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Mulher foi morta em área sem policiamento, diz prefeita

Dona de casa foi carregada até ocupação de palafitas no Guarujá, no litoral de São Paulo, onde foi espancada até a morte por uma multidão

Por Mariana Zylberkan
11 Maio 2014, 20h36

Vítima de uma barbárie assustadora no Guarujá, litoral de São Paulo, a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, passou quase uma hora e meia subjugada, no último sábado, por uma multidão que pretendia executá-la por um crime que sequer aconteceu. Golpeada com paus e chutes, arrastada e amarrada, ela acabou morrendo dois dias depois na UTI do Hospital Santo Amaro. O massacre só durou tanto tempo porque o crime ocorreu numa área do bairro de Morrinhos formada por palafitas e dominada pelo narcotráfico, onde a polícia raramente consegue entrar. “Na parte do bairro onde ela foi morta não há policiamento porque não há acesso, são palafitas. Só depois, quando ela foi barbaramente arrastada para a região urbanizada, moradores chamaram a polícia e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu)”, afirma a prefeita do Guarujá, Maria Antonieta de Brito (PMDB), que frequentava a mesma igreja da vítima. Leia a entrevista da prefeita ao site de VEJA.

A senhora conhecia a Fabiane? Fabiane é uma moça do bairro onde moram meus pais e onde eu morei até um ano atrás, quando me casei. Nós participamos de uma comunidade católica chamada São João Batista. Ela chegou a fazer parte de grupo de jovens que hoje são da minha equipe. Foi um choque para todos, uma coisa bárbara, um ato desumano. Está todo mundo indignado. As redes sociais usadas de maneira inconsequente podem provocar crimes.

O boato sobre o falso sequestro chegou ao conhecimento da administração? Não há nenhum tipo de informação sobre isso, nossa cidade não registrou nenhum caso de sequestro de crianças. Isso repercutiu em uma rede muito acessada na cidade [página do Facebook “Guarujá Alerta”], que constantemente propaga notícias mentirosas.

Foi tomada alguma providência contra notícias falsas publicadas? Não, nunca houve nada que levasse a isso. Nós monitoramos, quando há alguma informação falsa, imediatamente, a prefeitura se posiciona. Isso aconteceu no último feriado [Dia do Trabalho], quando a página noticiou que eu teria fechado uma Unidade de Pronto-atendimento (UPA) na praia da Enseada. Nessa unidade, há uma sala sendo usada por assistentes sociais que auxiliam a população num programa de habitação. Aquele serviço não estava funcionando no feriado, e o que a página fez maldosamente foi fotografar parte do cartaz que informava isso para dizer que era o pronto-socorro que estava fechado. Isso foi uma conduta muito irresponsável porque gerou uma onda de revolta. Tivemos que recorrer ao Twitter, Facebook, Diário Oficial e TV para negar a informação.

Morrinhos é uma ocupação? Não, é um bairro formal, com uma parte que chamamos de não urbanizada, fruto de ações politicas antigas e invasão de áreas. O bairro é organizado até Morrinhos 4, onde, a partir da última rua, existe uma ocupação de área de mangue. Nós estamos trabalhando para remover gradualmente esses núcleos.

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Por que não havia um policial no local para evitar a tragédia? Realmente, na parte do bairro onde ela foi morta não há policiamento porque não há acesso, são palafitas. Só depois ela foi barbaramente arrastada para a região urbanizada, onde moradores chamaram a polícia e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A polícia foi acionada por algum cidadão que se indignou com o que viu.

Há alguma política pública que será acelerada para esse bairro? O bairro não é isolado, tem mais de 40.000 moradores e estamos com grande investimento do PAC e do governo do Estado para a construção de unidades habitacionais e obras de infraestrutura. Tive uma grande luta para tirar o Guarujá da imagem de descredibilidade e de endividamento para conseguir resgatar investimentos. No bairro de Morrinhos, temos escolas, creches e unidades básicas de saúde.

Mas na parte de palafitas não há essa estrutura. Isso não é um assunto fácil de resolver. Temos mais de 100.000 pessoas vivendo em condições subnormais e contamos com o PAC habitacional da Baixada Santista para remover famílias de área de alto risco, assim como o CDHU para a mesma finalidade. Entramos no programa Litoral Sustentável, que irá assentar um número enorme de famílias, e isso significa que estamos enfrentando o problema com seriedade. São heranças que temos enfrentado. A questão que estamos falando é da Fabiane, da vida dela, e a vida é um dom de Deus, não pode ser tirada por ninguém. As pessoas que tiraram a vida da Fabiane tem que responder por seus atos.

A Fabiane foi levada para ser morta em Morrinhos 4 justamente por ser um lugar desassistido pelo Estado? É justamente por isso que estamos levando toda a questão de urbanização para lá e também as políticas habitacionais de infraestrutura, porque não se muda a cidade de uma hora para outra, muda com políticas consistentes. É isso que estamos fazendo.

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