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One Direction, a boy band 5.0

Grupo britânico se propaga com a velocidade das redes sociais e atualiza o conceito de grupo de garotos. Entenda por que o 1D se diferencia das boy bands de outras gerações e por que não vai tomar o lugar dos Beatles

Por Carol Nogueira
16 dez 2012, 07h09

Em 2010, os ingleses Zayn Malik, Liam Payne, Harry Styles e Louis Tomlinson e o irlandês Niall Horan ouviram do criador do show de calouros The X Factor, o bem sucedido empresário musical Simon Cowell, que teriam um futuro mais promissor se unissem seus talentos do que se fizessem carreira-solo. O quinteto ficou em terceiro lugar no programa, mas foi ali que nasceu o grupo One Direction, hoje com mais de 15 milhões de discos vendidos e uma legião de fãs mundo afora. Eleitos “o” Artista do Ano pela MTV americana, eles são líderes absolutos da nova onda de boy bands e já têm seu sucesso pop comparado com o de outro, histórico: o dos Beatles. Não, não é para tanto. Mas, sim, eles são um fenômeno.

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No último dia 4, a banda, também chamada pelos fãs pela abreviação 1D, se apresentou pela primeira vez no Madison Square Garden. Com capacidade para 20.000 pessoas, é uma das principais casas de eventos de Nova York e seu palco, um troféu para um artista estrangeiro – não à toa, Ivete Sangalo tentou alavancar ali sua carreira internacional. O grupo não apenas subiu a esse palco com ingressos esgotados desde abril. Subiu também com um contrato assinado com a Sony Pictures, que prevê para fevereiro de 2014 um filme em 3D similar aos que foram feitos com Katy Perry e Justin Bieber.

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O sucesso também se traduz em números. Em novembro de 2011, o disco Up All Night se tornou o primeiro álbum britânico a estrear no topo das paradas americanas. O segundo CD da banda, Take me Home, saiu um ano depois, liderando as paradas de 35 países e vendendo 1 milhão de cópias só na semana de estreia.

A ascensão, como se vê, foi rápida: em apenas dois anos, o grupo conquistou coisas que a maioria leva décadas para conseguir. Mas não foi gratuita.

Obsolescência programada

  1. Banda criada em reality show tem vida útil? Representantes do ramo acreditam que sim. Para o produtor musical Rick Bonadio, que gerenciou o conjunto feminino Rouge, surgido no programa Popstars, do SBT, o papel de um grupo como esse é vender disco. Papel, por sinal, cumprido com louvor pela banda do hit Ragatanga. “O Rouge só acabou com o fim do contrato e vendeu mais de 3 milhões de cópias.”

    O fim é, então, iminente para o One Direction? Muito provavelmente, dizem os especialistas. Alexandre Schiavo, presidente da Sony Music Brasil, estipula até o tempo de vida restante do grupo: 1 ano. “É uma banda formada por solistas, que só cantam. Acaba surgindo uma necessidade de cada um partir para carreira solo. Em média, essa configuração de grupo dura três anos.” Segundo ele, a separação é um desejo não só da banda, mas também do público. “Os fãs, em geral adolescentes, crescem junto com a banda, e seus gostos mudam.”

    Vale lembrar, inclusive, que o 1D foi montado no reality show The X Factor, a partir da reunião de cinco garotos, a maior parte deles sem o sonho de ter uma banda. Liam queria ser cantor solo, Zayn queria ser modelo, Louis queria atuar. O fato é: um dia, o One Direction vai se desmembrar. A questão, então, será se os que optarem pela carreira solo serão bons como Robbie William (Take That) e Justin Timberlake (‘NSync) ou mais para um Nick Carter (quem? Ah, aquele dos Backstreet Boys).

A fórmula – Para Alexandre Schiavo, presidente da Sony Music no Brasil, onde a venda foi de 243.500 cópias, o One Direction conseguiu tirar proveito de uma brecha no mercado. “Havia uma demanda reprimida por esse tipo de banda. Até hoje, vendemos anualmente cerca de 100.000 cópias do disco do Balão Mágico”, conta, citando o conjunto que reunia Simony e Jairzinho, entre outros, nos anos 1980. Seja como for, não basta ter espaço, é preciso saber ocupá-lo. E o 1D soube.

