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A última peça do quebra-cabeça da morte de Eliza Samudio

Policial civil que apresentou o goleiro Bruno a Bola nunca foi indiciado, por falta de provas. Investigadores suspeitam que ele saiba mais sobre o caso

Por Andréa Silva e Leslie Leitão
8 jul 2012, 19h40

Não se pode indiciar ou condenar alguém com base em coincidências ou estranhezas. E para o bem da democracia, a Justiça deve trabalhar com clareza no exame de provas técnicas. Mas há uma incomoda abundância de coincidências na relação de Zezé com os acusados da morte de Eliza

O processo sobre o sequestro e a morte da jovem Eliza Samudio tem importantes provas testemunhais – um menor revelou detalhes do local e do momento da execução – e materiais, como restos dos pertences da ex-modelo queimados no sítio do goleiro Bruno. Evidências como sangue em um dos carros do goleiro, os vestígios que comprovam a passagem da jovem e do menino Bruninho pelo sítio em Esmeraldas e dados das antenas dos celulares dos acusados permitiram recontar os passos do jogador e de seus amigos desde o sequestro de Eliza, no Rio, até a casa do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, último algoz da jovem.

As revelações feitas por VEJA desta semana, que traz à tona uma carta de Bruno para Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, falando de um “plano B” para livrar o goleiro e incriminar o amigo, reforça o conjunto de provas que os sete réus vão enfrentar no tribunal. Entretanto, há uma lacuna importante: apesar de repetidas buscas, o destino que foi dado a corpo de Eliza permanece um mistério. A versão mais macabra para essa incógnita é a de que Bola teria esquartejado o corpo e, em seguida, cães da raça rottweiller teriam devorado o cadáver. Especialistas de diferentes áreas, da criminalística à veterinária, não conseguiram chegar a uma conclusão sobre essa possibilidade.

O inquérito que começou apenas com Bruno e seus amigos mais próximos envolvidos foi, aos poucos, ganhando novos suspeitos, à medida que a polícia descobria pessoas com alguma relação com o caso. Nem todos os identificados como suspeitos, no entanto, foram indiciados. A relação de um deles com os acusados de matar Eliza é, no mínimo, curiosa. Aposentado desde março do ano passado, José Lauriano de Assis Filho, o Zezé, trabalhava no 2º Distrito Policial, no bairro Floramar, na época do crime.

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Como admitiu à polícia, Zezé foi quem apresentou Bola ao goleiro Bruno e a Macarrão. Ele também foi a primeira pessoa a ser procurada por Bola momentos após a execução de Eliza, pelo que relata o inquérito.

Fontes do Ministério Público de Minas Gerais ouvidas por VEJA explicam que, apesar de na época os investigadores terem manifestado convicção do envolvimento dele como crime, nada foi provado, e ele consta no processo apenas como testemunha. Zezé apresentou álibis para todas as suspeitas que poderiam comprometê-lo. Em um de seus dois depoimentos à polícia, em 27 de julho de 2010, Zezé conta que apresentou Bola ao goleiro porque o filho do ex-policial teria interesse em tentar uma vaga nos grandes clubes do Rio. Ele afirma também que, na noite de 10 de junho de 2010, quando Eliza foi morta, foi procurado por Bola porque este havia pedido dinheiro emprestado. O encontro entre os dois, pouco depois das 22h. A polícia acredita que Eliza foi morta entre 21h e 22h, período em que os celulares de todos os envolvidos foram desligados. O encontro se deu, segundo Zezé, para que ele entregasse ao ex-policial a quantia de 50 reais.

Depois de dois depoimentos, a polícia não encontrou dados que incriminassem Zezé. No último sábado, já depois da divulgação das novas provas obtidas por VEJA, o delegado Edson Moreira, que durante as investigações do caso era o chefe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) em Belo Horizonte, falou sobre a tentativa dos investigadores de estabelecer claramente a relação de Zezé com os acusados. “Na época do crime, ele estava na ativa. Foram captados sinais de diversas ligações do celular dele para o celular do Macarrão, inclusive no dia em que Eliza e o filho foram trazidos para Minas. Há ainda ligações dele para o Bola na data que a jovem foi morta. Ele foi ouvido duas vezes na delegacia, uma na condição de testemunha e a outra como suspeito, mas não conseguimos provas ligando ele a morte da jovem”, afirmou Moreira.

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Não se pode indiciar ou condenar alguém com base em coincidências ou estranhezas. E para o bem da democracia, a Justiça deve trabalhar com clareza no exame de provas técnicas. Mas há uma incomoda abundância de coincidências na relação do policial aposentado com os acusados da morte de Eliza. Pelo relato que ele próprio faz, Bola foi ao seu encontro na mesma motocicleta de 125cc utilizada, horas antes, para o encontro com Macarrão, um menor de idade, Eliza Samudio e o menino Bruninho. As “várias ligações” telefônicas a que se refere o delegado Edson Moreira são, em números precisos, 144 telefonemas em 5 dias, justamente no período em que Eliza teria permanecido em poder de Bruno e seus comparsas. Para este volume de ligações também há um álibi: segundo Zezé, ele e Bola pretendiam montar um “clube de paintball”, e cogitavam ser sócios na empreitada.

É importante ressaltar um detalhe: os álibis apresentados por Zezé – e confirmados por Bola – surgiram depois que os dois permaneceram algumas horas compartilhando a mesma sala, no Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas, enquanto aguardavam o momento de prestar depoimento. Ambos conhecem bem a técnica policial e a maneira como são procuradas brechas em relatos de suspeitos. O Ministério Público e a Polícia Civil chegaram a monitorar o telefone de Zezé com autorização da Justiça, após os primeiros depoimentos. Havia a esperança de que em algum diálogo surgisse uma pista que pudesse levar ao corpo de Eliza. As conversas, no entanto, não revelaram nada além de amenidades – o que não é de se estranhar, considerando que ele sabia que poderia ser monitorado.

O depoimento mais contundente para a elucidação da morte de Eliza, até o momento, continua sendo o do adolescente. Foi ele quem, a partir da Pampulha, em BH, o caminho até a casa do ex-policial Bola, em Vespaziano. O jovem estava no carro com Macarrão, Elenílson Vitor, caseiro do sítio de Bruno, Eliza e o menino Bruninho. A partir daquele ponto, eles seguiram acompanhando Bola em uma motocicleta. À polícia, o menor relatou detalhes do caminho e da casa do policial, inclusive frases dos acusados nos momentos anteriores à execução de Eliza. O delegado Edson Moreira se impressionou com a riqueza de detalhes do relato e, ainda, com o abalo emocional que o garoto exibiu ao se aproximar do local do assassinato. Segundo Moreira, ao perceber a aproximação da casa, o jovem se urinou e teve uma crise nervosa dentro da viatura policial.

O caso terá novos desdobramentos nesta segunda-feira. Advogados de acusação e defesa tentarão saber mais sobre a carta apresentada na edição de VEJA, que detalha o que seria um plano para Macarrão assumir a autoria do crime. VEJA submeteu a assinatura de Bruno a dois peritos, que atestaram a autenticidade da firma. O documento deverá ser anexado ao processo.

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