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Cunha era ‘sócio oculto’ de operador do PMDB, diz delator

Julio Camargo afirma que presidente da Câmara tinha acordo com operador do PMDB no esquema e que acionou o ex-ministro Edison Lobão para conter deputado

Por Felipe Frazão e Laryssa Borges
16 jul 2015, 18h39

O delator do petrolão Julio Camargo, consultor da empreiteira Toyo Setal, chamou o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de “sócio-oculto” de Fernando Soares, o Baiano – acusado de ser o operador do PMDB no esquema de desvio de recursos da Petrobras e pagamento de propina a políticos e diretores da estatal. Nesta quinta-feira, Camargo detalhou pela primeira vez em depoimento à Justiça Federal como Cunha cobrou o pagamento de 5 milhões de dólares de propina em um contrato de navios-sonda da Mitsui e Samsung para exploração do pré-sal.

Segundo Camargo, além de Cunha, os beneficiários finais do dinheiro foram ele mesmo e Fernando Baiano, suspeito de intermediar propinas para políticos do PMDB no esquema. O delator afirmou que manteve uma relação contratual com Baiano. “O Fernando [Baiano] foi um beneficiário, como meu parceiro, da mesma maneira como eu ganhei ele ganhou também. Eu não sabia que ele tinha um sócio oculto, que era o deputado Eduardo Cunha, e que também ganhou”, disse Camargo.

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A revelação irritou advogados presentes no depoimento, em Curitiba (PR). A defesa de Fernando Baiano disse que a nova informação sobre a propina a Eduardo Cunha causou “estranheza e perplexidade” e chegou a bater boca com Camargo. O juiz Sergio Moro precisou intervir e pedir que mantivessem “a urbanidade” na audiência. “Não se admite delação premiada a conta gotas”, reclamaram.

Camargo disse que sempre depôs de boa-fé, mas que “pode ter errado na sequência dos fatos” por ser inexperiente em colaborações premiadas. O consultor afirmou que já havia citado Cunha ao Ministério Público Federal, em Brasília, há cerca de três ou quatro meses, e que entregou documentos que podem comprovar sua versão.

Lobão – Ele também revelou ter acionado o então ministro de Minas e Energia, senador Edison Lobão (PMDB-MA), para tentar conter as pressões e ameaças de Cunha, no âmbito do Legislativo.

Em agosto de 2011, a diretoria da Mitsui no Rio procurou Camargo com o requerimento assinado pela então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), atual prefeita de Rio Bonito (RJ) e aliada do presidente da Câmara (*). O requerimento encaminhado ao então ministro Lobão pedia que todos os processos da Mitsui com a Petrobras ou qualquer subsidiária fossem remetidos à pasta para avaliação e eventual remessa da documentação ao Tribunal de Contas da União (TCU).

A Mitsui disse que estaria à disposição da Petrobras e pediu para Julio Camargo não tomar “nenhuma ação isolada” diante da investida de Eduardo Cunha. Mesmo assim, ele disse que pediu ao ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa que procurasse Lobão para interceder junto a Cunha.

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Em uma conversa com Lobão na base aérea do aeroporto Santos Dumont, no Rio, Julio Camargo disse ter reclamado sobre o requerimento de informações na Câmara. “Isso é coisa do Eduardo”, disse Lobão. O então ministro telefonou, segundo os relatos do delator, para Eduardo Cunha imediatamente após a reclamação. “Eduardo, estou aqui com o Julio Camargo. Você está louco?”

Julio Camargo descreveu o comportamento de Cunha a pedido do procurador da República Diogo Castor de Mattos. “Uma pessoa agressiva sob o ponto de vista verbal, que tenta lhe constranger, lhe colocar à corner no sentido de impor suas ideias.” O lobista da Toyo Setal disse que realizou o pagamento porque “poderia haver retaliações em contratos que tinha em outras áreas”. “Num determinando momento o PMDB também passou a apoiar a área de Abastecimento, em que eu tinha muitos contratos, e havia receio e uma pressão contra os meus interesses”, disse.

O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, que defende Lobão, disse que não vai se manifestar sobre as novas revelações de Camargo. No entanto, ele criticou a possibilidade de o delator continuar a prestar depoimentos “a conta gotas”. “A regra da delação é muito rígida. Não pode se dar a conta gotas por interesse de quem quer que seja. Se ele apresenta agora uma segunda versão, não poderia estar solto. As delações são todas nulas e ele deveria estar preso”, disse.

Em nota, a Procuradoria-Geral da República informou que o depoimento de Julio Camargo “não tem qualquer relação com as investigações em trâmite no âmbito do Supremo Tribunal Federal”. “A audiência referente à ação penal da primeira instância – que tem réu preso, ou seja, tem prioridade de julgamento – foi marcada pelo juiz federal Sergio Moro há semanas e a PGR não tem qualquer ingerência sobre a pauta de audiências do Poder Judiciário, tampouco sobre o teor dos depoimentos prestados perante o juiz”, disse o Ministério Público.

*Texto alterado em 7 de março de 2016 para corrigir o nome da ex-deputada Solange Almeida

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