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Para começo de conversa, a escalada do grupo teve como guia o experiente Simon Cowell, empresário que respondia pela carreira de grupos como Five e Westlife, populares na onda de boy bands dos anos 1990. Outro fator é o know how da gigante Sony Music, uma especialista em lançar esse tipo de banda no mercado – pense em qualquer boy band de sucesso; sim, foi ela que lançou. A Sony detém a produtora de Cowell, a Syco, que apostou no grupo. Com esse respaldo, o empresário pôde escolher colaboradores certeiros como o produtor RedOne, conhecido por trabalhar com Lady Gaga em todos os seus discos; Rami Yacoub, que produziu o ‘NSync; Kelly Clarkson, que escreveu para a banda o hit Tell me a Lie; e o estreante Jake Gosling, que catapultou à fama o músico Ed Sheeran e acaba de ser indicado a profissional do ano pelo Sindicato dos Produtores. Esses produtores despejaram no caldo pop do 1D as fórmulas do sucesso da maioria dos músicos pop de hoje: músicas feitas para balada, curtição, com um som que varia entre o pop, o rock e o eletrônico.

A essa expertise, se uniu a habilidade para gerenciar a marca One Direction nas redes sociais. No Twitter, a banda já tem 8,4 milhões de seguidores e é um dos 50 perfis mais populares. Para manter a base de fãs crescendo, o grupo lança mão de expedientes como receber sugestões para shows via microblog. No Madison Square Garden, além de hits, teve pedido do tipo “imite uma galinha”.

É ao Twitter que os fãs brasileiros apelam, na tentativa de trazer a banda ao país. Hashtags (palavras-chave) como “#Brazilneeds1D” são tão publicadas que colocam direto o grupo nos trending topics – a lista de assuntos mais comentados no microblog. O movimento é tão intenso que virou piada na série de TV The New Normal, do mesmo criador de Glee e American Horror Story, Ryan Murphy. Em um episódio, um dos protagonistas reclama que o marido deixou de fazer algo importante porque estava “lendo sobre o quanto o Brasil precisa do One Direction.”

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A forte presença na internet é, na verdade, uma ampliação da visibilidade de que o grupo desfruta desde a sua origem. Afinal, ele começou na TV, embalado pela cultura dos reality shows. “Ciente de que o conceito de banda arranjada é pejorativo e de que o conhecimento sobre o AutoTune se propagou, Cowell usou programas criados por ele, como The X Factor e American Idol, para valorizar a habilidade de quem sabe cantar”, escreveu Sasha Frere-Jones, em crítica para a revista New Yorker. E, cantar, os garotos do One Direction de fato sabem.

Segundo o britânico Danny White, autor do livro One Direction – A Biografia, atualmente um dos mais vendidos no Brasil, o reality X Factor não apenas projetou a banda, mas legou a ela um traço especial. “O fato de eles não terem ganhado deu a eles um quê de ‘azarões’, algo que os britânicos amam”, afirmou ao site de VEJA. Já a trajetória nos Estados Unidos, segundo ele, foi planejada milimetricamente. “Eles foram moldados ao gosto americano.”

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Do Reino Unido e dos EUA, se espraiaram pelo mundo. Faça o teste e procure por vídeos da banda se apresentando em um país qualquer. A histeria é exatamente a mesma. Há milhões de adolescentes comprando cobertores, bijuterias, bonecos, óculos, canecas do 1D. A história do grupo também já foi contada em três livros – ao menos, oficiais.

Nada de novo – A história do One Direction pode impressionar. Mas não é nenhuma novidade. Boy bands não surgiram apenas nos anos 1980 e 1990, período de grupos como New Kids on the Block, Backstreet Boys e Menudo. Elas datam de muito antes. A banda americana The Monkees, por exemplo, foi criada para o seriado de mesmo nome, exibido entre 1966 e 1968. E acabou seguindo carreira também fora da TV. Na mesma década, o showbiz aplaudiu o Jackson 5, de Michael e seus irmãos, e os Beatles, com quem o 1D vem sendo comparado.

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O link entre os grupos é feito pelo estouro meteórico e pela grande quantidade de hits que emplacaram nas paradas de sucesso. Mas a comparação não é válida. Primeiro, porque John, Paul e companhia surgiram em uma época em que as pessoas mal tinham TVs coloridas em casa. Outra diferença – um “detalhe” – é que os meninos do One Direction dificilmente vão romper com o estilo que os lançou ou quebrar paradigmas musicais.

Diferentemente até das bandas dos anos 1990, o repertório do 1D é feito de baladas, com batidas eletrônicas e letras que incentivam a curtir a vida – como Live While We’re Young, “Vamos viver enquanto formos jovens”. Vá lá. Os Beatles, em seus anos iniciais, faziam pop com letras bobinhas. Mas eles amadureceram com o rock, a psicodelia e a experimentação. Dificilmente seriam considerados uma das bandas mais influentes da história da música se tivessem lançado apenas músicas como Love me Do. Já o 1D não deve passar disso. No que depender do grupo, não vai ser dessa vez que o quarteto de Liverpool vai ganhar substituto.

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