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Para não ser uma vítima do ladrão, pense como ele

A sensação de vulnerabilidade invadiu o lar do paulistano com as ondas de arrastões a condomínios e residências em bairros nobres. Entender como os bandidos planejam esses crimes ajuda a não se tornar uma vítima do medo

Por Cida Alves e Marina Pinhoni
23 jul 2012, 07h58

Depois de uma série de crimes dentro de condomínios e residências em bairros nobres da cidade de São Paulo, nos últimos meses, os moradores se depararam com o pesadelo de se sentirem vulneráveis em suas próprias casas. A empresária Raquel Lucat, de 48 anos, é síndica de um prédio em Higienópolis, um dos focos de arrastões de bandidos. Junto com outros moradores, está providenciando a troca do antigo sistema de câmeras por um com infravermelho, capaz de alcançar até o outro lado da rua.

Os roubos passaram a acontecer também em bares e restaurantes da vizinhança, forçando Raquel a mudar de rotina. Deixou de ir à sua pizzaria preferida no bairro e passou a pedir comida para entrega. Com o tempo, voltou a frequentar o comércio local, mas precavida. “Antes, gostava de me arrumar e usar joias para sair. Agora vou a pé e, algumas vezes, visto moletom e tênis para não chamar a atenção”, afirma.

Para moradores como Raquel, a sensação de medo na maior metrópole do país já é constante e pode até levar ao isolamento. Algo compreensível, já que os bandidos estão mais organizados e agressivos. “Não é mais aquele ladrãozinho que entra na casa vazia e leva uma dúzia de coisas, mas quadrilhas especializadas e fortemente armadas, geralmente originárias de outros crimes, como assaltos a bancos e carros-fortes”, explica o especialista em análise e gestão de risco e diretor-presidente da RCI First Security and Intelligence Advising, Ricardo Chilelli. Apesar disso, medidas simples podem minimizar o poder de ação desses grupos. O primeiro passo é saber como os bandidos pensam na hora de agir e se antecipar.

Para tentar desvendar a mente dos ladrões, o especialista contou com a ajuda de advogados e familiares de presos para realizar uma pesquisa com 397 ladrões de residências. No estudo, concluído em maio, também foram ouvidas 419 vítimas e inspecionados 512 imóveis invadidos em São Paulo, Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. No resultado, identificou os principais pontos que fazem de uma residência alvo de bandidos (veja na infográfico).

No caso de arrastões semelhantes aos registrados em condomínios de bairros como Morumbi, Higienópolis e Itaim Bibi, Chilelli explica que oito em cada dez ocorrências apresentam fortes indícios de que houve vazamento de informações privilegiadas, vindas de funcionários ou ex-funcionários, prestadores de serviço e até ex-moradores.

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Quando não há informantes, há olheiros: bandidos que observam por dias a rotina do local. Pode ser um motorista que demora horas trocando o pneu em frente ao prédio ou um ambulante que está na rua o dia inteiro sem vender nada. Para intimidá-los, câmeras voltadas para a rua.

Os horários prediletos dos bandidos são entre 6 e 8 horas da manhã e 18 e 20 horas. São nesses momentos que funcionários ou moradores estão chegando ou saindo. E há mais chances das pessoas estarem em casa. Porque, diferentemente do que se pensa, os ladrões atuais preferem ter os moradores nas residências na hora do crime. “Assim eles têm alguém para abrir o cofre rápido e mostrar onde estão os objetos de valor, além de não correrem o risco de serem surpreendidos por um morador chegando”, explica Chilelli.

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Isolamento – É unânime entre os especialistas em segurança que as “casas fortaleza” dão uma falsa sensação de proteção e, em alguns casos, podem facilitar a ação dos bandidos. Muros enormes protegem o ladrão quando ele está dentro da casa, impedindo que alguém passando pela rua perceba que um crime está ocorrendo.

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“A pessoa acha que quanto mais escondida, mais segura está, quando acontece o contrário”, explica o comandante-geral da Polícia Militar do Paraná e especialista em arquitetura contra o crime, coronel Roberson Bondaruk. “Uma visibilidade mínima garante naturalmente mais segurança. Construir penitenciárias particulares é muito nocivo”.

Segundo ele, o ambiente é um fator determinante na realização de um crime, seja ele planejado ou de oportunidade. Além da rentabilidade, o criminoso observa a facilidade e as chances de sair ileso da ação. “Por mais audacioso que seja, o criminoso tende a limitar sua ação se ele pressentir o risco de ser visto por uma vítima ou um vigilante”, explica Bondaruk.

Bares – Pelo menos 28 bares sofreram arrastões neste ano na capital paulista, segundo o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurante (Abrasel) em São Paulo, Joaquim Saraiva de Almeida. O fenômeno atingiu em cheio uma das principais diversões do paulistano, que trocou o relaxamento de um saboroso jantar pelo gosto amargo da tensão ao sair de noite. Os comerciantes reagiram. “Os estabelecimentos que foram alvo de bandidos aumentaram a iluminação, colocaram mais câmeras e contrataram vigias”, afirma Almeida.

Ao contrário dos arrastões em condomínios, os crimes realizados no bares podem ser praticados por bandidos menos experientes e que precisam agir com rapidez. Colocar um vigia na porta pode inibir uma ação, dentro da lógica do menor esforço, dominante entre os bandidos. Trata-se de uma pessoa a mais para ser rendida, e em via pública. Além de escolher um local com reforço de segurança, os clientes devem preferir estabelecimentos em locais mais movimentados, com outros bares e casas noturnas ao redor.

A Polícia Militar não divulga dados específicos de roubos a residências nem a bares em São Paulo. Os números gerais de assaltos na capital apontam uma média de 400 a 500 ocorrências por dia, segundo o coronel da reserva da PM José Vicente da Silva Filho, professor do Centro de Altos Estudos de Segurança Pública da Polícia Militar de São Paulo.

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Nas estatísticas da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-SP), ocorreram na cidade de São Paulo 65.803 assaltos desde o início do ano, entre roubos em geral e de veículo, e excluindo-se os roubos a bancos e de cargas.

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