CPI mista da Petrobras termina sem indiciamentos
Relatório final dos congressistas poupa cúpula da petrolífera e ignora evidências de propinoduto a parlamentares e ex-executivos da empresa
(Atualizado às 20h)
Apesar das evidências de um megaesquema de corrupção que sangrou os cofres da maior empresa brasileira, o relatório final da CPI mista da Petrobras apresentado nesta quarta-feira pelo deputado Marco Maia (PT-RS) poupou a cúpula da estatal de responsabilidades, desqualificou análises técnicas desenvolvidas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e terminou por não indiciar nenhuma autoridade.
O fim melancólico da CPI mista era previsível, já que os trabalhos do colegiado foram controlados por governistas e nem deputados nem senadores tiveram acesso aos conteúdos das delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. As revelações de ambos incluem a informação de que parlamentares, governadores e até um ministro de Estado receberam propina do esquema do petrolão.
Em 903 páginas de relatório, ao não indiciar nenhuma autoridade, Maia apenas recomenda o aprofundamento das investigações contra executivos e pessoas como o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano e apontado como o operador do PMDB no petrolão, contra a ex-contadora do doleiro Alberto Youssef, Meire Poza, e contra ex-dirigentes da Petrobras, como Nestor Cerveró, ex-Diretor da área internacional, Paulo Roberto Costa, ex-Diretor de Abastecimento, Pedro Barusco, ex-Gerente-executivo de Serviços e Engenharia, e Renato Duque, ex-Diretor de Serviços e Engenharia. O texto apenas corrobora os indiciamentos feitos pela Polícia Federal na Operação Lava Jato.
“Nós indiciamos 52 pessoas. Estamos corroborando e ratificando, inclusive, todos os indiciamentos que já foram produzidos pela Polícia Federal”, diz ele. O petista admite que pode mudar o relatório: “Aquilo que for mal entendido e mudanças que precisem ser produzidas no relatório eu acatarei com a maior tranquilidade”, declarou ele após a reunião. O impasse se deve ao uso do termo “responsabilização” em vez de “indiciamento”.
A atual cúpula da Petrobras, presidida por Maria das Graças Foster, e o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli, foram poupados de pedidos de aprofundamento de investigações.
O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), pediu tempo para apreciar o relatório: “Não vamos poder tomar uma decisão em cima de um resumo”, disse ele. O parlamentar também disse que a presidente é responsável pelos desmandos e deve ser mencionada no documento final: “Eu quero indiciar a presidente Dilma Rousseff, porque ela é a grande responsável por tudo isso”, afirmou.
O relatório de Maia também encampa a tese governista de que a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, atendeu a critérios mercadológicos – apesar do prejuízo bilionário causado pela transação. A oposição criticou: “O próprio delator já aponta que a operação de Pasadena alimentou o esquema de corrupção e de desvios da Petrobras”, disse o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), em referência a Paulo Roberto Costa. Marco Maia, entretanto, não pretende alterar esse trecho do relatório: “Vamos resolver no voto”, diz. O texto deve ser votado na quarta-feira que vem, cinco dias antes do fim do prazo de funcionamento da CPI.
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