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O desafio de falar a língua do Alemão

Dez meses depois da bem sucedida ocupação do complexo de 13 favelas, governo estadual abre uma outra frente de batalha - a da comunicação

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 set 2011, 11h59

“A dimensão mais complexa da pacificação, que demanda maior tempo para ser implementada, é a mudança da cultura, do relacionamento entre o estado e a população”

Rodrigo Neves, secretário de Assistência Social do Rio de Janeiro

A ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2010, foi uma resposta à altura do desafio que a escalada do terror no Rio de Janeiro exigia. Nove meses depois, o Alemão ganhou teleférico, UPA 24 horas, cinema 3D, e virou – merecidamente – cartão postal do governo estadual. A guerra para integrar à cidade aquele conjunto de favelas, no entanto, está longe de terminar. E ganhou, na semana passada, uma nova frente de batalha. O conflito entre moradores e Exército no domingo, e o tiroteio orquestrado por traficantes na terça-feira mostraram um perigoso flanco aberto na guerra contra o tráfico. Antes tarde do que mais tarde, as autoridades começam a perceber que é preciso acrescentar um verbete à cartilha da ocupação: diálogo.

Faixa no Complexo do Alemão: moradores reclamam da ação dos militares
Faixa no Complexo do Alemão: moradores reclamam da ação dos militares (VEJA)
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A cartilha já contempla medidas imprescindíveis à reconquista dos territórios dominados pelo tráfico. É sabido que é preciso investir em infra-estrutura, saúde, educação, gerar empregos. No Alemão, já foram feitos investimentos de um bilhão de reais em recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e dos governos estadual e municipal. Agora, sabe-se também que é preciso aprender a “língua” daquele conjunto de 13 favelas, onde vivem 65 mil pessoas. Os primeiros passos nessa direção estão sendo dados pela secretaria estadual de Assistência Social, em programas voltados para a mediação de conflitos, a assistência aos jovens e o estabelecimento de canais de comunicação com a população. Para o secretário Rodrigo Neves este é o grande desafio. “A dimensão mais complexa da pacificação, que demanda maior tempo para ser implementada, é a mudança da cultura, do relacionamento entre o estado e a população”, diz.

Presidente Dilma Rousseff e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, durante visita à Estação de Teleférico do Morro do Alemão, Rio de Janeiro
Presidente Dilma Rousseff e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, durante visita à Estação de Teleférico do Morro do Alemão, Rio de Janeiro (VEJA)

Neves antecipou ao site de VEJA dois programas. O primeiro é uma parceria com o ministério da Justiça para a implantação de centros para a prevenção da violência, com equipes multidisciplinares com experiência em direitos humanos que vão atuar na mediação de conflitos. O primeiro tem inauguração prevista para março de 2012. O outro programa terá financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e é voltado para jovens de 15 a 29 anos que viviam, direta ou indiretamente, ligados ao tráfico e precisam encontrar um novo rumo em suas vidas. “Nós verificamos que a juventude saída de qualquer situação de conflito com a lei não tem suporte e acompanhamento para reconstruir suas trajetórias de vida”, explica Neves. A meta é atender a 40 mil jovens até 2014.

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As duas medidas serão estendidas às outras favelas ocupadas pelas forças de segurança, em prazo ainda a ser definido. No Alemão, já neste sábado, está sendo dado um primeiro passo concreto na direção do diálogo, com uma reunião na Vila Cruzeiro entre representantes da secretaria de Assistência Social, moradores e comando da Força de Pacificação. Sem a pompa e os holofotes das grandes inaugurações que já aconteceram por lá, esta pode ser a mais preciosa lição da cartilha da ocupação: enquanto estado, Exército e moradores não aprenderem a falar a mesma língua, não haverá obra nem programa que garanta o objetivo primeiro da pacificação: a paz.

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