Sem chuva, nível do reservatório que abastece São Paulo baixa para 17,7%
Alckmin promete investimentos imediatos para uso do ‘volume morto’; custos da operação extrapolam verba prevista para todo o ano de 2014
O nível da água armazenada nos reservatórios do Sistema Cantareira registrou mais um recorde negativo nesta sexta-feira. O índice caiu para 17,7% da capacidade total. A perpectiva é de que a situação continue crítica nas próximas semanas e estudos já estimam que sistema secará em agosto. “A chuva deve voltar hoje, mas não vai adiantar para a Cantareira: são pancadas irregulares, que aparecem de forma pontual e com volume pouco elevado”, afirma o meteorologista César Soares.
A pluviometria acumulada no sistema em fevereiro permanece em 48,7 milímetros, equivalente a 24% da média histórica, de 202,6 milímetros. De acordo com Soares, ao não há previsão de grandes volumes de chuva para a próxima semana. “O início de março não mostra panorama favorável”, afirmou Soares.
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Nível crítico – O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou na quinta-feira que investimentos serão feitos “imediatamente” para lidar com a questão do baixo nível dos reservatórios. As medidas visam a utilização do chamado “volume morto” dos reservatórios, ou seja, parcela de água mais profunda e raramente utilizada, por causa da dificuldade de prospecção. “Vamos fazer imediatamente esses investimentos na Represa do Atibainha e também estamos estudando o uso das bombas de maior profundidade. Não que a gente pretenda utilizar, mas queremos deixar tudo preparado”, afirmou o governador.
Diante da atual crise, a Sabesp trabalha em um planejamento de emergência para explorar o “volume morto”. O uso dessa reserva adicional de cerca de 400 milhões de metros cúbicos exigirá da companhia a compra de novas bombas e a construção de uma infraestrutura capaz de alcançar a água do fundo dos reservatórios.
Gastos – Na avaliação de especialistas do setor, os custos da operação devem extrapolar a verba da concessionária prevista para o ano inteiro, mas compensariam os gastos com um eventual racionamento de água na Grande São Paulo.
De acordo com o professor do departamento de Engenharia Hidráulica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Rubem Porto, é provável que a concessionária utilize um conjunto de, ao menos, dez bombas flutuantes. “Além delas, será necessário também um sistema que traga água até elas conforme o nível do reservatório diminua”, disse Porto, sem estimar o custo do equipamento. “Não é só o custo da bomba, é de energia, de tubulação, de obras complementares. É um custo muito alto”, afirmou José Cezar Saad, coordenador de projetos do Consórcio PCJ – entidade que representa as demais cidades e empresas que dividem a outorga do Sistema Cantareira com a Sabesp.
Saad também alertou para o fato de que a água do “volume morto” tem qualidade inferior, o que elevaria os gastos com tratamento. “A água desse volume morto não tem oxigenação adequada, não tem uma renovação e tem mais sedimentos. É uma água de qualidade inferior e no tratamento serão gastos mais produtos.”
(Com Estadão Conteúdo)