Carandiru: júri é dissolvido após saída de advogado
Celso Vendramini deixou o plenário reclamando do juiz; terceira etapa do julgamento dos PMs não tem data para ser retomada
A terceira etapa do julgamento do massacre do Carandiru foi suspensa nesta terça-feira após o advogado de defesa dos réus, Celso Vendramini, abandonar o plenário no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Segundo a Agência Brasil, Vendramini reclamou que o juiz Tellini de Aguirre Camargo estaria beneficiando a promotoria. Ele deixou a sessão enquanto o júri ouvia o depoimento do primeiro réu. Com isso, o conselho de sentença foi dissolvido e o tribunal definirá uma nova data para o reinício do julgamento.
“Estou percebendo que, para o Ministério Público, tudo, e para a defesa, nada”, afirmou o advogado, ao deixar a sessão. Vendramini havia se irritado com o MP porque um dos promotores estava lendo um depoimento prestado pelo réu em outra ocasião. Ele pediu que o juiz interviesse e, como não foi correspondido, abandonou o plenário. “O que o Ministério Público estava fazendo era ler um depoimento longo do réu, e no final ele perguntava o que bem entendia. O correto, em um tribunal de júri, é fazer perguntas”, questionou.
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O promotor Eduardo Olavo Canto Neto classificou a atitude do advogado como um “desrespeito à lei e à sociedade”.
Esta é a segunda vez em que Vendramini abandona um plenário. Em 2011, quando defendia quatro PMs acusados de homicídio, o advogado deixou uma sessão em protesto a pessoas que usavam camisetas com fotos das vítimas. “Lamentamos profundamente. Isso foi uma surpresa para nós, um absurdo”, afirmou. A promotoria cobrou punição para impedir a reincidência do ato.
No encerramento da sessão, nesta segunda-feira, Vendramini já dava sinais de que havia se desentendido com o juiz por causa de uma discussão entre a defesa e a Promotoria. Na ocasião, o advogado afirmou que foi chamado de “mal educado” pelo magistrado.
Nesta terceira etapa, são julgados quinze policiais acusados da morte de oito detentos no terceiro andar do pavilhão nove do antigo presídio. Em outubro de 1992, o prédio foi palco de uma rebelião que terminou com a morte de 111 presos.
Testemunhas – Nessa terça-feira, o julgamento foi retomado com o depoimento de duas testemunhas de defesa. O agente penitenciário Francisco Carlos Leme afirmou que viu cerca de 75 corpos amontoados no pátio antes de a Polícia Militar entrar no pavilhão nove, foco da rebelião. Leme foi o responsável pela contagem dos 111 mortos e estava de plantão no dia do motim.
Outra testemunha ouvida foi o ex-secretário de Segurança Pública Pedro Franco Campos, que autorizou a incursão da PM no local. Como já havia dito anteriormente em outros julgamentos, ele reafirmou que a entrada da polícia no Carandiru foi necessária.
No ano passado, 48 policiais foram condenados nas duas primeiras etapas do julgamento. Por causa do alto número de mortes e réus, o caso foi desmembrado em quatro partes de acordo com os andares onde ocorreram as mortes.