Testemunha contesta consultores do cartel de trens
Um dos executivos delatores do cartel afirmou nunca ter visto os relatórios de consultoria contratada pela Siemens
O engenheiro eletricista, funcionário da Siemens, Peter Andreas Gölitz – um dos seis executivos delatores do cartel no metrô e trens de São Paulo -, contradisse a consultoria, contratada pela multinacional, de Arthur Teixeira, apontado como lobista das empresas do cartel e intermediário no pagamento de propina a agentes públicos.
Teixeira, que controla a empresa de consultoria Procint, afirma que prestou consultoria no setor metroferroviário e nunca fez lobby. Entretanto, Gölit – que já foi consultor da divisão de transportes da multinacional em 2011 – declarou, em depoimento sob condição de sigilo, que estranhou nunca ter tido acesso a nenhum relatório de serviços prestados pela consultoria.
“O depoente não tomou conhecimento de nenhum relatório de serviço de consultoria prestado pelas referidas empresas de Teixeira. Também causou estranheza ao depoente o fato de que a consultoria deve envolver assuntos técnicos e o depoente, na condição de técnico, não se recorda de ter tido conhecimento de relatórios técnicos de consultoria destas empresas”, anotaram os investigadores a respeito do depoimento prestado no ano passado.
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A Polícia Federal indiciou Teixeira por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro, crime financeiro e quadrilha. Também foi indiciado na Suíça por lavagem de dinheiro. Gölitz saiu em 2011 da divisão de transportes e foi convidado para trabalhar no setor de compliance – área que disciplina os padrões internos de conduta. É o único a permanecer na Siemens entre os seis que assinaram o acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
O engenheiro disse ter desconfiado também de informações frequentes em uma nota fiscal emitida pela MGE Transportes para a multinacional. De acordo com autoridades, a MGE, subcontratada pela multinacional alemã em projetos de metrô e trens, era rota de propina entre pagamentos da Siemens a autoridades brasileiras.
As descrições nas notas destacavam o serviço “treinamento, atualização contínua e despesas de administração” não pareciam corretas, desconfiou o engenheiro ao ser confrontado. Essa suspeita se deve ao fato de o serviço prestado pela MGA à Siemens ser de “manutenção dos trens da série 3000 da CMPTM”.
O criminalista Eduardo Carnelós é a favor do consultor Arthur Teixeira e rebate o depoimento de Gölitz. “Causa-em espécie que uma pessoa (Gölitz) que ocupou cargo tão elevado numa empresa multinacional demonstre desconhecer que a atividade de consultoria não se expressa necessariamente por meio de relatórios escritos.”
Ele afirma ainda que Teixeira “já explicou que, em muitas oportunidades, participou de reuniões para intermediar conflitos e que isso não era objeto de relatório”. “Além disso, na Polícia Federal ele (Gölitz) foi taxativo ao declarar que o Sr. Arthur não teve participação no suposto cartel.”
A Siemens não quis comentar “por questões de confidencialidade”. A MGE confirmou saber “de uma investigação das autoridades governamentais do Brasil sobre a indústria ferroviária”. “A investigação está em andamento, não temos comentários neste momento”, afirmou a empresa em nota.
(Com Estadão Conteúdo)