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“Não levei o grupo da Marina tão a sério”, admite Penna

Em entrevista ao site de VEJA, presidente nacional do PV rompe o silêncio e reconhece que a saída da ex-senadora poderia ter sido evitada

Por Adriana Caitano
12 jul 2011, 14h17

O presidente do PV, José Luiz Penna, resolveu romper o silêncio. O deputado federal evitava entrevistas desde março, quando aliados da ex-senadora Marina Silva criaram o grupo Transição Democrática para propor mudanças no partido. Em entrevista ao site de VEJA, Penna admite que falhou na negociação com os marineiros por ter subestimado a influência deles. “Eu sinceramente não levei muito a sério, achei que fosse um movimento menor.” Em seu escritório de São Paulo, com terno enfeitado pelo broche de deputado federal, Penna recebeu a reportagem fumando um cigarro de palha, apesar de estar se recuperando de uma pneumonia. Tentando aparentar tranquilidade, disse que a “turma do deixa disso” tentou marcar um encontro entre ele e Marina antes do desfecho da última semana – a desfiliação da ex-senadora e de alguns de seus aliados. A tentativa, porém, não prosperou. “Torci para que Marina fizesse como Dom Pedro e dissesse ‘diga ao povo que eu fico’. Não deu.” Penna negou estar ressentido e evitou criticar Marina ou o ex-presidente do partido, o deputado federal Alfredo Sirkis. A dupla acusou Penna de autoritarismo por não aceitar as mudanças propostas pelo grupo. Mesmo assim, o presidente não quer comprar briga com o amigo e com a candidata que recebeu 20 milhões de votos em 2010: feito inédito para a legenda. “A Marina é um ícone internacional de parte das nossas causas. Ainda há muitos pontos em comum.” Abaixo, os principais trechos da entrevista: Em documento divulgado no dia em que a Marina anunciava a desfiliação, a executiva nacional do PV lamentou “a falsa polêmica sobre a falta de democracia interna” do partido. O que garante democracia dentro do PV? Existe sim democracia. O PV tem inspiração parlamentarista. O filiado vota em um conselho, que elege a executiva, que elege seus cargos. Não somos presidencialistas. Temos um coletivo dirigente. Seria mais próprio chamar o presidente de porta-voz. Não sei se é porque porta-voz no Brasil sempre foi para falar da doença ou da morte do governante, mas ficou meio complicado e a gente resolveu assumir o nome de presidente. Tinha que ter uma cartilha para quem entra no partido entender. A principal crítica que fazem ao senhor diz respeito à sua permanência no comando do PV por mais de doze anos. O senhor acha isso democrático? O partido não veio de vias tradicionais de poder, como sindicato, organizações religiosas ou militares. É um partido que corre atrás do seu programa e o tempo nele não é o tempo que possa ser comparável com outros que já nascem com estrutura. Tivemos que preparar quadros. Quando eu penso me dá um cansaço enorme, doze anos na presidência. Mas as coisas não são como a gente quer que sejam. Dizem aqui em São Paulo que fazer política é cavalgar um tigre: não tem como apear. Você vai sendo escravo da vontade coletiva. Mas, já que é um colegiado, não seria melhor ter havido um revezamento na presidência? Temos que trabalhar para isso, mesmo porque o cemitério está cheio de insubstituíveis. As relações políticas são correligionárias, não de seguidores, como nas religiões. Aqui é um acordo a cada instante. Acho que temos que trabalhar para isso, mas não sei se tem muita gente disposta a encarar a presidência. De qualquer forma, eu não estou sozinho. Esse grupo político que toca o partido é de extrema eficiência. Somos um partido hoje com capacidade de enfrentar as dificuldades que o jogo político impõe. Ano passado, o Brasil teria um plebiscito na eleição e nós sozinhos fomos buscar a Marina, o que de melhor a gente podia ter no nosso time. Ela cumpriu a função, deu realidade ao que a análise política apontou, que nós tínhamos condição, mesmo com um minuto de televisão, de enriquecer o processo político da eleição passada. E fizemos. O senhor disse que tem uma equipe eficiente. Por que não conseguiram evitar esses desentendimentos com o grupo da Marina? Até hoje há uma dose muito grande de incompreensão. Ninguém entende claramente a decisão da Marina de sair. Como ela vinha de outro partido, compreender a estrutura do PV ficou difícil. Ou não tivemos competência para esclarecer ou não houve vontade de compreender a diferença. Nós abrimos espaço para nomes ligados a ela, pessoas que não fizeram história no partido. Talvez não tenha tido a didática necessária, a capacidade de convencimento de que esse seria o melhor caminho. O senhor reconhece que houve uma crise dentro do PV? Sim, uma crise imensa que deu uma insegurança muito grande a todos. Foi a primeira crise séria de crescimento pela qual o partido passou. Ela trouxe a necessidade de administrar diferenças. Lamentavelmente determinadas pessoas que entraram com a Marina tinham desde o início a tese de que não ia dar certo e passaram o tempo inteiro tentando comprovar essa tese. É um prejuízo imenso para todos os lados. Por que o senhor não quis se manifestar durante os últimos meses? Publicamente não, mas conversei com Alfredo Sirkis e com quem mais me procurou. Mantive-me calado porque assim eu achava e assim eu fiz. Ia falar quando eu tivesse condições de falar. Agora sinto necessidade porque é um fato gravíssimo. E