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Situação no Itamaraty reflete crise na diplomacia brasileira

Falta de recursos é apenas um dos reflexos da ausência de espaço e de importância que os diplomatas têm no atual governo

Por Da Redação
10 nov 2014, 09h29

Os corredores e salas cheios de obras de arte do Palácio do Itamaraty, em Brasília, andam à meia-luz. Reflexo do regime de contenção de despesas a que a diplomacia brasileira está submetida e também do ânimo dos servidores do ministério. De embaixadores a oficiais de chancelaria, ninguém consegue negar que as Relações Exteriores estão em crise, e nada indica que as luzes voltarão a brilhar com mais intensidade no início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

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A falta de recursos é apenas um dos reflexos da ausência de espaço e de importância que os diplomatas têm no atual governo. O orçamento do ministério, hoje em torno de 1 bilhão de reais, representa 30% do que foi destinado há quatro anos – cerca de 3,3 bilhões de reais. O corte não tem reflexo apenas na meia-luz dos corredores, mas na própria atuação da pasta. As missões de promoção comercial do Itamaraty caíram de 180 no ano passado para 50 em 2014.

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Missões empresariais não são tocadas por diplomatas há mais de dois anos – passaram para o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Viagens foram reduzidas ao máximo dentro das possibilidades de um ministério cuja atividade principal está no exterior. Para evitar ficar de fora de encontros importantes, diplomatas passaram a aceitar passagens de órgãos internacionais, o que normalmente não era feito para evitar comprometimento. Um diplomata, que pediu anonimato, questiona o que fazer quando não se pode viajar, já que os encontros internacionais são uma das atribuições do ministério.

Um dos maiores cortes ocorreu na Agência Brasileira de Cooperação (ABC), sempre tratada como um dos braços mais fortes do “soft power” brasileiro. Os 50 milhões de reais de 2010 passaram para 20 milhões de reais neste ano. Acordos que se encerram não são renovados e novos termos não são iniciados. Diplomatas ouvidos pelo Estado reclamam que a situação da ABC é um dos maiores exemplos de que o espaço obtido em governos passados está sob risco.

Nos 16 anos dos governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a atuação do Itamaraty era mais intensa e, consequentemente, o órgão se sentia mais prestigiado. Se o orçamento não era o adequado, pelos menos sobravam afagos, o que é supria a “carência” dos egos diplomáticos, como brincou um integrante de alto escalão do ministério. Com Dilma, os servidores do Itamaraty sentem falta de recursos, afagos e atenção.

Expansão – Há quem defenda que, apesar de ruim, é um período de ajuste depois de uma efervescência exagerada dos anos Lula, em que em apenas quatro anos foram admitidos 400 novos diplomatas e abertos mais de 100 novos postos no exterior. A expansão criou uma geração de servidores com pouca possibilidade de avanço rápido na carreira e embaixadas e consulados com dificuldade de manter pessoal.

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O desânimo chegou a tal ponto que um grupo de diplomatas defende abrir mão do que até hoje era considerado um ganho: a escolha de um servidor de carreira para chefiar o Itamaraty. Há quem prefira um político, que tivesse a força de um partido, trânsito no Congresso e poder de negociação com a presidente. Comum entre os servidores da outra carreira de nível superior do ministério – os oficiais de chancelaria, que por terem menos peso político e salários menores são os mais atingidos pela falta de recursos -, essa visão chegou aos diplomatas.

A rebelião levou a cenas pouco comuns no Itamaraty, de servidores se dispondo a falar, ainda que reservadamente, contra a gestão do atual chanceler, Luiz Alberto Figueiredo. A defesa do ministro de alguns cortes que estão sendo feitos, que ele classificou de “boa gestão” e “economia de recursos públicos” revoltou diplomatas e outros servidores de todos os andares do Itamaraty.

Soluções – Figueiredo não reconhece que haja uma crise no ministério. Lembra, sempre, que está tentando encontrar soluções, como para o caso dos jovens diplomatas que têm poucas perspectivas de promoção, e que recentemente pediu a todos os servidores propostas para melhorar a situação na Casa. Segundo conta um servidor, esse fato foi bem visto internamente e muitos colegas dele se reuniram para elaborar propostas. Porém, a resposta de Figueiredo não os agradou.

O ministro agradeceu, disse que eram muitas ideias e que seriam analisadas, mas ainda não se sabe o que será feito delas. Para um oficial da chancelaria, há coisas simples que podem ser melhoradas para aperfeiçoar o relacionamento dentro do ministério, como uma corregedoria independente e fim da reserva de mercado de cargos de chefia para diplomatas. Apesar da crise interna e do desejo de vários de seus colegas de que o ministro não permaneça no cargo, por enquanto não há sinais de mudança. Pelo menos no próximo ano, Figueiredo deve continuar no posto.

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(Com Estadão Conteúdo)

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