Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Maré está tão pacificada quanto o Alemão e a Rocinha

Próximos dias serão determinantes para a população perceber até que ponto os traficantes abriram mão do território e dos lucros do crime

Por Da Redação
30 mar 2014, 17h23

A ocupação do Complexo da Maré se deu em poucos minutos, sem reação dos bandidos – assim como no Alemão e na Rocinha. Blindados da Marinha transportaram policiais em segurança e dão suporte à ação – como nas duas favelas e em outras ações recentes. A população, agora, aguarda os próximos dias para perceber os limites exatos da pacificação e até que ponto os bandidos abriram mão daquele território – exatamente como nas outras grandes favelas. Afirmar que as 15 favelas ocupadas estão “pacificadas” significa uma conquista, pois a entrada das tropas deve ser comemorada; mas é também equiparar aquela área a locais que, apesar de ocupados, vivem em permanente tensão.

O sigilo necessário às estratégias da segurança faz com que o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, fale pouco além do mínimo necessário. Mas Beltrame até recentemente recusava qualquer mudança no curso da “pacificação”, o que significava, em linhas gerais, manter as ocupações a toque de caixa, com policiais recém-formados, e ajustes pontuais. O desejável é que, na Maré, a coisa funcione de forma diferente do Alemão e da Rocinha – as duas grandes UPPs mergulhadas em problemas, entre eles a tortura e o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza e as mortes de policiais atacados por bandidos.

Leia também:

Polícia ocupa Complexo da Maré para criar nova UPP

Há alguns graves complicadores na situação da Maré. Como ressaltou Beltrame esta manhã, naquela área há coexistência de duas facções de tráfico que brigam entre si. E há ainda os milicianos. “Nós estávamos deixando mais para frente, justamente porque não é um trabalho trivial”, afirmou. Já o governador Sérgio Cabral lembrou que, com cerca de 130.000 moradores, o Complexo da Maré é uma “cidade dentro da cidade”.

Continua após a publicidade

As autoridades de segurança ressaltaram, logo no início da tarde, o grande número de prisões feitas desde que foi anunciada a ocupação deste domingo. Ao todo, foram presas, segundo a Secretaria de Segurança, 118 pessoas – entre elas o traficante Marcelo Santos das Dores, o “Menor P.”, conhecido por ser ousado, comprar a cumplicidade de policiais corruptos e por castigar traidores e rivais.

A ação coordenada de policiais civis, militares e federais, com auxílio das Forças Armadas, é capaz de garantir uma ocupação relativamente tranquila. Mas por tempo limitado. Como mostrou reportagem do site de VEJA, a participação da Polícia Civil, que pode produzir provas e inquéritos para prender definitivamente os chefes do crime, ainda é uma falha da política das UPPs. Esta é, no momento, uma das preocupações do secretário, que vem tentando se reaproximar dos delegados e agentes civis.

Um aspecto complexo da Maré não citado por Beltrame, mas que certamente é de conhecimento do comando da operação, é o alto poder de corrupção que o tráfico de drogas exerce naquela área. A Maré, apesar de permanentemente conflagrada e com supremacia do poder dos criminosos, tem um batalhão da PM instalado dentro das favelas, às margens da Linha Vermelha. Nunca foi possível, no entanto, considerar os cerca de 600 homens uma força de combate ao tráfico. Primeiro, porque os PMs têm entre suas atribuições grande parte da Zona Norte. E, lamentavelmente, a conivência com o crime não é pequena naquela região.

Continua após a publicidade

O 22º BPM (Maré) tem, aos fundos, a fronteira entre as favelas Nova Holanda e a Baixa do Sapateiro – o que nunca impediu guerra alguma entre as facções que disputam o território. Investigações da Policia Civil revelaram esquemas sofisticados de pagamento de robustas propinas. Em 2009, quando houve uma invasão à favela Vila do João, moradores acusaram o batalhão da área de apoiar o grupo de Menor P. Na ocasião, os relatos indicavam que os traficantes invasores teriam utilizado o veículo blindado da PM para atacar os criminosos rivais.

Planejamento – A ocupação do Complexo da Maré, ao lado do cinturão formado ao redor do Maracanã e das favelas da Zona Sul, é uma etapa vital do plano para os eventos esportivos de 2014 e 2016. Afinal, aquele é o caminho obrigatório para quem chega à cidade pelo Aeroporto do Galeão. A promessa inicial era de que a Maré estaria “pacificada” a tempo da Copa das Confederações, em junho de 2013. A ordem natural dos confrontos, no entanto, obrigou a Secretaria de Segurança a dar prioridade a outros locais, como o Complexo do Lins e a Vila Kennedy.

Com pouco tempo para formar os 1.500 novos policiais necessários à empreitada, o governo do Estado ficou espremido entre a necessidade de levar à frente as UPPs e a sua limitação de recursos. Mais uma vez, Sérgio Cabral e Beltrame puderam contar com o fator “sorte”: os ataques às UPPs tornaram a situação insustentável, obrigando os governos estadual e federal a tomar uma atitude, com a aproximação da Copa do Mundo. Assim como no Alemão, seria arriscado demais defender qualquer adiamento na retomada do território. E, de quebra, Cabral pôde anunciar a “pacificação” antes de deixar o governo, como promete fazer na próxima semana.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.