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Marcha da Família reúne número ínfimo de simpatizantes

Há 50 anos, manifestação atraiu 100.000 pessoas só no Rio. Desta vez, apenas 2.000 em todas as cidades brasileiras em que foi realizada

Por Felipe Frazão 23 mar 2014, 12h07

Há cinquenta anos, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu cerca de 100.000 pessoas na Cinelândia, no Rio de Janeiro, em movimento que culminou na derrubada do presidente João Goulart. A reedição da marcha, organizada neste sábado, em plena era das redes sociais, reuniu menos de 2.000 pessoas, somadas todas as praças onde aconteceu.

Em São Paulo, reuniram-se cerca de 1.000 pessoas que se concentraram na Praça da República e caminharam rumo à Praça da Sé. Sob um “espírito de coalizão” conservador, os manifestantes não tinham discurso coeso. Seminaristas, maçons, militares da reserva e seus parentes, e militantes contra a corrupção gritavam palavras de ordem pela “pátria, a fé e a família”, contra comunistas e contra o governo petista.

O grupo Ordem e Progresso, diretamente ligado à organização da passeata, queria mais: falava em “intervenção militar já”, ou seja, pedia um golpe de Estado, por não acreditar nas instituições brasileiras e nas eleições “realizadas com urnas eletrônicas”.

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Essa não era uma bandeira unânime. A Frente Integralista Brasileira, por exemplo (uma associação de caráter ultra-nacionalista e herdeira ideológica da Ação Integralista Brasileira, fundada nos anos 30), afirmava que o pedido de intervenção militar era um erro.

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“A maior parte dos grupos patrióticos, conservadores e nacionalistas são contrários o evento pedir intervenção imediata. Se não fosse por essa ideia ter circulado na imprensa, nós teríamos dez vezes mais pessoas aqui. Nós queríamos fazer apenas uma homenagem ao movimento contra o João Goulart. A implantação da política marxista está mais branda e não vai gerar uma ruptura imediata. Não adianta querer preparar um golpe agora, ou melhor, um contragolpe”, disse Lucas de Carvalho, um dos líderes dos integralistas.

Com bandeiras do Brasil e outras de cor azul – “para fazer oposição ao vermelho-comunista” – uma tropa de jovens fez a escolta do protesto. Carecas e de coturno, eles se falavam por rádios e portavam lacres para prender os “adversários da esquerda”.

No trajeto, os “guardas” correram atrás de pessoas que gritavam contra a marcha – taxada de “reacionária”. Eles agrediram uma mulher na porta do Metrô República e dois manifestantes vestidos de mulher no Largo de São Francisco, no centro de São Paulo. Também se envolveram diretamente numa briga que terminou com quatro detidos na Sé. Entre eles, está um casal que foi agredido após gritar provocações aos manifestantes. A mulher, de orientação anarquista, tentou pichar uma faixa carregada na passeata. O homem brigou com um dos líderes de um grupo de direita – ele foi ferido na orelha. Outras duas pessoas foram detidas por arremessar uma lâmpada fluorescente e pedras na Polícia Militar. A reportagem não viu nenhum dos “guardas” da passeata ser revistado ou abordado por policiais militares.

Havia um clima de tensão no evento, por causa de uma “Marcha Antifascista”, convocada na Praça da Sé simultaneamente à Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Da Sé, cerca de 1.000 punks, anarquistas, filiados a partidos políticos de esquerda e black blocs marcharam até a antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), na Região da Luz. As duas marchas não se cruzaram. Não houve incidentes no protesto convocado para se opor à reedição da Marcha da Família.

Outros Estados – Em Fortaleza, a Marcha da Família com Deus reuniu pouco mais de cinquenta pessoas, que acabaram ficando estacionadas em frente ao Forte de Nossa Senhora da Assunção, sede da 10ª Região Militar do Exército. A cem metros, na Praça dos Mártires, conhecida como Passeio Público, estava outro grupo, o da Marcha Antifascista, também com pouco mais de cinquenta pessoas. Por volta das 16 horas do sábado, homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Ceará fizeram uma barreira em frente à Catedral de Fortaleza para impedir que os dois grupos entrassem em confronto.

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No Recife (PE), vinte pessoas foram às ruas. Números ainda menos expressivos foram registrados em Natal (RN), onde nove pessoas aderiram à marcha e em Florianópolis (SC), que reuniu cinco manifestantes com uma faixa onde lia-se “Fora PT. Incompetência, corrupção e impunidade”.

No Rio de janeiro, 150 manifestantes da Marcha da Família entraram em confronto com 50 integrantes de movimentos sociais. O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) compareceu e disse que defender a intervenção militar “descaracteriza o movimento”. Houve corre-corre e a polícia teve de intervir.

Mais protestos – Um ônibus foi incendiado na Avenida Jacu-Pêssego, na Zona Leste de São Paulo, que ficou interditada por causa de uma manifestação na tarde deste sábado. Um homem foi detido.

Representantes de sindicatos e movimentos populares realizaram, também na tarde de sábado uma passeata em São Paulo contra o dinheiro gasto na Copa do Mundo. O movimento “Na Copa vai ter luta” saiu do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, no Tatuapé, com cerca de 2.000 manifestantes e bloqueou um trecho da Avenida Radial Leste por 30 minutos.

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