‘Questão sobre divisão territorial do Pará decidirá eleição’
Governador Simão Jatene (PSDB), que tenta a reeleição acusa o adversário, Helder Barbalho (PMDB), de apontá-lo como defensor da divisão do Estado
Candidato à reeleição no Pará, o governador Simão Jatene (PSDB) enfrenta um segundo turno acirrado depois de ter iniciado a disputa como favorito. Para o tucano, o ponto de inflexão na campanha foi a inclusão no debate eleitoral da divisão territorial do Pará, que motivou um plebiscito em 2011 – a maioria dos paraenses votou contra o desmembramento do Estado em três unidades da federação. Jatene afirma que a campanha do adversário, Helder Barbalho (PMDB), partidarizou a discussão. Apesar de nunca ter se posicionado publicamente se é a favor ou contra a divisão, o tucano foi atingido pela estratégia do peemedebista de apontá-lo como defensor da separação. Leia a entrevista ao site de VEJA.
Como o senhor explica uma eleição tão equilibrada no Pará? No processo eleitoral, as pesquisas mostravam que iríamos ganhar no primeiro turno, mas, na última semana, a coisa deu uma virada dramática por causa da questão da divisão do Estado. Essa é uma discussão que o país precisa ter, se a criação de novos Estados é tema de plebiscito na unidade federativa que tem uma parte que quer se desmembrar. O publicitário Duda Mendonça foi o marqueteiro do plebiscito e, em uma das peças publicitárias, mostrava o rosto de pessoas levando um tapa em câmera lenta, como se os paraenses que não queriam a divisão estariam agredindo os que queriam. Fiquei indignado com isso e escrevi um manifesto, não me posicionando nem contra e nem a favor, mas dizendo que este Estado não era uma rinha (Duda Mendonça é conhecido por apreciar rinhas de galo). Foi quando eu me tornei o algoz de quem defendia a separação do Estado.
Como a campanha adversária levou essa discussão adiante? De uma maneira pouco criativa, com panfletos com uma foto minha riscada ao meio com o slogan: “Diga não ao Simão do não”. Isso reeditou o clima de agressividade imposto pela campanha publicitária do Duda Mendonça. Então, a discussão em torno da divisão do Pará foi partidarizada, o PSDB passou a representar a capital e região metropolitana de Belém e a oposição as regiões separatistas.
Foi oportunismo? Foi oportunismo puro porque a coligação liderada por Helder Barbalho escolheu o Lira Maia, candidato do DEM, partido aliado do PSDB nacionalmente, que tinha capitaneado a divisão em 2011 como vice da chapa. Como não podiam explicitar a reedição dessa discussão nas eleições, porque o povo já havia rejeitado a criação dos novos Estados no plebiscito, a campanha adversária começou a acusar o meu governo de ter abandonado justamente as regiões separatistas. Mas isso não tem correspondência com a realidade porque investimos muito no sul e sudeste do Pará. O mapa da votação do primeiro turno repete o desempenho do plebiscito, no sentido que eu tive mais votos em redutos contrários à divisão e o adversário nos favoráveis.
Como combateu essa estratégia? Havia dois caminhos: ou referendar essa divisão do Estado ou combater a acusação de que abandonamos o Sul e Sudeste do Pará. Seguimos a segunda opção e foi o que levou a disputa ao segundo turno, senão teria sido pior.
Quais obras foram citadas na campanha para combater essa tendência? Há uma que tem bem essa marca da integração que é a rodovia PA-150, o principal eixo norte-sul do Pará. Nós reconstruímos a estrada até Marabá no limite com o trecho de concessão do governo federal, que não mexeu na parte restante. Então, usamos esse argumento para dizer que quem abandonou o Pará foi o governo federal, aliado de Helder Barbalho. Foi aí que conseguimos frear a maluquice. Outro ponto foi o nosso projeto de instituir os centros regionais de governo para mostrar que nosso governo é o que melhor pensa esse Estado de forma integrada.
O senhor é contra ou a favor da divisão? A divisão territorial do país deve ser feita, mas não em apenas um Estado como uma cobaia para ver o que acontece. Plebiscito acirra conflito. A União deveria fazer um estudo nacional sobre o recorte territorial do Brasil que constate a mudança cultural de determinadas regiões. Essa é uma atitude que tem que partir da República.
Se eleito, como pretende resolver essa questão do separatismo? Levar investimento para essas regiões que querem se separar para reverter a sensação de abandono por parte do governo estadual. E levar ao Congresso um projeto de lei que reveja a divisão territorial do país para evitar aventuras como essa que temos aqui no Pará.