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Perillo terá de explicar, afinal, quantas vezes vendeu sua casa

Incoerências nos depoimentos levam parlamentares da comissão a supor que o governador de Goiás recebeu pelo imóvel mais dinheiro do que declarou oficialmente

Por Laryssa Borges e Gabriel Castro
6 jun 2012, 07h21

Após sucessivas contradições do empresário Walter Paulo Santiago, que prestou depoimento à CPI do Cachoeira nesta terça-feira, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), terá a responsabilidade de explicar à comissão – e tentar convencer os parlamentares – como foi a verdadeira venda em 2011 de uma mansão sua em Goiânia. O mistério que envolve a mudança de donos da casa é emblemático porque foi nesta mansão que o contraventor Carlinhos Cachoeira, cujas atividades criminosas com autoridades públicas motivaram a criação da CPI, foi preso em fevereiro pela Polícia Federal.

O depoimento de Perillo à comissão de inquérito está agendado para o próximo dia 12. Com a paralisação do Congresso nesta semana por causa do feriado de Corpus Christi, a CPI não fará nenhuma reunião até a oitiva de Perillo. Vão se acumular no colegiado, portanto, requerimentos para o acesso a dados confidenciais do governador e para a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de duas empresas ligadas a Walter Paulo Santiago: a Faculdade Padrão e a Mestra Administração e Participações.

Durante suas explicações à CPI, Walter Paulo disse ter comprado a casa do governador tucano, mas apresentou pelo menos três versões sobre a origem dos 1,4 milhão de reais que foram aplicados na aquisição do imóvel: disse num primeiro momento que não poderia precisar de onde saiu o dinheiro, declarou depois que o caixa foi formado recolhendo recursos de diversas de suas empresas e, por fim, defendeu que o montante foi retirado exclusivamente da Faculdade Padrão, da qual é dono.

As inconsistências na versão sobre a origem do dinheiro aplicado na compra da mansão acenderam na CPI hipóteses de que o governador Marconi Perillo poderia até ter recebido duas vezes pela venda da casa: uma por meio de três cheques (dois de R$ 500 mil e um de R$ 400 mil) emitidos pela empresa Excitant Confecções Ltda, de uma cunhada de Carlinhos Cachoeira, e outra vez, na versão de Walter Paulo, em “pacotinhos” com notas de 50 e 100 reais, ou, nas palavras do depoente, “uma coisica de nada” que pode ser transportada em “qualquer caixinha”.

O desencontro de versões ficou tão evidente que motivou especulações sobre o valor pago pela casa. Até aliados de Perillo saíram da reunião desta terça-feira sem acreditar na história apresentada por Walter Paulo. Há a suspeita de que parte do pagamento foi feita por fora, e que apenas 1,4 milhão de reais foi declarado. Mas os tucanos insinuam que a culpa seria de Wladimir Garcez, a quem o governador confiou a responsabilidade de negociar a casa.

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Para justificar a desconfiança, os parlamentares citam um diálogo, obtido pela Polícia Federal, em que Cachoeira faz menção ao que seria o valor real do imóvel: 2 milhões de reais.

O entendimento de congressistas da CPI é que, diante da dificuldade de Walter Paulo explicar a compra da casa, a Mestra, da qual o empresário diz ser administrador, embora sem receber nada por isso, deve ser uma empresa laranja. A mansão que foi de Marconi Perillo está registrada em nome da Mestra, apesar de o dinheiro utilizado na aquisição da casa não ter saído dos caixas da empresa.

De acordo com o empresário, a Mestra tem capital social de R$ 20 mil e, portanto, não teria caixa para comprar a mansão do governador. Desde 2006, quando foi fundada, a empresa só fez dois negócios, o que, na avaliação dos parlamentares, indicaria que a empresa é apenas de fachada. Ainda assim, Walter Paulo disse que, por meio da Faculdade Padrão, desembolsou 1,4 milhão de reais para a compra da casa – fora 100 000 reais de comissão ao ex-vereador Wladimir Garcez – para adquirir o imóvel “como investimento” da Mestra. Ele disse ser administrador da empresa, de graça, “para ajudar”.

Também em depoimento à CPI, realizado há 12 dias, o ex-vereador do PSDB, Wladimir Garcez, comparsa do contraventor Carlinhos Cachoeira, deu mais ingredientes para o choque de versões sobre a casa. Disse ter comprado o imóvel de Marconi Perillo com a intenção de morar nele e que o valor de 1,4 milhão de reais foi pago em três cheques pelo ex-diretor da construtora Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu.

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A versão do governador sobre a venda da mansão é a de que Wladimir Garcez era apenas o intermediador da transação e que o dono da casa seria mesmo Walter Paulo. “Só há uma versão, a verdadeira dos fatos”, disse Perillo em nota.

PSDB x PT – O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) diz ter ficado satisfeito com as explicações de Walter Paulo: “Em nenhum momento o governador participou das negociações. Ele agiu de boa-fé”, diz.

Na base aliada, o clima é outro: “A situação do governador Perillo se complicou, porque pode ser que esse dinheiro depositado não seja para o pagamento da casa”, diz o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), diz que os depoimentos conflitantes lançam novas possibilidades para o caso: “O governador pode ter recebido duas vezes pela venda da casa”, especula.

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