Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Cid Gomes é demitido após agravar crise com Congresso

Ministro da Educação enfrentou o presidente da Câmara e chamou deputados de "achacadores". PMDB ameaçou boicotar projetos do governo

Por Marcela Mattos e Gabriel Castro, de Brasília
18 mar 2015, 18h10

Depois de provocar a ira de deputados governistas e de oposição, a quem chamou de “achacadores”, e comprar briga com o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ministro da Educação, Cid Gomes, foi demitido do cargo na tarde desta quarta-feira. A informação foi divulgada pelo próprio presidente da Câmara e recebida com aplausos pelo plenário.

A cadeira do chefe da pasta responsável pela “Pátria Educadora”, bordão que a presidente Dilma Rousseff tentou emplacar, é a primeira a ficar vaga em menos de cem dias de mandato. Oficialmente, Cid Gomes disse ter entregado o cargo imediatamente após abandonar uma sessão da Câmara na esteira de um bate boca com deputados. Porém, sua saída foi uma reação imediata à ameaça do feita pela bancada do PMDB de não votar mais projetos enviados pelo governo caso Gomes permanecesse no cargo.

A passagem do ministro pelo plenário foi tensa do começo ao fim. Gomes foi convocado pelos parlamentares para explicar a frase de que “a Câmara tinha 300 a 400 achacadores”, dita durante palestra para estudantes na Universidade Federal do Pará há vinte dias. Porém, ao contrário do que os deputados esperavam – uma retratação -, ele repetiu a frase e ainda provocou diretamente Eduardo Cunha: “Eu fui acusado de ser mal educado. O ministro da Educação é mal educado”, afirmou, em referência à declaração de Cunha, feita logo após articular a convocação de Gomes. E continuou, apontando para o chefe da Câmara: “Eu prefiro ser acusado por ele do que ser como ele, acusado de achaque, que é o que diz a manchete da Folha de S. Paulo“, continuou o ministro da Educação, em alusão às denúncias de envolvimento de Cunha com o esquema do petrolão.

A fala incendiou o plenário e provocou uma reação multipartidária, com parlamentares se revezando na tribuna para emparedá-lo. Gomes decidiu deixar a Câmara quando, da tribuna, o deputado Sérvio Zveiter (PSD-RJ) afirmou: “No fundo o senhor está fazendo papel de palhaço. Era melhor colocar uma melancia no pescoço”. Cid Gomes interrompeu o discurso do deputado para cobrar respeito. Foi quando Cunha interferiu: “Desliguem o microfone, há um orador na tribuna e vossa Excelência nem parlamentar é”. Enquanto Zveiter repetia a frase que acabara de dizer, Cid Gomes se dirigiu à saída do plenário.

Do lado de fora, cercado pela claque de prefeitos do interior do Ceará que levou a Brasília, o ministro disse que não pediria demissão. “Eu sou ministro até o dia em que a presidente Dilma desejar”, disse. Mas o estrago já estava feito: simultaneamente, o PMDB anunciava que não votaria mais projetos de interesse do Executivo. Enquanto Cid Gomes seguia até o Palácio do Planalto, o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, telefonou para Cunha para dar a notícia: Cid Gomes não era mais o ministro da Educação. Cunha, a maior pedra no sapato do governo, acabava de ganhar mais uma queda de braço, em mais uma demonstração de força aos seus comandados. Desta vez, com a anuência de Dilma. Nos bastidores, aliados do governo entenderam o gesto como uma tentativa de recomposição.

Continua após a publicidade

Ao deixar o Palácio do Planalto, Cid admitiu que deixava o posto por ter atiçado a já inflamada relação do governo com o Congresso. “A minha declaração e, mais do que ela, a forma como eu coloquei na Câmara, é óbvio que criam dificuldade na base do governo. Portanto, eu não quis criar qualquer constrangimento.”

Polêmicas – A exemplo do irmão, o ex-ministro lulista Ciro Gomes, Cid tem um extenso histórico de polêmicas em suas duas passagens pelo governo do Ceará. Além de excentricidades , como um contrato de mais de 3 milhões de reais por ano para abastecer a cozinha do Executivo com um cardápio de luxo, Cid enfrentou professores cearenses em 2011 ao afirmar que eles deveriam trabalhar por “amor” e sugerir que os docentes pedissem demissão e fossem para o ensino privado caso quisessem salários maiores.

Em sua gestão no governo do Ceará, Cid utilizou um jatinho pago com dinheiro público para levar a família para passear na Europa e foi alvo do Ministério Público por ter contratado a cantora Ivete Sangalo e o tenor Plácido Domingo para shows de inauguração de obras locais – apenas o cachê do cantor espanhol chegou a 3,1 milhões de reais.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.