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Carandiru: testemunha diz que PMs colocaram armas entre os mortos

Júri de 26 policiais que participaram da ação no presídio foi começou nesta segunda-feira; ex-detentos afirmam que número de mortos foi maior

Por Da Redação
15 abr 2013, 17h44

Uma das testemunhas da acusação no julgamento de policiais militares envolvidos na ação que deixou 111 detentos mortos, há mais de vinte anos, no antigo presídio do Carandiru, disse nesta segunda-feira que os policiais colocaram armas entre os cadáveres. Antonio Carlos Dias, que estava preso na Casa de Detenção durante a operação, em outubro de 1992, afirmou que o total de mortos foi maior do que o divulgado oficialmente.

Segundo o detento, os presos tinham de “escalar” a pilha de mortos para alcançar o pátio do presídio. O depoimento durou cerca de duas horas. No júri, que começou nesta segunda-feira, serão julgados 26 PMs da Rota.

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Marretadas – A segunda testemunha chamada foi Marco Antônio de Moura, que estava preso no local na época do massacre e também afirmou que o número de mortes ultrapassou as 111 confirmadas pelo governo de São Paulo. Ele relatou que, após levar um tiro no pé, fingiu estar morto em sua cela. Em seguida, disse ter se arrastado até a escada, onde um policial matava detentos a marretadas. “Ele contava um, dois e no três dava uma marretada. Esse cara matou muita gente no poço do elevador. Eles também faziam os cachorros morderem a gente”, disse o ex-detento.

Ainda segundo a testemunha, ao chegar no pátio, os policiais pediram que os feridos levantassem a mão. “Graças a Deus não levantei. Quem levantava foi levado e nunca mais visto.”

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Moura disse ainda que os presos fizeram uma barricada dentro do presídio: portas foram arrancadas e óleo foi jogado no chão para dificultar a passagem da polícia. Alguns dos presos também subiram no telhado para escapar dos PMs. Questionado se ouvia os PMs falarem algo ao entrar no pavilhão, Moura afirmou que eles gritavam: “‘Deus cria, a Rota mata’ e ‘viva o Choque'”.

Depoimento – Outro ex-detento, Luiz Alexandre de Freitas foi a terceira testemunha a depor. Ele relatou que no dia do massacre se escondeu na cela 307-E do Pavilhão 9, embaixo de outros cadáveres, “onde podia sentir o sangue dos mortos”. De acordo com Freitas, os presos não portavam armas e estavam todos com as mãos na cabeça. A maioria dos mortos que ele avistou nas celas ao seu redor estava nu.

Ele identificou entre os réus o policial que teria “poupado” a sua vida por considerá-lo parecido com o próprio filho. “É um policial japonês. Ele disse: ‘Pode ir, porque você é a cara do meu filho'”. A advogada de defesa, Ieda Ribeiro de Souza, perguntou se ele tinha certeza sobre a identificação do policial. “Tenho certeza absoluta”, afirmou Freitas. “Só para constar que o policial reconhecido é o sargento Wlandekis Antônio Cândido Silva”, acrescentou a advogada ao final dos questionamentos.

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Atualmente, a testemunha cumpre pena de 23 anos no presídio de Marília, interior de São Paulo, por seis condenações por roubo.

Agente – Por volta das 16h, foi a vez da quarta testemunha, o agente penitenciário Moacir dos Santos, que à época trabalhava como diretor da Divisão de Segurança e Disciplina da Casa de Detenção, começar a depor.

Ele contou que nos cinco anos em que trabalhou no Carandiru só encontrou “duas armas com presos” e que, na ocasião da rebelião que culminou no massacre, os presos só estavam armados com estiletes, o que entra em choque com a afirmação de alguns PMs à época, que disseram terem encontrado armas entre os presos. “Assim que entraram [os PMs], comecei a ouvir as rajadas”, disse Santos.

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Na saída, ele disse aos jornalistas que “isso aí [o massacre] foi uma covardia danada que fizeram com os presos”.

Perito – Logo após o depoimento de Moacir , foi a vez do perito Osvaldo Negrini Neto, a quinta testemunha do dia, começar a ser ouvido. “Havia muitas poças de sangue no pavimento. O sangue alcançava minhas canelas”, disse o perito, que entrou no Carandiru logo após o massacre.

O perito disse que os policiais presentes no Carandiru não queriam que ele examinasse o local. Quando finalmente entrou, constatou que o número de mortes era bem superior ao que havia sido incialmente divulgado (o primeiro balanço apontava oito presos mortos).

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A testemunha também afirmou que a retirada dos corpos das celas, um ato que foi realizado por presos sobreviventes que receberam a ordem de policiais, prejudicou o trabalho da perícia.

Negrini foi a última testemunha ouvida nesta segunda-feira pela acusação, que optou por dispensar outras nove que seriam ouvidas nos próximos dias. Com a decisão, as cinco testemunhas de defesa devem começar a ser ouvidas na terça-feira, quando o júri será retomado, por volta de 9h.

(Com Estadão Conteúdo – atualizado às 21h30)

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