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Altino Prazeres, o militante que encabeçou a greve do metrô

Presidente do Sindicato dos Metroviários aproxima cada vez mais a categoria de movimentos sociais, como o Passe Livre, o que provoca insatisfações

Por Mariana Zylberkan
10 jun 2014, 07h30

Na assembleia que decidiu pela suspensão da greve dos metroviários, após cinco dias de embate com o governo estadual, Altino de Melo Prazeres Júnior, de 47 anos, presidente do Sindicato dos Metroviários, enfrentou a oposição da própria categoria. Na noite desta segunda-feira, durante a reunião, um metroviário gritou no meio da multidão: “Senhor presidente do sindicato, tome um partido e dê a sua opinião. Isso é manipulação”. A manifestação de impaciência com o dirigente se deu em meio ao impasse deflagrado na sede do sindicato, no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo, diante da decisão de manter ou não a paralisação. Na sequência, a maioria dos sindicalizados votou pelo fim da greve – opção contrária ao que pedia Prazeres Júnior, para quem a categoria deveria permanecer de braços cruzados pelo menos por mais um dia. Segundo ele, esta seria uma maneira de pressionar o governo a readmitir os 42 metroviários que perderam seus empregos por causa da greve – a tática de colocar o Estado contra a parede, aliás, se mostrou durante toda a paralisação um erro estratégico do sindicalista: a Justiça não só considerou a greve abusiva, como fixou o aumento da categoria em 8,7%, longe dos ‘dois dígitos’ pleiteados por Prazeres Júnior. A reação do metroviário exaltado denota a insatisfação que já toma boa parte da categoria. E não apenas por causa desta greve: os metroviários estão irritados com as constantes tentativas do presidente do sindicato de engajá-los nas manifestações de movimentos sociais, algo mal visto por muitos dos sindicalizados.

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À frente de um dos sindicatos mais importantes do país no setor de transporte público, Prazeres Júnior é militante do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) – e deixa claro o quanto sua filiação partidária interfere nas decisões como sindicalista. Há duas gestões à frente do sindicato, posto que assumiu em 2010, ele tem imposto cada vez aos colegas a adesão a plataformas de movimentos como o Passe Livre. Em 2013, a proximidade com os manifestantes provocou revolta entre os metroviários: “É um absurdo nosso presidente apoiar um movimento que depreda as estações de metrô em protestos”, disse um metroviário que preferiu o anonimato, sobre o episódio. Na ocasião, Prazeres Júnior teve de subir ao palanque do sindicato para pedir desculpas à categoria. Mas não parece ter aprendido a lição: desde o início da greve, era possível identificar na sede do sindicato representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Na tarde desta segunda, os sem-teto fizeram até mesmo um protesto em prol dos metroviários.

A contaminação política das atividades sindicais é vista com resignação pela maioria: foi assim em todas as gestões anteriores, pautadas pela agenda do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e agora, pelo PSTU. A influência do partido ficou visível na assembleia realizada na noite desta segunda-feira. Aguardado pela categoria para informar o teor da reunião entre o sindicato e o governo, mediada pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT), o presidente do sindicato chegou acompanhado do pré-candidato à Presidência do partido, José Maria de Almeida. Antes de subir ao palanque, ciente de que estava a poucos instantes do fim da greve sem conquistar a maioria das reivindicações, ele perguntou algo ao pé do ouvido de Almeida, que respondeu: “Depois a gente vê isso, Altino”.

“O Zé Maria é meu amigo pessoal, converso sobre muitos assuntos com ele, inclusive pessoais, e sempre peço sua ajuda quando preciso, como aconteceu hoje”, disse o presidente do sindicato. A resposta ao questionamento sobre sua proximidade com o presidente do PSTU foi dada no mesmo tom firme e com o leve sotaque nordestino com que se dirige à categoria no palanque. Considerado pelos companheiros um homem muito inteligente, Prazeres foi reeleito presidente do sindicato no ano passado, com 62,4% dos votos, índice maior do que quando foi eleito pela primeira vez, em 2010, com 53% dos votos. O operador de trem, que atua há mais de vinte anos na linha 1-Azul do metrô, é elogiado por ser um presidente que tem carisma e mantém contato com as bases da categoria.

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O gosto pela leitura é conhecido entre todos e parece natural a Prazeres desfilar seu repertório esquerdista para se expressar. Ele cita o ditador russo Josef Stalin ao criticar a decisão do governo de repor os trens do metrô por composições mais modernas, sem atualizar o sistema de tráfego. “É como aquela piada do Stalin, que pediu um caminhão igual ao que circulava nos Estados Unidos, mas esqueceu que era para andar na Sibéria, onde as estradas ficam cheias de gelo.”

Além de Stalin, ele gosta de fazer alusão à vida em família para ilustrar seus argumentos. “Você até pode mandar seu filho ir dormir, mas ele só irá se deitar se quiser”, disse, ao explicar a decisão da maioria dos metroviários de paralisar a greve. A formação marxista também é evidenciada por sua leitura sobre o significado da greve. “Não é só um problema econômico, faz parte de uma psicologia de massa. É a expressão de muita raiva acumulada, como a cultivada pelos seguranças por exemplo, que começam a carreira e morrem no mesmo cargo.”

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