Irmão de Celso Daniel considera falhas as argumentações apresentadas pelos réus
Dois dos cinco acusados pelo assassinato do ex-prefeito de Santo André que seriam interrogados nesta quinta-feira tiveram os julgamentos adiados
O irmão do prefeito Celso Daniel, Bruno Daniel, considerou falhas as argumentações apresentadas pelos três réus interrogados na manhã desta quinta-feira. “As provas que serão apresentadas à tarde não deixarão dúvidas”, disse Bruno Daniel, durante o intervalo do julgamento. “Aparecerão provas irrefutáveis, ligações de um para o outro, a existência de uma base de operações e contradições.”
Bruno Daniel acredita que o assassinato de seu irmão esteja ligado às investigações sobre casos de corrupção na prefeitura de Santo André. “A família não tem dúvidas de que houve crime de implicações políticas”, afirmou. “Isso está ligado ao modo como se faz política no Brasil, que leva a irregularidades. Como disse o presidente Lula, todos os partidos fazem caixa 2.”
Segundo Bruno Daniel, sua família foi obrigada a viver dois lutos: um pela morte de Celso Daniel e outro “por ações de antigos companheiros que agiram para abafar o crime”. Bruno Daniel disse que, desde que retornou do ‘exílio’, no fim de 2011, não sofre ameaças, mas também não se sente seguro.
O julgamento – Dois dos cinco acusados pelo assassinato do ex-prefeito de Santo André que seriam interrogados nesta quinta-feira tiveram os julgamentos adiados para 16 de agosto. Os advogados de Itamar Messias dos Santos Filho e de Elcyd Oliveira Brito, o John, solicitaram desmembramento do julgamento argumentando pouco tempo para apresentação de suas argumentações e, diante do veto do juiz, abandonaram o júri.
Os outros acusados, Ivan Rodrigues da Silva, José Edison da Silva e Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, negaram a participação na morte do prefeito. “Estava em casa, no Paraná”, afirmou Ivan. “Vim para São Paulo em 20 de janeiro”. Ivan, que já foi condenado por homicídio e assalto, cumpre 38 anos de prisão por esses crimes. Rodolfo confirmou que estava em São Paulo no dia do assassinato, mas negou as acusações. Ele disse que não se recorda onde estava na noite do crime, mas que “provavelmente estava trabalhando”.
O caso – O Ministério Público afirma que os cinco acusados foram contratados para matar Celso Daniel pouco depois de o prefeito descobrir que o esquema de corrupção montado na prefeitura para financiar a campanha do ex-presidente Lula estava sendo utilizado, na verdade, para uso pessoal dos envolvidos. O promotor Marcio Friggi de Carvalho pretende sustentar a tese de que Celso Daniel foi vítima de crime político. Ele pede a condenação dos réus por homicídio duplamente qualificado: mediante pagamento e com recurso que dificultou a defesa da vítima. Confiante na condenação, o promotor não arrolou testemunhas de acusação. Nesta quinta-feira, está previsto que 13 testemunhas de defesa sejam ouvidas.
A tese de Friggi de Carvalho é a mesma sustentada pelo promotor Francisco Cembranelli durante o julgamento do primeiro acusado pelo crime a sentar no banco dos réus, Marcos Roberto Bispo dos Santos, em novembro de 2010, que acabou condenado a 18 anos de prisão. Cembranelli defendeu que a morte do petista foi um crime encomendado por uma organização criminosa que desviava recursos públicos da prefeitura. Ele afirma que Celso Daniel morreu porque, indicado coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva no fim de 2001, passou a discordar da forma como a roubalheira municipal vinha sendo praticada.
O empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, amigo do prefeito morto, foi denunciado pelo MP como mandante do crime. Ao lado de outros sete acusados, ele responde por homicídio. O caso, porém, foi dividido em três processos: um deles apura a participação dos cinco réus julgados nesta quinta, outro envolve apenas Bispo e, o terceiro, somente Sombra – seu julgamento ainda não tem data marcada.
Na noite do crime, Celso Daniel estava acompanhado de Sombra quando foi sequestrado após sair de um restaurante no bairro dos Jardins, em São Paulo. Os criminosos dispararam contra a Pajero blindada de Sérgio Gomes da Silva, que alegou defeito na trava do veículo – tese derrubada por uma perícia, que constatou perfeito funcionamento do equipamento. Dois dias depois do sequestro, o corpo do ex-prefeito foi encontrado em Juquitiba (Grande São Paulo) com marcas de tortura e oito perfurações feitas por arma de fogo. A hipótese da Promotoria contraria a tese defendida pela Polícia Civil de São Paulo, de que o ex-prefeito teria sido vítima de crime comum, com sequestro seguido de assassinato.