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Temer e os áudios: por que a Lava Jato preocupa também o governo interino

Expectativa é de que novas gravações apresentem diálogos ainda mais comprometedores para caciques do PMDB – que ajudam Temer a manter o controle do Congresso

Por Carolina Farina e Marcela Mattos
26 Maio 2016, 07h16

Quarenta e um dias separaram as fases 28 e 29 da Operação Lava Jato, deflagradas respectivamente nos dias 12 de abril e 23 de maio. Foi tempo suficiente para que a Câmara dos Deputados aprovasse o prosseguimento do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e o Senado afastasse a petista do cargo. E para que a militância de esquerda se apressasse a espalhar pelas redes sociais a teoria de que a Lava Jato havia arrefecido porque o PT estava fora do poder. Nada mais falso. Não apenas a operação segue irrefreável como seus desdobramentos seguem a preocupar o governo – agora, o do presidente interino Michel Temer. Desde segunda-feira Temer já perdeu um ministro gravado enquanto sugeria um ‘pacto’ para frear a Lava Jato e tem agora diante de si outras duas importantes figuras do PMDB pilhadas em diálogos constrangedores com um investigado pela operação.

Ligado à alta cúpula do partido do presidente interino, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, alvo da Lava Jato, gravou conversas com três caciques do PMDB: o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o senador Romero Jucá (RR) e o ex-presidente José Sarney (AP). Indicado por Renan ao cargo na subsidiária da Petrobras, Machado foi o dirigente que mais tempo se manteve no posto – de 2003 a 2014. Ele acaba de ter seu acordo de delação premiada homologado pelo Supremo Tribunal Federal. O áudio dos diálogos travados com Jucá, divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo na segunda-feira, derrubou o peemedebista do ministério do Planejamento após apenas doze dias no cargo. Mas mais do que o conteúdo já divulgado dos grampos, preocupa a legenda o que ainda está por vir – nos bastidores, avalia-se que novos diálogos devem complicar ainda mais a vida de Renan e até de peemedebistas que se livraram de integrar a primeira ‘lista de Janot’.

De volta com carga total à oposição, o Partido dos Trabalhadores celebra o vazamento dos áudios – ainda que só reconheça potencial destruidor nas gravações de Jucá. A legenda pretende utilizar o conteúdo dos grampos para reforçar o discurso de vitimização de Dilma. Diante de um ministério cuidadosamente montado de modo a garantir apoio no Congresso, até os oposicionistas reconhecem nos bastidores que os áudios devem provocar efeito apenas na opinião pública. Oficialmente, contudo, o discurso é outro: “Esse é mais um fato com que trabalhamos na perspectiva de reverter o afastamento na votação final no Senado. Obviamente, tudo que esse governo interino tem feito até agora tem nos ajudado”, afirma o senador Humberto Costa (PT-PE). Nada indica por ora que Dilma tenha de fato chances de safar-se na votação do mérito.

“Eu não vejo o impeachment como resultado de uma conspiração externa feita por Jucá e companhia. Esse processo é resultado das pedaladas, que levantaram a dúvida sobre o crime de responsabilidade, dos equívocos da Dilma na condução da economia, do excesso de marketing inverídico durante a campanha e a Lava Jato, que mesmo que não tenha nada diretamente, é sempre em torno dela”, diz o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). “Agora, PT e PMDB ficam mais iguais, ou menos diferentes. Assim como José Dirceu, Delúbio, Vaccari e todo esse pessoal do PT terminou preso por causa da Lava Jato, o Temer também começa a ter gente com gravações que são destruidoras para a reputação do seu governo”, avalia.

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Para além dos desafios econômicos, Temer tem agora diante de si uma difícil missão: manter-se perto o suficiente dessas figuras para garantir tranquilidade no Congresso, mas longe o bastante para não prejudicar a própria imagem – desgastada pelos tropeços iniciais de seu governo. Foi assim com Jucá. O agora ex-ministro, um dos maiores articuladores do impeachment, se licenciou do Planejamento afirmando que o fazia por vontade própria, embora no partido a avaliação é de que ele não volte. E já é ventilado como provável novo líder do governo no Senado. Na votação que garantiu ao governo a mudança na meta fiscal, considerada a primeira vitória de Temer no Congresso, Jucá não apenas votou como subiu à tribuna para defender o Planalto e atacar o PT.

Os discursos acalorados contra a atuação de Jucá ajudaram o PT a empurrar por mais de 16 horas a sessão que analisou a nova meta fiscal. Ainda que não tenha comprometido o resultado, a ação mostra que o partido tem potencial para causar dor de cabeça. E deixou evidente a importância, para Temer, de Renan na condução das sessões. Como um ‘trator’, o presidente do Senado encurtou debates e garantiu que a nova meta fosse votada. Na Câmara, Temer escolheu para líder do governo o enrolado André Moura (PSC-SE), importante aliado do notório Eduardo Cunha. Em discurso na segunda-feira, o presidente interino bateu na mesa e afirmou que sabe o que fazer no governo. Lembrou que nos seus tempos de secretário de Segurança Pública em São Paulo “já lidou com bandidos”. É a articulação política em tempos de Lava Jato.

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