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Receituário médico e escutas incriminam pai de Bernardo, diz polícia

Comprimidos do analgésico midazolam, o mesmo que sedou Bernardo, foram comprados com uma receita assinada pelo pai do menino

Por Isabel Marchezan, de Três Passos (RS)
13 Maio 2014, 18h08

Escutas telefônicas e um receituário médico, além da confissão da assistente social Edelvânia Wirganovicz, foram os principais indícios apresentados pela Polícia Civil na tarde desta terça-feira para justificar o indiciamento do médico Leandro Boldrini e da mulher dele, a enfermeira Graciele Ugulini, além da própria Edelvânia, pelo assassinato do menino Bernardo Boldrini.

Os três (pai, madrasta e uma amiga dela, respectivamente) foram indiciados por homicídio qualificado e ocultação de cadáver. Eles estão detidos desde o dia 14 de abril, e a prisão preventiva deles já foi solicitada. O inquérito policial foi entregue à Justiça, e o Ministério Público de Três Passos deve se manifestar, denunciando-os ou não à Justiça, até o final desta semana.

A polícia descartou a hipótese de que o crime foi motivado pela herança a que Bernardo tinha direito desde que a mãe dele se matou, em 2010. Um dos qualificadores do crime de homicídio é a desarmonia entre a família: Leandro e Graciele não gostavam de Bernardo, que atrapalhava a vida do casal. Os outros qualificadores são a promessa de recompensa (para Edelvânia), o motivo fútil (mau relacionamento familiar), o meio insidioso (aplicação de injeção letal) e dissimulação e impossibilidade de defesa da vítima (para levá-lo a Frederico Westphalen, Graciele mentiu que comprariam o aquário que Bernardo tanto queria).

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Mais de cem depoimentos foram anexados ao inquérito. Segundo a delegada Caroline Bamberg Machado, o crime vinha sendo premeditado desde janeiro, quando Graciele procurou uma amiga que não via há quatro anos e disse que ela e Leandro queriam matar Bernardo, e que só faltava “um poço para enterrar”. Essa amiga procurou a polícia espontaneamente para relatar o encontro depois do desaparecimento do garoto. Para a polícia, é um indício de que a enfermeira já planejava assassinar o enteado e procurava uma cúmplice. A amiga rechaçou a ideia e, então, Graciele fez a oferta a Edelvânia. O primeiro contato entre as duas foi no dia 12 de fevereiro.

Em depoimento no dia 14 de abril, a assistente social contou à polícia que ela e Graciele escolheram o lugar para esconder o corpo no dia 2 daquele mês. Na mesma data, compraram uma pá e uma cavadeira, para fazer a cova, e soda cáustica para desintegrar e evitar mau cheiro no corpo. As aquisições foram comprovadas por notas fiscais colhidas pela polícia. Também naquela quarta-feira, Edelvânia foi a uma farmácia em Frederico Westphalen e comprou comprimidos do analgésico midazolam, do tipo tarja preta, com uma receita nominal a ela assinada por Leandro Boldrini – o documento está com a perícia para confirmar a autenticidade da assinatura do médico.

Dois dias depois, segundo este depoimento, Graciele foi com o menino a Frederico Westphalen, a 80 quilômetros de Três Passos, onde viviam. Dopou o menino com o analgésico e depois aplicou uma “injeção letal”. Ela e Edelvânia enterraram o menino à beira de riacho. A injeção pode ter sido de midazolam, a única substância por enquanto detectada pela perícia nos restos mortais do garoto. A versão injetável estava disponível no consultório de Leandro no Hospital de Caridade de Três Passos, e de lá, segundo a investigação, algumas ampolas desapareceram naquela mesma semana.

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Segundo o depoimento, Graciele pagou a Edelvânia 6.000 reais para ajudar no crime, e prometeu ainda quitar o apartamento que a assistente social havia comprado recentemente. Cerca de duas semanas depois, o advogado de Edelvânia desmentiu a versão de sua cliente. Demetryus Grapiglia afirma que Edelvânia foi pressionada pela polícia e assinou o depoimento sem realizar uma leitura, e que, na verdade, a morte do menino foi acidental.

A mesma versão de acidente foi apresentada por Graciele em depoimento no dia 30 de abril, segundo o qual ela deu apenas comprimidos para Bernardo “se acalmar” na viagem a Frederico Westphalen, mas a superdosagem acabou na morte do enteado. Graciele e Edelvânia isentam assim Leandro Boldrini de participação no crime, mas, para a polícia, ele é também mentor do assassinato. O inquérito inclui escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, nas quais, conforme a delegada Caroline, familiares de Leandro e de Graciele “combinam” esta versão. Segundo Caroline, fica claro que ambas assumiriam o crime para que Leandro, o mais abonado financeiramente, fique livre e possa “bancá-las”. “Se ele fosse inocente, precisaria arquitetar uma defesa?”, observou a delegada. Ela disse ainda que as famílias, em depoimentos à polícia, deram versões diferentes para os fatos flagrados nas escutas.

O defensor de Leandro, Jader Marques, afirma que não há tais diálogos nas escutas, e sustenta que seu cliente inclusive tentou agredir Graciele quando ambos foram presos, ao saber que seu filho estava morto. “Ele era um pai omisso, mas não há elementos concretos (contra Leandro). Dos cem depoimentos a que tive acesso, dezoito falam do bom relacionamento do Leandro com o Bernardo, e que ele gostava muito do pai. E sete dizem que Graciele se fez de amorosa no começo (do casamento), e depois começou a ser má com o menino.”

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Demetryus Grapiglia, advogado de Edelvânia, e Vanderlei Pompeo de Mattos, defensor de Graciele, não retornaram as ligações da reportagem para comentar os indiciamentos.

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