.

Você deixaria circular pelo mercado uma biografia não autorizada a seu respeito? Tudo o que poderia ser constrangedor para mim já foi publicado. Mas sou careta. Minha biografia não venderia nada, porque não teria a menor graça. Se fizessem, e o conteúdo fosse verdadeiro, não teria o direito de me importar.

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