O Maracanã cercado por UPPs
Inauguração da 18ª Unidade de Polícia Pacificadora, na Mangueira, forma cinturão ao redor do estádio. Projeto avança, apesar dos casos de corrupção
Outras 11 favelas na vizinhança do estádio já têm esse tipo de ocupação, como prevê o projeto do governo do estado para a Copa de 2014. Na teoria, a ocupação significa que a segurança do palco da final da Copa no Brasil está resolvida, e esse dado é importante para renovar o compromisso internacional do Rio para 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, vai inaugurar às 15h desta quinta-feira a 18ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do estado. A favela da Mangueira, famosa pelo samba e, infelizmente, também pelos tiroteios, vai receber uma unidade com 400 policiais, que ocuparão uma sede provisória. A inauguração tem, além do peso simbólico para o projeto, um efeito prático importante: com ela, fecha-se, em torno do estádio do Maracanã, uma espécie de cinturão de favelas ocupadas pela polícia.
Outras 11 favelas na vizinhança do estádio já têm esse tipo de ocupação, como prevê o projeto do governo do estado para a Copa de 2014. Na teoria, a ocupação significa que a segurança do palco da final da Copa no Brasil está resolvida, e esse dado é importante para renovar o compromisso internacional do Rio para 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016.
Mas episódios recentes em uma das UPPs no entorno do Maracanã mostram que a ocupação não garante a saída da bandidagem. Pior: o bandido pode estar dentro da polícia. Na UPP dos morros do Fallet e Fogueteiro, o comandante e seu subordinado direto foram presos, acusados de receber mesada de traficantes.
A situação na Mangueira, ocupada pelo Batalhão de Operações Especiais da PM (Bope) desde junho, é a síntese de um dos problemas do programa de UPPs. Para manter o ritmo de ocupações, é preciso formar policiais novos. E, assim, afastar o risco de que velhas práticas indesejáveis da PM sejam perpetuadas nas novas unidades – principalmente a corrupção, a promiscuidade em relação ao tráfico de drogas e o conceito de que a PM primeiro atira, depois pergunta. O secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, quer que o policial seja um servidor da população, não um guerreiro, como afirmou repetidas vezes.
A Mangueira, com cerca de 20 mil moradores – além dela estão na conta as favelas do mesmo maciço – foi ocupada sete meses depois do Complexo do Alemão, mas receberá a UPP oito meses antes. O motivo mais evidente é a diferença de tamanho, que exigirá, no Alemão, um contingente maior de policiais. A ação no Alemão não respeitou o cronograma inicial, pois foi uma reação necessária a uma série de ataques coordenados a partir daquele conjunto de favelas, que amedrontou todo o estado.
O resultado disso foi que, no Alemão, as Forças Armadas entraram e não puderam mais sair. No momento, o Exército comanda uma força de pacificação que enfrenta problemas por exercer, por um período longo, algo para o qual seus quadros não estão preparados – nem autorizados por lei a fazê-lo.
O ministro da Defesa, Celso Amorim, admitiu no Rio que a permanência por longos períodos não é função dos militares. Mas, no momento, essa é a única forma de manter o pé do estado em uma área com cerca de 80 mil moradores, em 13 favelas. A rigor, as Forças Armadas só poderiam exercer papel de polícia em caso de intervenção no estado do Rio, o que não ocorreu.