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Graça Foster silencia sobre declarações de ex-diretor da Petrobras

Paulo Roberto Costa afirmou que a direção da Petrobras fez "conta de padeiro" sobre o orçamento da refinaria Abreu e Lima

Por Da Redação
2 jun 2014, 13h20

A presidente da Petrobras, Graça Foster, não quis comentar as declarações do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, um dos principais investigados pela Operação Lava-Jato da Polícia Federa. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, Costa afirmou que o aumento dos custos de construção da refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, foi um erro de planejamento e que a estatal “fez conta de padeiro” sobre o orçamento da obra.

“Não é que eu não queira falar, eu não posso”, disse Graça ao deixar um seminário na Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio.

A construção da refinaria Abreu e Lima começou com custo de 2,5 bilhões de dólares (5,6 bilhões de reais), mas deverá terminar em 18,5 bilhões de dólares (41,5 bilhões de reais). O Tribunal de Contas da União (TCU) apontou indícios de superfaturamento na obra. Paulo Roberto Costa ficou dois meses preso por envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro que movimentou 10 bilhões de reais.

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Costa afirmou que a Petrobras “errou” por ter divulgado que a refinaria de Abreu e Lima sairia a 2,5 bilhões de dólares sem saber qual seria o custo real do projeto. “Não teve superfaturamento. Como você avalia o custo de uma refinaria? A Petrobras pegou uma refinaria no golfo do México e falou: quanto custa o preço por barril para construir uma refinaria lá? Custa 15.000 dólares, 20.000 dólares. Se fosse 15.000 dólares por barril e Abreu e Lima produzisse 200.000 barris, a obra ficaria em 3 bilhões de dólares. Essa é uma conta de padeiro. As condições aqui são muito diferentes das do golfo do México. A Petrobras errou. Divulgou o valor de 2,5 bilhões de dólares sem saber quanto a refinaria iria custar, sem ter um projeto”, afirmou o ex-diretor da estatal.

Ele disse ainda que “era dono do orçamento, mas não mandava na obra” de Abreu e Lima. “Os contratos têm de ser aprovados pela diretoria colegiada: o presidente e sete diretores. Quem levava esses documentos era o diretor da área de serviços, não a minha diretoria”, justificou.

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Outro caso investigado pela Polícia Federal, até todos os inquéritos e processos originados pela Lava-Jato serem interrompidos por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), envolvia a suspeita de que Costa faturou indevidamente 6,2 milhões de reais em comissões de afretamento pagas pela Maersk para transportar cargas da Petrobras. De acordo com documentos apreendidos pela polícia, os recursos foram desviados por uma corretora que pertencia a um amigo de carteado do ex-diretor, Wanderley Gandra. De acordo com laudo da Polícia Federal, há indícios de que a empresa do amigo de Costa foi criada unicamente para receber esses recursos. O ex-diretor afirmou que “essa acusação não tem sentido”. “Não recebi esse dinheiro. A Maersk é a maior empresa de navegação do mundo e, por volta de 1986,1987, passou a atuar no Brasil no transporte de gasolina e gás. Ela veio por meio de um amigo, o (Wanderley) Gandra. É corretora, como a de imóveis. O broker (corretor) faz a intermediação e negocia a comissão. A empresa não tem nada a ver comigo”, afirmou.

O relacionamento do ex-diretor com o doleiro Alberto Youssef também foi abordado na entrevista. Costa disse que conheceu Youssef em 2007, quando ele assessorava o deputado José Janene (PP), que morreu em 2010. “Às vezes nos encontrávamos com o deputado. Soube que ele teve problemas no passado, mas nunca entrei em detalhes sobre isso. Ele me procurou em 2013 para prestar consultoria. Ele queria comprar a Ecoglobal, que estava prestes a assinar um contrato com a Petrobras”, afirmou.

A polícia acusa Costa de esconder a origem de recursos ilícitos com a ajuda de Youssef. Uma prova desse relacionamento criminoso é o fato de o ex-diretor ter ganhado um Land Rover de 300.000 reais do doleiro, de acordo com denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal. Costa nega que tenha praticado “lavagem de dinheiro” e diz que recebeu o veículo como pagamento pelo serviço de consultoria que prestou a Youssef. Pela versão inicialmente divulgada por seus advogados, foi uma consultoria sobre o mercado futuro de petróleo. Agora, o ex-diretor alega que forneceu ao doleiro uma análise sobre a Ecoglobal. “Youssef falou: ‘Não entendo nada de petróleo. Queria que você analisasse esse negócio para mim’. Acertamos a consultoria em 300.000 reais e, em maio de 2013, um ano e um mês depois de eu ter saído da Petrobras, ele me pagou com um carro, o Land Rover Evoque. Minha participação em lavagem de dinheiro e remessa para o exterior é zero”, afirmou.

De acordo com a polícia, Costa ajudou a Ecoglobal a obter um contrato de 444 milhões de reais com a Petrobras e queria comprar 75% de participação na empresa por 18 milhões de reais, associado com Youssef. O ex-diretor nega. “De maneira alguma. A imprensa tem uma interpretação errônea. Contrato não quer dizer lucro. Você pode conseguir um contrato de 400 milhões de reais e ter um prejuízo de 50 milhões de reais. Jamais tive contato com ninguém da Petrobras sobre a Ecoglobal”, afirmou.

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Doações – Numa agenda apreendida pela polícia, aparecem nomes de empresários e executivos de grandes fornecedores da Petrobras com anotações sobre quanto cada um deles aceitou contribuir em doações para campanhas políticas. Costa alega que era “arrecadação legal”, mas não revela quem seriam os beneficiados. “Eram ações que iam ser tomadas e não foram. Era arrecadação legal. Era ação de apoio para uma candidatura. O nome eu não posso falar. Participei da reunião, mas não posso falar quem estava lá”, afirmou.

O ex-diretor afirmou que a reunião para tratar de tais doações ocorreu “uma semana ou quinze dias” antes dele ser preso em 20 de março. Ao falar sobre seu relacionamento com a presidente Dilma Rousseff, Costa afirmou que teve uma relação “muito próxima”: “Tivemos uma relação técnica e amistosa. Nunca tive problemas com ela e ela foi presidente do conselho de administração (da Petrobras). Nossa relação sempre foi muito próxima”, afirmou.

Mesmo com as suspeitas de superfaturamento e o custo da obra ter mais do que triplicado em relação à estimativa inicial, Costa alega que jamais teve “reparos” ao seu trabalho feitos pela presidente. “Nunca. Ela foi várias vezes à refinaria Abreu e Lima e sabe disso tudo que eu te falei. O presidente Lula e a presidente Dilma iam visitar (as obras de) Abreu e Lima e perguntavam como estavam as coisas. Eu dizia que tinha problemas porque tinha de fazer três vezes a mesma licitação por causa dos preços altos. Minha relação com ela sempre foi de muito respeito”.

A compra da refinaria de Pasadena, no Texas, outro negócio da Petrobras investigado pela Polícia Federal, foi defendida pelo ex-diretor. “Na época não foi um mau negócio. A Petrobras chegou em 2004, 2005 a exportar 700.000 barris de petróleo. Não é bom negócio exportar barris. É bom exportar derivados, porque você agrega valor. Eu não participei da negociação de Pasadena. Já falaram até que participei ilicitamente”, afirmou.

(Com Estadão Conteúdo)

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