Candidatos de oposição abrem caminho para Marcelo Freixo atacar Eduardo Paes
Sobraram ideias vagas. Faltaram temas importantes para a cidade, como chuvas, grandes eventos, especulação imobiliária e segurança
Apesar de muitas referências ao meio ambiente, o grande problema ambiental da cidade, que causa mortes todos os verões, também ficou de fora: as chuvas e a ocupação das encostas
Não chega a ser surpresa. Mas o eleitor que esperava comparar os candidatos a prefeito do Rio no primeiro debate transmitido pela TV, na noite de quinta-feira, deve ter ficado ligeiramente confuso. Em tese, os candidatos estavam frente a frente para dirigir perguntas aos rivais, colocando em prova o que os oponentes sabem sobre a cidade, o que pretendem fazer. Não foi bem assim: com exceção das perguntas dirigidas a Eduardo Paes, os postulantes ao Palácio da Cidade trocaram elogios e rolaram a bola para os adversários. “Eu concordo 100% com você”, chegou a dizer Rodrigo Maia (DEM) a Otávio Leite (PSDB), no segundo bloco, falando sobre saúde.
Maia, aliás, desperdiçou as chances que teve de dirigir perguntas a Eduardo Paes. Ficou estranho. Enquanto respondia, criticava o prefeito. Mas na hora de endereçar a pergunta, desviava dele. Os ataques mais francos vieram de Marcelo Freixo, do PSOL, que aparece em segundo no DataFolha, com 10% – Paes tem 54% e venceria no primeiro turno, segundo o instituto. Freixo criticou transportes e educação, falando alguns tons acima do que o eleitor está acostumado a ouvir. E, sempre que possível, dava a entender que tudo na prefeitura vai mal.
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A intenção foi boa. Freixo demonstrava segurança e pareceu combativo. Mas Eduardo Paes, se não tem a coisa solucionada, tem projetos em andamento, galopando nos gordos orçamentos da Copa e da Olimpíada, que trazem recursos do governo federal para a cidade. Sobre transporte, falou do BRT e de obras do metrô. Nada está pronto, mas em uma cidade que passou muito tempo sem perspectiva de transformação, os tapumes do BRT e os buracos do metrô não deixam de ser bons alentos. Sobre educação, citou melhorias da cidade no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
A pesquisa DataFolha colocou saúde como principal preocupação dos cariocas. Mas o tema só apareceu com força quando a pergunta veio de um convidado, gravada previamente. O infectologista Edmilson Migowski gravou uma pergunta sobre problemas da saúde infantil. Sorteado, Freixo fez uma ressalva: o problema não é do Rio, mas nacional. Depois da sucessão de ataques, o candidato do PSOL voltou a falar com o tom costumeiro, bem mais cordial que o de “candidato enfurecido”. Aspásia Camargo (PV) continuou a resposta, resumindo a situação do Rio e expondo um quadro que persiste na cidade: o carioca que depende do sistema público não tem certeza sobre que unidade procurar, apesar dos muitos hospitais públicos (federais, municipais e estaduais). Segundo ela, o Rio tem “hospitais demais e serviços de menos”.
Se não funcionou bem como debate, o encontro promovido pela Band foi fiel ao que se desenha para a campanha: um empenho desesperado para evitar que Paes, o PMDB e a imensa coligação liquidem a fatura no primeiro turno, como é a tendência atual. Freixo, mais uma vez ele, fez um apelo. “É importante termos segundo turno”, disse, em defesa de mais debates sobre a cidade.
Sobraram ideias vagas. Faltaram temas importantes para o futuro da cidade. A especulação imobiliária – o Rio se equipara ou supera as cidades mais caras do mundo – ficou de fora. Os grandes eventos, como Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo, Carnaval e a Olimpíada, no momento em que estão acontecendo os jogos de Londres, pareceram esquecidos. Só uma vez foi feita pergunta sobre segurança.
Apesar de muitas referências ao meio ambiente, o grande problema ambiental da cidade, que causa mortes todos os verões, também ficou de fora: as chuvas e a ocupação das encostas. Se alguém tinha propostas claras sobre como evitar a ocupação de áreas perigosas, guardou para o próximo debate.