“Malabarismo financeiro” viabilizou pagamento de propina a empresário ligado a caso Celso Daniel
Ministério Público relata que os crimes investigados na 27ª fase da Operação Lava Jato "ao que tudo indica" estão relacionados ao assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP) Celso Daniel
Revelações do operador do mensalão Marcos Valério e a capacidade de os investigadores da Lava Jato terem conseguido rastrear a propina paga pelo Grupo Schahin em um contrato envolvendo um navio-sonda da Petrobras permitiram que a Polícia Federal e o Ministério Público levassem a campo nesta sexta-feira a 27ª fase da Operação Lava Jato. Ao analisar as considerações apresentadas pelo Ministério Público ao juiz Sergio Moro, o magistrado considerou ter havido um “malabarismo financeiro” para simular, a mando do PT, o repasse de cerca de 6 milhões de reais ao empresário Ronan Maria Pinto, apontado por Valério como detentor de segredos sobre o esquema de corrupção em Santo André e sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel (PT). O magistrado vai além e diz que “é possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então Prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave”.
Além de reabrir o rumoroso caso Celso Daniel, a nova fase, batizada de Carbono 14, evidencia de forma ainda mais clara a participação de notórios petistas envolvidos no mensalão também no escândalo de corrupção na Petrobras. Isso porque, segundo os investigadores, entre os petistas que atuaram na negociação para o recolhimento do dinheiro a Ronan Maria Pinto estão o ex-secretário-geral petista Silvio Pereira, o ex-tesoureiro Delúbio Soares e o ex-ministro José Dirceu. Os três foram denunciados no mensalão – Silvinho obteve suspensão condicional, Delúbio foi condenado a quase sete anos de prisão e Dirceu penalizado no mensalão e agora novamente preso, desde agosto, em Curitiba.
“Deve-se considerar a gravidade concreta dos delitos praticados que, ao que tudo indica, estão diretamente relacionados ao caso criminal mais rumoroso da história recente do país: o assassinato de Celso Daniel e o esquema de corrupção de propina da Prefeitura de Santo André. No presente momento, investiga-se a conexão desses fatos com a lavagem de dinheiro (…) que, posteriormente, veio a ser paga pela Petrobras”, relata o Ministério Público. O próprio Sergio Moro admite a possibilidade de o esquema de corrupção em Santa André ter relação com o assassinato de Celso Daniel. .
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Na transação para, segundo o Ministério Público, comprar o silêncio de Pinto, o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, atuou como “testa de ferro” em um empréstimo fictício de 12,17 milhões de reais junto ao Banco Schahin, sendo que mais dois intermediários – a Bertin Ltda e a empresa Remar Agenciamento – teriam atuado para despistar o real destino de pelo menos 6 milhões de reais. E mais: para camuflar o pagamento de propina, foram elaborados contratos fraudulentos de mútuo, um deles com a empresa 2 S Participações, controlada pelo mensaleiro Marcos Valério. Ao final, o objetivo era um só: manter calado o empresário, que estaria chantageando o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, os ex-ministros José Dirceu e Gilberto Carvalho, o jornalista Breno Altman e até o ex-presidente Lula. As suspeitas são de que, se não fosse remunerado, Ronan Maria Pinto poderia implicar todos eles na até hoje não esclarecida morte do prefeito Celso Daniel.
“Há prova, inclusive documental, de que metade do valor do empréstimo concedido pelo Banco Schahin a José Carlos Bumlai, após passar por dois intermediadores, beneficiou Ronan Maria Pinto, e há depoimentos de diversas pessoas, não só criminosos colaboradores, de que a operação foi feita por solicitação de indivíduos pertinentes ao Partido dos Trabalhadores”, disse o juiz Sergio Moro.
Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, Ronan negou as acusações e disse que, agora preso, terá a oportunidade de esclarecer as questões “de uma vez por todas”.