Estudante da USP é espancado e denuncia homofobia
Agressor Bruno Portieri, de 25 anos, culpou vítima pelo ocorrido: "Apanhou de besta porque, se tivesse seguido o caminho dele, não teria apanhado"
Dois homens foram presos na terça-feira por tentativa de homicídio após terem espancado o estudante de Direito da Universidade de São Paulo (USP) André Baliera, de 27 anos. Ele voltava a pé para casa pela Rua Henrique Schaumann, em Pinheiros, na zona oeste, quando foi agredido.
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Por volta das 19 horas, Baliera viu que alguém mexia com ele de dentro de um carro. Segundo a vítima, era o também estudante Bruno Portieri, de 25 anos, que o ofendia por sua orientação sexual. O universitário começou a discutir e Portieri saiu do carro.
Baliera fez menção de pegar uma pedra para se defender. Foi quando o motorista do veículo – o personal trainer Diego de Souza, de 29 anos – desceu e começou a agredi-lo. Ele só parou de bater no universitário quando policiais militares chegaram para ver o que ocorria e detiveram ele e o amigo.
Com escoriações na cabeça, dores no corpo e sem dormir, Baliera ainda estava confuso e transtornado na tarde da terça-feira. “Assumo que trocamos ofensas. Mas a atitude deles era de como se bater em alguém fosse a coisa mais comum do mundo.”
Na noite de segunda, após a prisão, Portieri deu entrevista à TV Record e culpou a vítima pela agressão. “Apanhou de besta porque, se tivesse seguido o caminho dele, não teria apanhado.” Segundo sua irmã, Portieri é “do bem” e estava no lugar errado na hora errada. “Foi um momento de fúria, não foi por homofobia. A imprensa está dando muita atenção para o caso, mas o menino (Baliera) está vivo”, disse Polianne Portieri.
Joel Cordaro, advogado dos dois agressores, dá outra versão. “Tudo começou porque eles pararam na faixa de pedestre e a vítima mostrou o dedo do meio. Eles foram provocados”, afirma. Segundo ele, não seria possível saber que André era homossexual apenas o vendo atravessar a rua. O advogado já entrou com pedido de habeas corpus.
Reação – André cursa o último ano de Direito. Na faculdade ajudou a criar o Grupo de Estudos sobre Direito e Sexualidade (Geds). Também trabalhou no Centro de Combate à Homofobia da Prefeitura de São Paulo. Amigos e integrantes de movimentos anti-homofobia já planejam nas redes sociais passeata na Avenida Paulista, “escrachos” (protesto em frente à casa dos agressores) e outras ações.
Para o deputado federal Jean Wyllys, não foi um fato isolado. “Casos assim são uma reação à própria visibilidade da comunidade LGBT.”
(Com Estadão Conteúdo)