quero registrar com todas as letras: as pessoas do partido e as que saíram dele são honradas, descentes e eu não faço política diminuindo as pessoas que estão pensando diferente. Mesmo porque fica sempre uma possibilidade de a gente se juntar lá na frente. Nossas causas são muito importantes e a Marina é uma pessoa importante para continuar conduzindo as discussões da sustentabilidade. Por que o senhor não desmentiu a secretária de Assuntos Jurídicos do partido, Vera Motta, quando ela concedeu uma entrevista afirmando que Marina não faria falta no PV? O que Vera disse não era a orientação de um grupo, mas uma manifestação pessoal dela. É difícil você ir ao jornal dizer que não concorda. Todas as pessoas do partido sabiam que eu não concordava. Se o senhor tivesse deixado clara sua posição, poderia ter evitado o que houve. Acho que não. Ia virar o que eu não queria: um bate-boca público. O que a gente ganha? O Brasil só perdeu com isso. Respeito a posição dos indivíduos, mas não era orientação do partido. A Vera resolveu dar sua posição, mas não teve sucesso interno. Sirkis considerou o episódio como o limite para sua irritação, dizendo que o senhor consentiu as afirmações por ter se calado. O gabinete dele é no mesmo corredor do meu. Sempre que ele quis falar comigo, falou. Ele é meu amigo, está pensando diferente de mim, mas já pensamos diferente várias vezes. Ele sabia qual era a minha posição. O senhor articulou a entrada de Marina no PV e Sirkis é fundador do partido. Está ressentido com o comportamento dos dois? Não. Quando a gente tem uma certa idade, tem muita paciência com o desenlace das coisas. Posso estar errado e Sirkis pode estar errado. O importante são as causas. Vamos continuar batalhando pelos assuntos que são caros para nós. Um dia nós vamos ter a oportunidade de conversar. Se cometi algum erro vou reconhecer. Não acho que houve um ato de traição, não tenho rancor. Eu torci para que a Marina fizesse como Dom Pedro e dissesse: “Diga ao povo que eu fico”. Não deu. Não fiquei ressentido. Política é formulação. Emoção é para escrever novela. O senhor procurou Marina para conversar antes da saída dela? A turma do deixa disso trabalhou para um encontro pessoal entre nós dois. Eu sempre disse que quando conseguissem marcar eu iria. Só que ela viajou para o exterior e eu estive doente. Mas acho que não foi isso. Não houve o convencimento necessário o encontro, faltou esforço. O meio de campo estava embolado e quando embola o meio de campo, ninguém marca gol. E aí perdemos uma oportunidade. Se o senhor pudesse voltar atrás, na criação do grupo Transição Democrática, faria algo diferente? Talvez eu tivesse levado um pouco mais a sério. Sinceramente, tirando a Marina e o Alfredo Sirkis, o resto eu não levei muito a sério. Não achava que isso seria de encantar os dois. Achei que fosse um movimento menor. Não por orgulho nada, mas eu achava que não ia prosperar. Hoje eu iria para a primeira reunião do grupo deles. Acho que seria bom, porque sempre tive opinião de que quanto mais discussão melhor. Teria feito mais gestos de aproximação. Como ficou sua relação com Marina depois dessa crise? Ficou ela achando o que ela acha e eu achando que ela não entendeu direito. Quando a coisa chegou à imprensa começou esse imbróglio. Eu pedi a todos que saíssem de cena. Eu tive condições de não falar. Marina não teve. Como a gente se entende numa discussão política pelo jornal? Muito difícil. Marina é um ícone internacional de parte das nossas causas. A gente vai ter que ter uma relação ainda. Vamos esperar baixar a poeira. Como o senhor pretende recuperar o PV desta perda? Nós vamos para nosso enfrentamento eleitoral. Não tivemos grandes baixas em quantidade. A sociedade continua procurando o partido. Então agora é trabalhar. Desejar sorte para esse movimento que Marina cria. Ele crescendo, nos ajuda. O partido crescendo, ajuda o movimento. A caretice está fazendo frentes perigosas, como na aprovação do Código Florestal na Câmara. As pessoas acham que o PV é uma casquinha de noz no mar, mas é uma estrutura com quase 300.000 filiados. Não é uma coisa que a gente possa desprezar. Teremos 15.000 candidatos a vereador em 2012. Em São Paulo o PV pretende ter candidato próprio à prefeitura? A candidatura de Eduardo Jorge [secretário do Verde e do Meio Ambiente da capital paulista] é real. O trabalho que ele tem feito na Secretaria, além de suas qualidades pessoais, o credencia. Se a gente conseguir fazer um leque de alianças em apoio a ele, a candidatura se viabiliza e a possibilidade de ele assumir é concreta. Vocês estão de olho em alguém para convidar a fazer parte do PV? Tinha muita vontade que o Gustavo Fruet [ex-deputado federal e ex-PSDB] viesse, falei com ele e ainda vamos conversar. Poderemos ter uma surpresa grande em Salvador e no Recife. Há um quadro extremamente otimista. O senhor acha que o PV conseguirá manter a visibilidade e a credibilidade a partir de agora? Voltar a ter aquele clima eletrizante do final da campanha de 2010 é muito difícil. Mas vamos construí-lo. A sociedade quer muito mais. Em todo lugar estão surgindo candidaturas nossas. Acho que se fizermos uma boa eleição municipal, chegaremos próximos de onde estivemos no ano passado. O PV continua prestigiado, mas não adianta só prestígio, tem que construir alianças e trabalhar muito.

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