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Tragédia em Mariana: barragem de Fundão tinha lama da Vale

Acionista da Samarco, maior mineradora do país informou que menos de 5% de seus rejeitos de minério de ferro eram depositados na barragem, diz jornal

Por Da Redação
24 nov 2015, 09h48

A barragem de Fundão da Samarco que se rompeu em 5 de novembro e aniquilou o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), também tinha lama de sua acionista Vale, de acordo com a edição desta terça-feira do jornal Folha de S. Paulo. A maior mineradora do Brasil informou ao jornal que os rejeitos de minério de ferro vinham de uma mina chamada Alegria, que integra um complexo operacional da empresa na região.

A Vale informou que a relação entre ela e a Samarco era “regida por contrato entre as duas empresas, que definia a Samarco como responsável pela gestão, controle e operação dessa deposição” e disse que sua lama correspondia a menos de 5% do total depositado em Fundão. Segundo a mineradora, as outras duas barragens próximas – de Santarém e de Germano – não receberam rejeitos.

Quase vinte dias depois do rompimento das barragens, a Vale não admitiu qualquer responsabilidade, embora seja acionista da Samarco junto com a anglo-australiana BHP Billiton. Juridicamente, a Samarco é responsável pela gestão e manutenção de Fundão.

De acordo com relatos ouvidos pela Folha, o rejeito da Vale era transportado para a barragem por meio de linhas de transmissão, que foram destruídas com a tragédia. A Vale, contudo, disse que a informação não é verdadeira.

Monitorado – Neste fim de semana, a lama desceu o Rio Doce e chegou ao mar do norte do Espírito Santo. Os rejeitos de minério contaminaram a água por onde passou e ameaçam o ecossistema marinho. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que fez um sobrevoo na foz do rio na tarde de segunda-feira no município capixaba de Linhares, o impacto da lama é “muito expressivo” e precisa continuar a ser monitorado “em tempo real”. Ela determinou que esse monitoramento continue a ser feito por pelo menos mais 90 a 120 dias.

“O acidente não acabou”, repetiu a ministra. Ela lembrou que muita lama está retida rio acima e que a temporada de chuvas está apenas começando, o que significa que muitos sedimentos ainda vão escoar para o mar. “Só quando terminar o período de chuvas eu poderei ter uma avaliação concreta do fim do acidente e das medidas efetivas que precisam ser tomadas, além das emergenciais, para a restauração do Rio Doce.” O governador capixaba Paulo Hartung (PMDB), que acompanhou a ministra na visita, reforçou que a “emergência ainda está em curso”.

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De acordo com a ministra e com o governador, outra prioridade indicada foi a de aumentar os esforços de levar informações sobre o acidente às populações ribeirinhas, especialmente relacionadas à qualidade da água, que, segundo as análises iniciais, não é própria para consumo humano direto, mas não é tóxica. “Tem muita gente afobada, muito desencontro de informações”, disse Izabella. “As pessoas estão nervosas, estão inquietas, abaladas. E têm de estar abaladas mesmo porque o acidente é grave.”

A onda de lama lançada no ambiente pelo rompimento da barragem de rejeitos da empresa Samarco percorreu 650 quilômetros – quase toda a extensão do Rio Doce -, até chegar ao mar, formando uma grande mancha de água marrom no oceano. A previsão feita por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe-UFRJ) na semana passada era de que a mancha de lama mais grossa impactaria uma área de nove quilômetros de costa – incluindo parte da Reserva Biológica de Comboios, que protege uma praia usada para desova de tartarugas ameaçadas de extinção.

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“Infelizmente, não há nada mais que se possa fazer para impedir a lama de chegar no mar”, disse o chefe da reserva biológica, Antônio de Pádua Almeida. “Mas rio acima, sim”, completou, chamando atenção para a necessidade de reduzir a quantidade de lama acumulada nas cabeceiras. Até esta segunda-feira, não havia sido detectada nenhuma tartaruga afetada pela lama.

Com base no que viu nesta segunda-feira, Izabella disse que a projeção por enquanto está correta, com a mancha mais espessa concentrada numa área de aproximadamente dez quilômetros ao longo da costa. Havia relatos de extensões maiores, mas que, segundo ela, referem-se a uma pluma de sedimentos mais finos, que tendem a se dispersar mais superficialmente. “O monitoramento está sendo feito; se vai ampliar a mancha, nós vamos saber”, disse a ministra, repetindo que não há previsão de que os sedimentos cheguem ao Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia.

Ao longo da calha principal do Rio Doce, peixes mortos continuam a aparecer, principalmente nos trechos mais próximos a Minas, que foram afetados há mais tempo. Há relatos de que 8 toneladas de peixes mortos já foram recolhidas. Perto da foz do Rio Doce, ainda não havia mortandade generalizada, mas pesquisadores acreditam ser apenas uma questão de tempo, pois a concentração de sedimentos na água é tão grande que “entope” as brânquias dos animais, além de exterminar o plâncton, crustáceos e outros organismos que servem de alimento para eles.

O pesquisador José Augusto Senhorini, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (Cepta-ICMBio), disse que pode haver um intervalo de vários dias entre a chegada da lama e a morte dos peixes – eles levam de dois a três dias para boiar.

Na segunda-feira, durante sobrevoo, foi constatado que há um grande reservatório de água na Represa de Aimorés, na divisa de Minas com o Espírito Santo, que não foi contaminado pela lama e está cheio de peixes. Ele poderá servir de reservatório de vida para repovoamento do rio mais adiante.

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(Da redação)

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