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Marco Feliciano e os amigos poderosos do pastor Marcos Pereira

Polícia Civil afirma que deputado do PSC passou a segunda-feira reunido com o líder evangélico preso por estupro no Rio. Lista de amizades inclui ainda Anthony Garotinho, Alvaro Dias, Marlene Mattos e o ex-pagodeiro Waguinho

Por Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
8 Maio 2013, 13h02

A lista de amigos influentes do pastor Marcos Pereira, preso por estupro na noite de terça-feira, é extensa e vai bem além dos templos da Baixada Fluminense. Desde a última quinta-feira, quando foram expedidos os mandados de prisão pela Justiça do Rio, policiais da Delegacia Especial de Combate às Drogas (DCOD) monitoraram os passos do pastor. De acordo com o delegado Márcio Mendonça, ao longo de toda a última segunda-feira Marcos Pereira ficou dentro de um templo em São João de Meriti na companhia de outro pastor ilustre: o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e alçado à fama tanto por suas declarações como pelas reações destemperadas que as frases causaram.

Na noite em que foi preso, Pereira imediatamente telefonou para amigos influentes – entre eles alguns deputados da bancada do Rio. Chamou também fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD), para protestar contra sua prisão. Pelo menos um deputado atendeu prontamente ao chamado: o deputado Geraldo Pudim, do PR fluminense, aliado e braço direito do deputado e ex-governador Anthony Garotinho, foi à delegacia ainda de madrugada.

A influência de Pereira sobre traficantes e o domínio que exerce em áreas controladas pelo tráfico na Baixada Fluminense sempre intrigaram quem acompanha de perto os dois assuntos – política e criminalidade. Nunca havia se provado, no entanto, que ele tenha ido além do papel de líder religioso. Em março do ano passado, no entanto, VEJA tornou públicas as acusações formais contra ele, em uma remportagem que detalha inquéritos por estupro e a relação próxima com traficantes. Há mais de um ano, portanto, quem se aproxima de Pereira tem noção exata das acusações que pesam contra ele.

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Um vídeo publicado no Youtube mostra Marco Feliciano, em 19 de fevereiro deste ano, fazendo uma defesa de Marcos Pereira na tribuna da Câmara dos Deputados. Para Feliciano, Pereira e Silas Malafaia sofrem perseguição de órgãos da imprensa. Em outro vídeo, Feliciano é ovacionado em uma pregação para fiéis da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, corrente comandada por Marcos Pereira. Feliciano relata, em um dos vídeos, ter ficado impressionado com o poder de Pereira de salvar jovens do tráfico e das cracolândias. Ele relata ter estado com o pastor no carnaval, em uma fazenda onde estavam reunidos 500 jovens.

A diferença entre os dois personagens defendidos por Feliciano é bastante clara: um enfrenta reações por suas opiniões, e, como o próprio presidente da Comissão de Direitos Humanos, torna-se alvo sempre que – usando sua liberdade de expressão – manifesta-se contra o casamento gay e outros temas. Já Pereira entrou na mira da polícia por algo que nada tem a ver com liberdade ou religião: é acusado de crimes gravíssimos, como abuso sexual – que motivou a prisão – e homicídio, ainda em investigação.

Os pedidos de prisão preventiva foram expedidos este mês em função de dois depoimentos prestados por vítimas em abril, o que embasou a necessidade de manter o acusado em detenção.

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Como mostrou VEJA em março do ano passado, a lista de amigos ilustres inclui o também pastor e ex-pagodeiro Waguinho, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) e a produtora de TV Marlene Mattos. Há, ainda, uma coleção de fotos de Pereira ao lado de políticos como a deputada federal pelo Rio Jandira Feghali e o ex-vereador de São Paulo Netinho de Paula, ambos do PC do B. Para os políticos, ele foi até agora um amigo e tanto, por sua influência na Baixada Fluminense e seu poder de penetração em áreas carentes – e perigosas, pela presença de traficantes. Desde a revelação das acusações de estupro, não são aceitáveis, portanto, justificativas na linha do “eu não sabia” para quem vinha tentando faturar politicamente com a amizade.

Marcos Pereira aproximou-se do ex-governador e deputado Anthony Garotinho (PR) quando, em 2004, intermediou as negociações que encerraram uma rebelião de detentos no estado do Rio. Garotinho era, à época, secretário de Segurança da governadora Rosinha Garotinho, sua mulher. Começou, naquele episódio, a imagem de homem capaz de domar criminosos fortemente armados e com poder de interlocução nos presídios.

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Pastores – Entre líderes das igrejas evangélicas, a prisão de Pereira foi recebida com cautela. “Tem que esperar a Justiça. Toda pessoa é inocente até que se prove o contrário”, afirmou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), pastor e presidente da Igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, que se disse “chocado e muito triste” com a notícia. Em fevereiro passado, Feliciano rasgou-se em elogios ao amigo pastor na tribuna da Câmara, onde é presidente da Comissão de Direitos Humanos. Na ocasião, disse que Pereira é “um homem reconhecido da nação” e “uma pessoa de bem”.

Já Silas Malafaia é menos condescendente com o homem que ajudou a “converter”. “Se for verdade, vou lamentar profundamente, mas ele terá de pagar, como qualquer pessoa que comete um ato monstruoso desse.” Presidente da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, ele conta que ouviu de Pereira que foi graças a uma pregação sua, há cerca de 15 anos, que o pastor decidiu “entregar sua vida” a Cristo. Depois, não tiveram mais muito contato. Malafaia sabe e elogia os projetos de Pereira com presos e drogados, mas ressalta que isso não alivia as acusações que recaem sobre ele. “Nada justifica”, enfatiza.

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Agora que a lista de crimes vem à tona, a Polícia Civil do Rio questiona até a postura de neutralidade vendida pelo pastor. Para o delegado Márcio Mendonça, da Delegacia Especial de Combate às Drogas (DCOD), Pereira nada mais faz do que encenar negociações. Na verdade, afirmou ele, ao site de VEJA, há por trás disso um envolvimento com traficantes com suspeita de ocultação de armas em templos e episódios de violência: ele é suspeito também de ter ordenado ataques do tráfico em 2006 no Rio, na época em que duas dezenas de pessoas morreram e a cidade ficou de joelhos diante do poder dos criminosos.

Pereira é investigado por um homicídio: o da jovem Adelaide Nogueira dos Santos, morta em 29 de dezembro de 2006. Um dos condenados em primeira instância pela morte da jovem é Geferson Rodrigues dos Santos, sobrinho de Pereira.

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