Governo de SC esperava onda de ataques, diz secretário
Segundo o secretário de Segurança catarinense, César Grubba, o setor de inteligência da polícia esperava novos ataques em março, quando líderes comemoram dez anos de existência da facção que atua no estado
A inteligência da polícia de Santa Catarina já esperava uma segunda onda de ataques no estado – a primeira ocorreu no ano passado – no mês de março, quando criminosos comemoram dez anos de existência da facção Primeiro Grupo Catarinense (PGC). O secretário de Segurança Pública do estado, César Grubba, disse ao site de VEJA que alguns fatores anteciparam os atos de vandalismo. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Agência RBS/Folhapress
Quais medidas estão sendo tomadas para conter novos ataques com a proximidade do Carnaval? A expectativa é que haja uma diminuição (dos atentados). Não podemos estar 24 horas por dia em todas as ruas e todo os municípios de Santa Catarina. Nós temos um grupo de deflagração de operações policiais civis e militares preventivas em todo o estado. Está todo mundo trabalhando em uma escala, até eu diria, desumana, mas é necessária em razão do momento de que crise por que passa o estado. Essa escala fica apertada em razão do próprio efetivo da policia civil e militar de Santa Catarina. Estamos dando a resposta, tanto é que vários ataques foram evitados em razão de uma ação preventiva, na prisão de várias pessoas portando inclusive material inflamável (garrafa pet com gasolina).
Por que houve uma segunda onda de ataques em Santa Catarina em tão pouco tempo? Na verdade, tudo isso aí está sendo analisado pelas inteligências (policiais e penitenciárias) que estão permanentemente interligadas. Nas inteligências também atuam a Polícia Federal, a Abin e o Exército brasileiro. São pessoas destacadas de dentro da inteligência só com informes com relação a facções criminosas para tentar antecipar ou, se não antecipar, dar uma resposta mais rápida possível. Eu diria que existem várias razões. Por exemplo, o aumento de ações repressivas de nossas polícias ao crime organizado. Questões de roubos, do tráfico de drogas, a partir momento em que você passa apreender uma quantidade muito grande de drogas, você mexe no bolso da organização criminosa. Na parte financeira, desestabiliza a organização criminosa. Tanto é que vários assaltos a caixas eletrônicos foram praticados justamente para buscar dinheiro e fortalecer as organizações.
E em relação ao vídeo com cenas de agressões a presos em Joinville e ao áudio divulgado com denúncia de maus tratos em São Pedro de Alcântara? Isso aí também é combustível, na verdade: um vídeo ou um áudio desses como estão sendo divulgados na televisão, jornais, são fatores contributivos para a segunda onda de ataques. Também já foi na primeira onda de ataques, que estão sendo apuradas (denúncias de maus tratos). Foram feitos exames de corpo delito nos reclusos que estavam feridos. Isso tudo está sendo apurado em inquérito policial e na corregedoria da Secretaria de Justiça e Cidadania. Com esse segundo vídeo ocorreu da mesma forma. Agentes prisionais já foram afastados e aqueles que passaram por cima da lei serão punidos.
Como está o relacionamento entre a direção dos presídios e a Secretaria de Segurança para enfrentar a questão dos maus tratos? O relacionamento e a integração existem. Nós tínhamos as informações de que poderia haver uma segunda onda de ataques em Santa Catarina. Estamos preparados para isso. Em um primeiro momento, as informações davam conta que poderia haver um ataque no mês de março, quando é o aniversário da organização criminosa que age em Santa Catarina. Vários fatores desencadeantes acabaram antecipando esses ataques, quando houve o informe do “salve”. Onde, quando, em que momento e de que forma, muitas vezes, não se consegue antecipar. A própria transferência de presos identificados como participantes de facções criminosas dentro do sistema prisional catarinense é outro fator contributivo para essa onda de atentados. Na segunda onda de ataques que está ocorrendo, (influenciou) a própria conclusão daquele inquérito policial que apurou a morte da agente prisional Deise, a esposa de Carlos (Alves, ex-diretor da penitenciária de São Pedro de Alcântara), que resultou no indiciamento e prisão não só dos mandantes, mas dos executores e de uma advogada também. E os mandantes deste crime estão onde? Dentro do sistema prisional.
Vocês temem ataques a agentes de segurança pública, como ocorreu em São Paulo com o PCC? Todo agente penitenciário, policial militar, civil, está com mais cautela para evitar possível mudança de foco. Por enquanto, o foco maior são ônibus, eventualmente algum outro tipo de prédio. Por exemplo, já jogaram artefatos explosivos em unidades da Polícia Militar. Mas o foco principal são veículos e, eventualmente, algum prédio público.
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