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O Black Bloc quer incendiar a greve dos garis

Servidores da Comlurb não sabem quem convocou protesto pelo Facebook. Mascarados já tentam controlar atos públicos e são repreendidos pelos grevistas

Por Pâmela Oliveira e Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
6 mar 2014, 19h36

Ao lado do lixo, cresce no Rio de Janeiro a pilha de interessados em ver a greve dos garis pegar fogo. O maior perigo para os grevistas está na ação de grupos radicais que tentam se apropriar dos protestos, como houve na paralisação dos professores, no ano passado. Os black blocs agora têm no movimento dos garis o seu ninho de rebeldia. No Facebook, os mascarados estão convocando um protesto contra a demissão dos garis, na Candelária, no próximo dia 11. Há mais de 5.000 confirmações de presença. Um dos líderes dos grevistas, o gari Alexandre Pais Silva disse ao site de VEJA desconhecer quem está organizando o protesto e garantiu que a ideia não partiu dos garis. “Parece uma homenagem aos garis, mas não sabemos quem criou o protesto”, disse. Silva é um dos quatro grevistas filiados ao Partido da República (PR).

O evento foi criado pelo grupo “Fora Eduardo Paes”, que se define como uma “comunidade em defesa do povo e da cidade do Rio de Janeiro, contra Eduardo Paes”. O encontro também é divulgado na página do grupo Anonymous. Entre os convidados, estão garis que tiveram os endereços eletrônicos coletados ao longo dos protestos da categoria por integrantes do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe), que em outubro declarou “apoio incondicional” aos black blocs, ou por pessoas ligadas a movimentos como o Ocupa Câmara.

Em entrevista ao site de VEJA, outros garis disseram temer a aproximação com os black blocs. “Não queremos perder o apoio da sociedade. Se tiver briga, violência, fica ruim”, afirmou um deles, que afirma não concordar com ataques e provocações aos policiais durante os protestos. “Eles são tão mal remunerados quanto nós”, disse.

Salário – O salário atual dos garis, de 806,12 reais, está 3,59 reais acima do piso das empregadas domésticas. O aumento de 9% anunciado pelo município do Rio na segunda-feira, elevaria o piso da categoria para 874,79 reais – isso porque, desde 2012, ficou acordado entre Comlurb e sindicato que a categoria não poderia receber salário inferior ao das empregadas domésticas. Os garis têm, sobre esse valor, 40% de adicional por insalubridade, o que eleva o vencimento mínimo de um iniciante para 1.224,70 reais. Os grevistas reivindicam salário-base de 1.200 reais, porque o adicional por insalubridade deixa de ser recebido em caso de afastamento por doença ou após a aposentadoria. O único aumento concedido até agora, além do que já estava acordado, é o de 1,68% para o salário-base de quem tem mais de dois anos de serviço na empresa.

O salário baixo é um problema. O sindicato não obter um bom acordo é outro. E nenhum dos dois se resolve com ações violentas, intimidação ou fechamento de ruas. Os garis estão em seu direito de protestar. Mas a dissidência que surgiu no sindicato torna a negociação praticamente impossível. Houve um acordo entre o município e o Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do município do Rio de Janeiro. Mas um grupo, insatisfeito com a negociação, decidiu não mais reconhecer o sindicato como seu representante. E mais: passou também a tentar impedir quem quer trabalhar.

Os black blocs já estão em ação. No último domingo, um grupo de black blocs foi ao encontro dos garis que protestavam em frente à sede da prefeitura e foi repreendido pelos grevistas. “Eles chegaram vestidos de preto e vimos que não eram garis. Avisamos a eles que não queremos baderna. Nosso movimento é pacífico. Não queremos confusão”, disse a gari Edna dos Santos. “Só vou participar se for pacífico”, disse Edna, sobre o ato programado para o dia 11.

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Partidos – Tanto no sindicato quanto entre os grevistas há pressões políticas, como é de se esperar. O tesoureiro do sindicato, Manoel Martins Meireles, é filiado ao PTB, partido da base aliada do prefeito Eduardo Paes. Foi candidato a vereador em 2012, mas não foi eleito. O sindicato é acusado pelos grevistas de não brigar por um reajuste salarial maior.

Há pelo menos quatro lideranças grevistas que são ou foram filiadas ao PR, presidido no estado pelo ex-governador Anthony Garotinho, adversário de Paes. O gari Célio Viana foi candidato a vereador em 2012 pelo PR e também não se elegeu. Domingos Lopes Fernandes concorreu, da mesma maneira, a uma vaga na Câmara Municipal do Rio de Janeiro em 2012, mas se desligou do partido em maio do ano passado. Também são filiados ao PR os garis Alexandre Pais da Silva e João Carlos Bomfim Rosa. O secretário-geral do partido no Rio, Fernando Peregrino, negou que os protestos tenham recebido qualquer tipo de apoio financeiro ou logístico da legenda.

A executiva estadual do PSOL negou que integrantes do partido estejam envolvidos no comando de greve. A nota foi uma resposta a uma declaração do vice-presidente do Sindicato de Empresas de Asseio e Conservação, Antônio Carlos Silva. Na nota, o PSOL afirma que a greve dos garis é “mais um sintoma do acelerado processo de degradação dos serviços públicos essenciais” e acusa a prefeitura do Rio de “escolher o lado dos empresários”.

Desde o início da greve, no último sábado, o número oficial de profissionais fora do serviço é de 300. A sujeira das ruas, no entanto, leva a crer que a paralisação é maior. A Comlurb admitiu, nesta quinta-feira, que estão sem trabalhar um contingente entre 30% e 35% dos 4.000 garis que atuam diretamente na varrição e na coleta de detritos. O presidente da empresa, Vinícius Roriz, afirmou ao jornal O Globo que pode haver profissionais em “greve branca” – quando, segundo ele, comparecem à empresa mas não trabalham efetivamente.

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