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Obra de ciclovia no Rio não considerou ondas fortes, aponta documento

Relatório produzido pela Secretaria Municipal de Obras diz que a ciclovia 'não contempla riscos consideráveis'. Na semana passada, um trecho desabou por causa da ressaca do mar e matou duas pessoas

Por Da Redação
27 abr 2016, 09h42

Nos relatórios mensais de acompanhamento de construção da Ciclovia Tim Maia, a prefeitura do Rio de Janeiro deixou de considerar as ondas fortes comuns naquele trecho do litoral carioca como risco à obra e aos operários. Uma ressaca do mar derrubou, na semana passada, um trecho de cinquenta metros do percurso entre os bairros do Leblon e de São Conrado, na Zona Sul da cidade, matando duas pessoas.

Os documentos relacionam perigos decorrentes do tráfego pesado na Avenida Niemeyer, via litorânea ao lado da ciclovia, e da inclinação da encosta. Falam até da proximidade com áreas urbanas. Mas não abordam a possibilidade de ressacas. “Em geral, a ciclovia não contempla riscos consideráveis”, apontam os relatórios produzidos pela Secretaria Municipal de Obras e pela Concremat em abril, maio e junho de 2015. A ciclovia foi inaugurada em janeiro deste ano.

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O relatório de abril informa apenas que a região “é considerada zona de respingo de maré, o que aumenta o grau de dificuldade de execução das obras”, no capítulo Descrição do Empreendimento. No documento de junho de 2015, consta que “a ciclovia em questão será construída em uma área de escarpas, exigindo cuidados adicionais na sua execução”. “A obra foi dividida em quinze trechos, cada qual com a sua peculiaridade geológica/geotécnica. A montante da avenida são verificadas vertentes côncavas, convexas, escarpas naturais e talvegues [local mais profundo de um vale]. Esses fatores tornam a região mais suscetível a deslizamentos de solo e de blocos soltos de rochas, pertencentes às falhas naturais”, diz o texto.

Nos relatórios, a prefeitura relata os avanços no contrato de execução do serviços, por meio de textos, cronogramas, gráficos, quadros, tabelas, planilhas e registros fotográficos. A gestão municipal informou que os documentos são encaminhados ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável pelo financiamento da obra.

O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro instaurou inquérito civil para apurar eventuais atos de improbidade administrativa provenientes da contratação, pela Fundação Geo-Rio (vinculada à prefeitura), do consórcio Contermat/Concrejato. Nesta terça-feira, a prefeitura proibiu o consórcio de participar de licitações de novas obras públicas na cidade “enquanto durarem os trabalhos de apuração das responsabilidades técnicas pelo acidente da Ciclovia da Niemeyer”.

O município informou ainda que todos os pagamentos para o consórcio estão retidos. O decreto foi publicado no Diário Oficial do município nesta quarta-feira e determina ainda que os responsáveis técnicos pela obra sejam afastados de qualquer contrato firmado com o município.

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Segundo engenheiros, é possível tornar a Ciclovia Tim Maia segura para ciclistas e pedestres. Eles defendem, porém, que o monitoramento das ondas seja permanente. “O que tem de ser feito é óbvio: que haja algo que suporte a ação das ondas e também um sistema de alerta que feche a ciclovia, em caso de ressaca. Ainda que a estrutura fosse forte, teria ocorrido a tragédia, porque as pessoas seriam engolidas pelo mar”, disse o engenheiro Paulo Cesar Rosman, do Programa de Pós-graduação em Engenharia (Coppe) da UFRJ.

Uma das formas de proteger a ciclovia é instalar um anteparo entre o mar e a pista. As técnicas são variadas, sendo uma delas a de enrocamento, que consiste na colocação de blocos de pedra ou de cimento, dispostos uns sobre os outros, sobre os quais as ondas incidam, chegando à pista com menos energia, disse Manoel Lapa, do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ). “Dá para reconstruir sem qualquer tipo de temor. Mas tem de fechar quando não for absolutamente seguro.”

O presidente do Crea-RJ, Reynaldo Barros, afirmou que a prefeitura deverá realizar análise preliminar de risco para avaliar todas as falhas na construção, considerando a influência de corrosão, marés, vento e ondas. “É preciso um cuidado especial, pois a natureza cobra o devido valor pelas coisas mal feitas.”

(Com Estadão Conteúdo)

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