A decisão do PMDB de romper com o governo Dilma Rousseff deixou uma brecha para os ministros do partido e comissionados na administração federal: eles não têm um prazo para deixar os cargos, embora estejam sujeitos a processo disciplinar que pode resultar na expulsão da legenda. Ao anunciar a aprovação da moção de ruptura com o PT, o senador Romero Jucá (RR) disse que a partir de agora ninguém no país está autorizado a exercer qualquer cargo federal “em nome do partido” – ou seja, é possível que algum ministro alegue ser da cota pessoal da presidente Dilma para permanecer.
Aliados mais próximos do vice-presidente da República, Michel Temer, como o deputado Baleia Rossi, presidente do diretório paulista, dizem que o comando peemedebista “não aceitará licenças temporárias da filiação” e cobram o desembarque “imediato”. Até agora, apenas o ministro Henrique Eduardo Alves (Turismo) entregou carta de demissão a Dilma. O breve ministro da Aviação Civil, Mauro Lopes, deve comunicar sua saída ainda nesta terça-feira à presidente – ele já disse ao partido que vai deixar o posto, assim como Helder Barbalho (Portos). Há resistência principalmente entre Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Marcelo Castro (Saúde) e Kátia Abreu (Agricultura), além de Eduardo Braga (Minas e Energia). A ministra da Agricultura, uma das mais próximas de Dilma, já está em busca de um novo partido.
“Cada cabeça tem uma sentença. A cabeça da maioria do partido hoje escreveu a seguinte sentença: o PMDB não participa da base do governo e nenhum militante do PMDB está autorizado, em nome do partido, a participar do governo. Essa é a sentença e isso vai ser respeitado”, disse o ex-ministro Moreira Franco, presidente da Fundação Ulysses Guimarães. “Acho que dar um prazo era uma coisa razoável, ministro não pode sair batendo porta deixando assuntos importantes por resolver.”
Por enquanto, as bancadas do PMDB na Câmara e no Senado estão livres para votar no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Nos bastidores, porém, a cúpula do PMDB vai trabalhar pelo impeachment, que levaria Temer ao Planalto. O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, apadrinhado por Temer no partido e declarado opositor da aliança com o PT, disse que “a próxima campanha é a do impeachment de Dilma”. “O PMDB tem o sentido da urgência, mas não é precipitado. Ainda não tem uma unidade que permita tomar uma posição por aclamação”, afirmou Moreira Franco.
Na reunião com 102 integrantes do Diretório Nacional, foram ouvidos gritos “Brasil pra frente, Temer presidente” no plenário, apesar da ausência calculada do vice de Dilma. “O partido vai para a independência”, disse o ex-ministro Eliseu Padilha. A ex-governadora do Maranhão Roseana Sarney, investigada na Operação Lava Jato, afirmou que “o PMDB está no timing certo”.