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PT versus PT: o que importa mesmo é o projeto do poder

Entrevista explosiva da senadora pavimenta caminho de saída do PT e, ao mesmo tempo, prepara discurso do ex-presidente para 2018

Por Gabriel Castro, de Brasília
12 jan 2015, 20h38

A entrevista da senadora Marta Suplicy neste fim de semana escancarou a divisão no PT entre um grupo lulista e aqueles que orbitam em torno de Dilma Rousseff. Não há dúvida que, nos termos fortes em que Marta expôs o quadro, há uma história cheia de drama a esmiuçar sobre a dinâmica interna do partido que ocupa o poder. Mas, a um passo de distância, a divisão atual nada mais que é uma reedição, em ponto grande, das velhas divisões entre tendências petistas: algumas mais radicais, outras mais moderadas, algumas mais ideológicas, outras mais pragmáticas, e assim por diante. Para todos os efeitos que realmente interessam, a discussão é sobre como o PT pode se manter no governo por mais um período de oito anos depois de encerrado o mandato de Dilma. O “projeto de nação”, como disse a presidente em seu discurso de posse no segundo mandato, continua sendo o mesmo. Ou melhor: o projeto de poder. Por trás de todo o ‘bafafá’, o que interessa ressaltar é mesmo o desejo de continuidade. Dilma foi criada por Lula. Se ele se distancia momentaneamente dela, pode também reaproximar-se no futuro. O único calculo que realmente interessa é a possibilidade de manter o partido no poder. E então recontar a história dos mandatos sucessivos da maneira que parecer mais interessante para a hagiografia petista.

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Marta, que era Ministra da Cultura até novembro, desatou nos últimos dias a criticar colegas de sigla e a gestão de Dilma Rousseff. Em uma entrevista publicada no último sábado pelo jornal O Estado de S. Paulo, ela fez comentários sobre a presidente em um tom que nenhum petista de alto escalão havia usado até agora. E jogou para os holofotes uma disputa que era feita internamente, de forma velada: Lula busca construir um discurso que sustente sua candidatura e pemita que ele se desvincule da imagem de DIlma.

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Na entrevista, Marta admitiu que defendia o lançamento do ex-presidente Lula na disputa presidencial de 2014 e disse que a presidente Dilma não agiu quando era preciso para evitar problemas na economia: “Não se engendraram as ações necessárias quando se percebeu o fracasso da política econômica liderada por ela”, afirmou ela em um dos vários ataques desferidos.

As declarações de Marta têm duas indicações claras: a primeira é a de que ela não deve mesmo permanecer no PT. Ao deliberadamente atingir a presidente (como já tinha feito há poucos dias, quando criticou o ex-ministro Alexandre Padilha e o ministro Juca Ferreira com termos pesados), ela demonstra ter decidido por um caminho sem volta rumo a outro partido.

O segundo sinal transmitido pela senadora partiu do ex-presidente Lula. Ele nunca deixou a posição de líder máximo do PT; uma figura como Marta, muito ligada a ele, não traria a público conversas privadas com o petista sem o consentimento, tácito ou explícito, de Lula.

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Sobre o primeiro recado de Marta, as razões parecem ser de natureza pragmática. Ela quer disputar a prefeitura e, eventualmente, um cargo maior em 2016. No PT, acredita que não terá o espaço devido. Como ela mesma afirma na entrevista, imaginou que pudesse ser candidata à Presidência em 2010, sucedendo Lula. “Sempre achei que ia acabar ficando meio de fora das coisas, talvez pela origem, talvez por ser loura de olho azul, não sei”. Agora, a senadora pode ir para o PMDB, PSD ou até mesmo para o Solidariedade. A mudança, entretanto, pode lhe render um processo de perda do mandato por infidelidade partidária. Se conseguir convencer a Justiça Eleitoral de que está sendo cerceada no PT, pode migrar e continuar com o cargo de senadora.

Já as referências a Lula deixam claro que, num momento de fragilidade do governo, o ex-presidente coloca seu time em campo para construir o discurso de que ele tentou evitar os fracassos do governo Dilma mas não foi ouvido. É uma forma de se precaver das eventuais consequências maléficas que um mau resultado no segundo mandato de Dilma pode trazer à campanha petista em 2018. A polarização entre dilmistas e lulistas, entretanto, não passa de uma disputa de poder que interessa muito ao PT e muito pouco ao Brasil. Os métodos, as ideias e grande parte dos personagens são os mesmos.

Dentro do PT, a ordem é evitar o bate-boca com Marta para impedir que um aprofundamento do embate respingue tanto em Dilma quanto em Lula. “Acho que o PT tem de cuidar da sua vida. Nós temos uma agenda em curso. Não podemos ficar polemizando com quem quer sair”, diz o deputado José Guimarães (PT-CE), vice-presidente do partido.

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Mas o ministro da Cultura, Juca Ferreira, não deixou de responder às críticas que sofreu de Marta. Nesta segunda-feira, afirmou que a senadora “quis atirar em Deus e acabou acertando no padre de uma paróquia”. O site oficial do partido deu destaque às declarações de Juca e usou a palavra “crise” para definir o episódio. Se o próprio PT reconhece, é porque a estratégia de Marta parece ter funcionado. Até agora, Lula, o principal personagem da trama, segue em silêncio.

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