Enquanto o governo tenta convencer que a acomodação do ex-presidente Lula na Secretaria de Governo tem como objetivo a melhora da relação entre o Planalto e o Congresso, o sucesso da iniciativa – que tem como pano de fundo motivos bem menos republicanos – já é rechaçado nos corredores do Congresso. Na avaliação do presidente da Câmara dos Deputados e fiador do processo de impeachment, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a “promoção” de Lula ao alto escalão não vai melhorar a interlocução do governo com seus aliados. “É muito pouco provável que melhore. A deterioração da base do governo já está em um tal nível que eu acho difícil a reversão. A tendência é só perdê-la”, afirma o peemedebista. “Não tem ninguém que possa chegar e mudar essa relação. Nós estamos numa crise política e econômica agravadas a cada dia com novas denúncias e o governo diretamente [envolvido] com sua campanha eleitoral e com membros do próprio governo. Então eu não sei o que isso vai fazer para melhorar. Não vai mudar a relação de alguns partidos”, continua Cunha. Apesar de o governo usar a articulação política como argumento para a acomodação de Lula em um ministério, o esforço pessoal do Planalto é de dar sobrevida ao ex-presidente, cada vez mais enrolado na Lava Jato, e tirar seu caso das mãos do juiz Sergio Moro. (Marcela Mattos, de Brasília)