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A república de Piraí e a estranha linha de montagem das UPAs do governo do Rio

Empresa contratada para fabricar módulos metálicos não presta o serviço, mas faz gordas doações de campanha aos aliados do vice-governador, Pezão

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 jul 2011, 10h53

A Metalúrgica Valença, apesar de receber a gorda quantia do governo e não efetuar as obras, investiu na campanha de alguns candidatos. Doou, por exemplo, 40 mil reais à campanha de Gustavo ‘Tutuca’

No Palácio Guanabara, ele é vice. Mas na região do Médio Vale do Paraíba, sul do estado do Rio, Luiz Fernando Pezão é quem manda. E a capital da república comandada por ele é o pequeno município de Piraí. Lá ele começou sua vida política como vereador, elegeu-se prefeito por dois mandatos consecutivos e cacifou-se para ser o poderoso braço direito de Sérgio Cabral, responsável pelas principais obras do governo estadual. Pezão fez e mantém muitos amigos na região.

Uma dessas amizades agora complica o vice: o empresário Ronald de Carvalho, dono da Metalúrgica Valença, aquela que recebeu 140 milhões de reais do governo do estado e repassou a outra empresa, do mesmo dono, a execução do contrato. Outro grande amigo de Pezão é o prefeito de Piraí, Arthur Henrique Gonçalves Ferreira, conhecido como Tutuca, que cumpre seu terceiro mandato na cidade.

Como bons amigos, todos se ajudam. Tutuca pai se elegeu com ajuda de Pezão, e vice-versa. E quando Gustavo Ferreira, filho de Arthur e igualmente apelidado de Tutuca, decidiu se candidatar pelo PSB, pôde contar com todo o apoio dos amigos do pai. Nas caminhadas para angariar votos, Pezão mostrou que pisa forte na região: reuniu os prefeitos de Vassouras, Valença, Barra do Piraí e, claro, Piraí.

A Metalúrgica Valença, apesar de receber a gorda quantia do governo e não efetuar as obras, investiu na campanha de alguns candidatos. Doou, por exemplo, 40 mil reais à campanha de Gustavo, o que equivale a 15,4% de tudo o que ele arrecadou para a empreitada. A empresa de Ronald de Carvalho foi a segunda maior doadora de verba para a campanha, perdendo apenas para o comitê de partido.

Pode-se dizer que, de concreto, as doações de campanha são a única atividade visível da Metalúrgica Valença na região, afinal, a empresa não produz o que deveria ser seu principal negócio – as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). A Valença foi criada em 2009 e recebeu 4 milhões de empréstimo do governo do Rio, além de uma concessão até 2014 para usar um terreno, como mostrou reportagem de VEJA. É este também o período do mandato do governador Sérgio Cabral e de Pezão.

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Gustavo Tutuca comemora o seu aniversário na companhia de seu pai, Arthur Henrique, e de Pezão. A festa ocorreu no dia 12 de junho deste ano, em Piraí.
Gustavo Tutuca comemora o seu aniversário na companhia de seu pai, Arthur Henrique, e de Pezão. A festa ocorreu no dia 12 de junho deste ano, em Piraí. (VEJA)

No terreno, há hoje apenas uma estrutura de metal que, aparentemente, não condiz com os 140 milhões de reais que a firma recebeu do governo para produzir as estruturas metálicas das UPAs. Empresários e governo do estado ainda devem a explicação sobre o motivo para receber pelo serviço e terceirizar – sem ninguém ligado ao projeto e às cidades envolvidas ter a preocupação de fiscalizar como se dá esse processo. Ou seja: desde 2009, ninguém teve a curiosidade de conhecer o local onde são feitas as UPAs.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, oito empresas participaram de um pregão para escolher quem prestaria esse serviço ao estado. Três saíram vencedoras: Metalúrgica Valença, HW Engenharia e Panel Built. Quem monta os módulos metálicos das UPAs, na prática, está fora do grupo: a Metalúrgica Barra do Piraí, que também pertence a Ronald de Carvalho e não tem contrato com o governo para este serviço. Desde o dia 13 de julho, a Secretaria Estadual de Fazenda apura indícios de irregularidades na Metalúrgica Valença.

Uma delas é sobre a informação de que a empresa esteja se beneficiando do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), que é 17% menor em Valença do que em Barra do Piraí. Ou seja, a produção tem que ocorrer em Valença e não em outro local – uma irregularidade até pequena diante das outras dúvidas que pairam sobre as atividades da metalúrgica.

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