Polícia Civil vai passar a analisar imagens de operações
Delegada Martha Rocha determina que comissão faça protocolo das gravações para inibir abusos como os que mostram alguns vídeos vazados recentemente
A gravação de operações é uma prática comum na Polícia Civil do Rio de Janeiro, que teve início em 2010. Mas nunca houve uma determinação clara sobre o que deveria ser feito com esse material – nem sequer qual ação deveria ser de fato filmada. Todas as decisões ficavam a cargo dos próprios inspetores do Serviço Aeropolicial (Saer). Não se sabe por exemplo quem deve ter acesso às imagens, quem tem a obrigação de verificar o que foi gravado para analisar possíveis excessos ou por quanto tempo cada vídeo deve ficar armazenado.
Na manhã desta segunda-feira, a chefe de Polícia Martha Rocha prometeu mudar isso. Foi preciso, claro, que vazassem imagens de operações mostrando abuso cometidos por policiais. Agora, a delegada quer normatizar o uso dos equipamentos, com a ajuda de uma comissão. “O novo órgão vai estabelecer um protocolo para analisar as imagens das operações com o interesse de avaliar o passado e de projetar o futuro. Como não havia essa rotina, permitia que a decisão de analisá-las fosse algo pessoal”, afirmou, em coletiva à imprensa.
Em um dos vídeos, divulgado neste sábado pelo Jornal Extra, policiais que estão em um helicóptero e traficantes escondidos em um bar trocam tiros por seis minutos. Quando os disparos cessam, o helicóptero desce, e policiais veem três corpos. Apesar de constatar que os bandidos estão mortos e comemorar, os policiais dizem que vão socorrer os feridos. Próximo dali, agentes encontram um homem morto, desarmado, e carregam o corpo até o bar, por 70 metros. As imagens, de 16 de agosto de 2012, foram captadas por câmeras instaladas no próprio helicóptero e no capacete de um dos policiais.
Leia: Corregedoria investiga ação policial em tiroteio no RJ
Investigação – De acordo com Martha Rocha, o inquérito instaurado na 36ª DP, que apurava os autos de resistência na Favela do Rola, em Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade, foi transferido nesta segunda-feira para a Corregedoria Interna (Coinpol). Por determinação da chefia de polícia, parentes dos cinco mortos na operação estão sendo ouvidos. Um dos objetivos é verificar se as duas vítimas que não tinham passagens pela polícia tinham algum envolvimento com o tráfico de drogas.
“Todos os policiais que estavam na operação na favela da Rola serão ouvidos novamente. Vamos refazer a conduta de cada pessoa e identificar quem é o policial que carrega o corpo. Também identificaremos de quem é o corpo que está sendo carregado”, afirmou o delegado da Coinpol, Glaudiston Galeano – que vai presidir a nova comissão. Em nota divulgada no domingo, Martha Rocha afirmou que os envolvidos “terão punição exemplar” porque “a Polícia Civil não compactua com erros nem excessos”.
Reincidência – É a segunda vez em uma semana que uma operação em favelas da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), a tropa de elite da Polícia Civil fluminense, é questionada após o vazamento de vídeos. No dia 5 de maio, o Fantástico, da TV Globo, exibiu imagens da ação na Favela da Coreia que resultou na morte do traficante Márcio José Sabino Pereira, o Matemático. O vídeo mostra agentes da Core, em um helicóptero, atirando no carro onde Pereira estava, embora pessoas e prédios estivessem na linha de tiro.