‘Boyhood’: surge um favorito ao Urso de Ouro

O resultado de um festival de cinema pode ser considerado uma caixinha de surpresas, como gostam de dizer os jogadores de futebol, mas, normalmente, todo mundo sabe quando vê um Urso de Ouro – ou uma Palma de Ouro ou um Leão de Ouro – pela frente. Até a tarde desta quinta-feira, o Festival de Berlim, que anuncia seus vencedores no sábado, parecia repetir o ano passado, quando chegou à cerimônia de premiação sem um Urso de Ouro incontestável. Desta vez, porém, foi diferente. Demorou, mas agora há um favorito ao prêmio máximo: Boyhood (Meninice, na tradução literal), do americano Richard Linklater, o 18º candidato ao Urso de Ouro.

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O filme já havia sido aclamado no Sundance Festival, em janeiro, e foi o único longa-metragem aplaudido com verdadeiro entusiasmo nas sessões de imprensa até agora – dois concorrentes ainda vão ser exibidos nesta sexta-feira.

O projeto, em si, já traz a ousadia necessária a um vencedor do prêmio máximo de um dos três grandes festivais. Durante uma semana por ano, entre 2002 e 2013, Richard Linklater, diretor da trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-Noite, juntou o mesmo grupo de atores para contar a história de Mason (o ótimo Ellar Coltrane), entre as idades de 7 a 18 anos. Enquanto briga com a irmã Samantha (Lorelei Linklater, filha do cineasta), o menino precisa lidar com as dores do crescimento e com as novidades da mãe, Olivia (Patricia Arquette), e do pai, Mason Sr. (Ethan Hawke), que são separados.

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Aloft, de Claudia Llosa (única cineasta na competição a ter ganhado o Urso de Ouro, com A Teta Assustada, em 2009), também fala de relacionamentos familiares disfuncionais. Só que, em vez de uma relação conflituosa entre pai e filho, o problema aqui é entre mãe (Jennifer Connelly) e filho (Cillian Murphy na idade adulta). Nana trabalha numa fazenda, e o pequeno Ivan (Zen McGrath) precisa ajudar a cuidar do irmãozinho, Gully (Winta McGrath), que sofre de uma doença degenerativa. Logo, um curandeiro (William Shimell) chega à cidade, e Nana descobre seus poderes de cura. Aloft tem belas cenas, mas pouca razão de ser.

Outros dois candidatos ao Urso de Ouro usam o cinema de gênero para falar do estado das coisas em seus respectivos países. Stratos, coprodução entre Grécia, Chipre e Alemanha dirigida por Yannis Economides, subverte os filmes de gângster com o personagem-título (interpretado por Vangelis Mourikis), que cumpriu pena em uma prisão e agora tenta reconstruir a vida em uma fábrica de doces. Mas, à noite, ele atua como matador de aluguel. Nem tudo funciona (como as tentativas de fazer humor pela repetição dos diálogos), mas o longa se sai bem ao traçar um paralelo claro entre a crise econômica e de valores na Grécia. É algo parecido com o que faz o chinês Wu Ren Quo (cujo título em inglês é No Man’s Land, ou “Terra de ninguém”, na tradução literal), um western spaghetti visualmente sofisticado dirigido por Ning Hao. O advogado Pan Xiao (Xu Zheng) precisa atravessar 500 quilômetros no deserto para seu próximo julgamento. No caminho, encontra uma série de pessoas sem escrúpulos e motivadas pela ganância – um microcosmo da situação geral de toda a China. Tanto Stratos quanto Wu Ren Quo têm chances de prêmios nesta competição, de modo geral morna.