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SC: como começou a onda de ataques no estado

A nomeação de um militar linha dura para a direção do maior presídio catarinense foi o ponto de partida da onda de criminalidade que assola o estado

Por Gabriel Castro, de Florianópolis
18 fev 2013, 13h34

A onda de atentados que tomou conta de Santa Catarina é o ponto mais agudo de um conflito entre o poder instituído e o crime organizado. Mas não foi o primeiro e não vai ser o último dessa guerra no estado.

O conflito teve seu ponto de partida ainda no ano passado. Os detentos se queixavam do rigor do novo diretor do presídio de São Pedro de Alcântara, em Florianópolis – o maior do estado. Sargento do Exército, Carlos Alves tinha fama de rigoroso: acabou com regalias que alguns presos tinham dentro da cadeia. Integrantes do Primeiro Grupo Catarinense (PGC), facção criminosa que atua nos presídios do estado, perderam poder de barganha. Mas a atuação do diretor também envolveu relatos de excessos no trato com os detentos.

Em outubro do ano passado, a mulher de Alves, Deise, foi assassinada, em uma emboscada que aparentemente tinha como alvo o próprio diretor. Era uma represália à atuação do militar. Rodrigo de Oliveira, um dos líderes do PGC, é acusado de ordenar o crime. Ele estava detido em São Pedro de Alcântara. Os criminosos queriam um novo diretor para a unidade.

Apesar disso, o governo preferiu não passar a imagem de que estava cedendo e manteve o militar no comando do presídio. Após a morte de Deise, Rodrigo de Oliveira teria sido agredido por agentes prisionais. Foi quando surgiram os primeiros atentados, no mês de novembro. Carlos Alves acabou afastado do posto, e a situação se normalizou – temporariamente.

Em 25 de janeiro deste ano, em decorrência das investigações sobre a morte de Deise Alves, a polícia prendeu a advogada Fernanda Fleck Freitas. Ela foi acusada de levar a ordem para a execução de Carlos Alves – que acabou resultando na morte da mulher dele. A detenção de Fernanda, que também exercia um papel financeiro importante na quadrilha, é apontada pelas autoridades como o ponto de partida da segunda série de ataques, que teve início em 30 de janeiro. Desde então os criminosos não deram trégua. Já são 111 atentados.

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Resposta – Em 6 de fevereiro, emparedado pela ação dos criminosos, o governador Raimundo Colombo foi a Brasília e pediu auxílio ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Na ocasião, ficou acertada uma operação que envolveria a remoção de presos para unidades federais e o envio da Força Nacional de Segurança ao estado. A data definida foi 17 de fevereiro, o primeiro domingo depois do Carnaval. As autoridades não quiseram correr o risco de provocar distúrbios durante o feriado, quando o litoral do estado recebe milhares de turistas.

Durante dez dias, Colombo e Cardozo omitiram a decisão sobre a ida da Força Nacional ao estado. Eles queriam evitar que os criminosos pudessem se preparar para tentar impedir a operação que, antecipada em um dia, ocorreu em 16 de fevereiro. “As pessoas precisavam achar que nós estávamos meio inativos”, diz Colombo.

A polícia catarinense prendeu, nas primeiras horas de operação, 25 pessoas – inclusive quatro advogados. Quarenta presos, ligados aos ataques foram removidos para unidades federais. Destes, 22 estavam no presídio de São Pedro de Alcântara. Rodrigo de Oliveira integra a lista de transferidos. Além disso, patrulhas foram montadas nas divisas do estado.

Tráfico – Mas, como mostram os cinco ataques registrados após a força-tarefa, a desarticulação do crime organizado vai exigir mais das autoridades. Uma das principais fontes de lucro dos criminosos é a venda de drogas sintéticas. Florianópolis, famosa por suas casas noturnas, atrai turistas jovens e com alto poder aquisitivo. Parte deles ajuda a alimentar o crime ao consumir ecstasy e LSD. O estado também é considerado um centro de distribuição desse tipo de droga para outras regiões do país. É um dos preços a pagar pelo crescimento da capital catarinense.

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Outra parte dos crimes pode ser atribuída à rápida expansão demográfica de Florianópolis: a topografia da cidade, repleta de morros, lembra a do Rio de Janeiro. E, embora não haja regiões da cidade inacessíveis à polícia, algumas áreas se transformaram em território do tráfico. Uma delas é o Morro do Horácio, onde o criminoso Rodrigo de Oliveira e seus comparsas se organizaram.

O governo já tinha informes de que os criminosos iriam se movimentar: 3 de março é o aniversário de dez anos do Primeiro Grupo Catarinense. Mas, no meio de tantos relatos, obtidos com a monitoração dos celulares que funcionam dentro de presídios, não foi fácil detectar o que eram ameaças reais.

Santa Catarina, um dos estados mais seguros do Brasil, sempre teve a fama de tratar com rigor os seus presos. Agora, as autoridades locais tentam separar os autores de pequenos crimes (cerca de 4.000 dos 17.000 detentos do estado) para evitar que eles passem a integrar a cadeia de comando de bandidos mais perigosos.

O governo também já decidiu que vai construir uma unidade prisional com Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). Mas não revela o local para evitar reações antecipadas dos moradores. Sinal de que a guerra será longa.

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