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A longa travessia até 2014 começa agora

Com os olhos voltados para as eleições presidenciais, Aécio Neves e Eduardo Campos usarão 2012 para medir forças rumo ao Planalto

Por Thais Arbex e Cida Alves
4 abr 2012, 07h29

A pouco mais de dois anos da próxima eleição presidencial, líderes políticos já estão com os olhos voltados para 2014. Para eles, a longa travessia até o Palácio do Planalto começa agora. Sabem os presidenciáveis que, apesar do caráter local, o pleito de outubro irá muito além da escolha de prefeitos e vereadores. A disputa de 2012 é peça-chave na corrida pela Presidência da República – é a partir dela que se forma a base política que se engajará na campanha eleitoral.

Além de escolher (e ser escolhido para) o papel principal, o protagonista tem que merecer o posto. É preciso sabedoria para conduzir o cenário político até 2014. E força para bancar um projeto de governo que conquiste o eleitor, que levou, em 2010, a presidente Dilma Rousseff ao Planalto após os oito anos de governo Lula.

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A oposição admite que o papel é disputado e sabe que precisa trabalhar duro para elaborar um projeto que concorra em pé de igualdade com o do governo. “Estamos num processo de movimentação e mobilização do PSDB”, diz o presidente nacional do partido, deputado Sérgio Guerra. “O partido precisa retomar suas bases.”

Os tucanos já escolheram o seu protagonista. Ao menos por enquanto, escalaram o senador mineiro Aécio Neves para percorrer o país com o objetivo de resgatar a militância e dar um novo gás ao partido. Aécio deu início a um giro pelo país no segundo semestre do ano passado e já esteve em mais de 15 estados, entre eles Paraná, Bahia, Ceará e Goiás. Na semana passada, desembarcou em Rio Branco, no Acre, para uma palestra sobre gestão pública para militantes do PSDB. Antes, porém, cumpriu agenda de presidenciável e visitou o bairro do Taquari, atingido por enchentes no início do ano.

Na pauta oficial, a discussão sobre os problemas brasileiros. Nos bastidores, porém, a preocupação dos tucanos com dois pontos específicos: a estruturação dos palanques e ampliação das alianças, não só com os partidos de oposição, mas também – e principalmente – com os da base do governo Dilma; e a formação de um novo discurso nacional do PSDB, que unifique a legenda para chegar em 2014 como uma alternativa viável à gestão do PT. Temas como saúde e segurança pública são tidos como prioritários para os tucanos. “Temos que, de alguma forma, emoldurar o discurso local com as propostas nacionais do PSDB para que as pessoas tenham a percepção permanente de que partido tem um projeto nacional”, diz o senador.

Nos próximos dias, ele visitará Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. E também se prepara para desembarcar, ainda neste semestre, no Nordeste, onde Dilma teve 10,7 milhões de votos a mais que o tucano José Serra em 2010. A missão de Aécio é levar a popularidade de sua gestão em Minas Gerias para o resto do país. Em 2010, o ex-governador mineiro foi eleito senador com 7.565.377 votos (39,47%).

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De olho nas grandes cidades – A preocupação do PSDB é reorganizar e emoldurar a legenda para o pleito de outubro. Mas sempre com um olho nas próximas eleições presidenciais, é claro. O objetivo é sair das urnas este ano com ao menos mil prefeitos. Hoje, o partido comanda 793 prefeituras. Assim como o PT e o PMDB, os tucanos também estão focados nas 118 cidades do país com mais de 150 000 eleitores.

O comando do partido acredita que o fato de conseguir eleger oito governadores em 2010 mudará a representação do PSDB no país. Hoje, o PT comanda 33 desses grandes municípios – é o partido com maior presença nessas cidades. O PMDB vem em segundo lugar, com vinte; o PDT com dezesseis; PSDB, catorze; e PSB com nove.

Candidato óbvio – Aécio não foi escolhido à toa. Apontado como “candidato óbvio” do PSDB à Presidência da República pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, media forças com o ex-governador José Serra, que não abria mão da disputa pelo Planalto em 2014.

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A aproximação do afilhado político de Serra, o prefeito Gilberto Kassab, com o PT e a possibilidade real de o PSDB perder o comando da capital paulista para o partido do ex-presidente Lula ajudaram a convencer Serra a concorrer no pleito municipal. O ex-governador afirmou que o desejo de ocupar o Palácio do Planalto está “adormecido”, pelo menos até 2016. E abriu espaço para Aécio Neves.

Na última quarta-feira, três dias depois de Serra ganhar as prévias do PSDB para a prefeitura, Aécio deu seu grito de liberdade. Subiu à tribuna do Senado com aquele que foi, em quinze meses de mandato, seu discurso mais duro contra o governo Dilma. “Para onde quer que se olhe, o cenário é desolador”, afirmou. “A presidente estaria refém do seu próprio governo. É como se não tivesse sido a autoridade central nos oito anos da administração anterior. É como se ela não houvesse, de próprio punho e com a sua consciência, colocado de pé o atual governo, com as suas incoerências e incongruências irremediáveis”.

Inaugurou, assim, uma nova fase, na qual assume de vez o papel de “candidato óbvio” do PSDB à Presidência da República. E agora sem constrangimento, tampouco cerimônia. Sem reservas e adversários internos – de novo, ao menos por enquanto – Aécio se colocou à disposição do partido para ser o líder da oposição. Em público, no entanto, ele prefere manter o discurso oficial, de que ainda não é o momento de discutir 2014. “Venho fazendo isso como militante partidário”, diz.

Fase de teste – O parlamentar mineiro sabe que seu comportamento está sendo observado. No início de fevereiro, dias antes de elevar o mineiro a candidato a presidente, FHC publicou o artigo Crer e Preservar, no qual perguntava: “Aécio Neves está em fase de teste: transmitirá uma mensagem que salte os muros do Congresso e chegue às ruas? Encarnará a mudança com a energia necessária e o desprendimento que é o motor da ousadia, se arriscando a dizer verdades inconvenientes, e aparentemente custosas eleitoralmente, para que o povo sinta que existe ‘outro lado’ e confie nele para abrir perspectivas melhores?”.

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As respostas a FHC começaram a ser rascunhadas pelo PSDB, que quer apresentar o senador ao Brasil. “Aécio precisa ganhar dimensão nacional”, admite Guerra. “Nosso objetivo é fortalecer a presença dele nos estados e tornar seu nome conhecido”.

O senador sabe que precisa mostrar a que veio. “Aécio é ainda uma liderança estadual, mas pode ter nessas eleições um teste de popularidade”, afirma o historiador Marco Antônio Villa. “Ele vai poder medir a força política que tem para encarar sua pretensão nacional”.

Eduardo Campos – Com o sonho de seu maior adversário adormecido, Aécio terá que enfrentar, além da máquina do governo, as ambições do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, que ainda não decidiu se quer alçar voo solo ou ser vice de Dilma em 2014. “Eduardo Campos é uma figura jovem e bem sucedida que não pode deixar que as articulações dessa campanha comprometam a atividade no estado que ainda está governando”, diz o cientista político Rui Tavares Maluf, coordenador da área de pesquisa de Opinião Pública e Inteligência de Mercado da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Campos sabe muito bem disso. Tanto que avisou o ex-presidente Lula que não tomará qualquer decisão sobre uma possível aliança em torno da candidatura de Fernando Haddad, pré-candidato do PT à prefeitura de São Paulo, antes de junho. O governador pernambucano quer ganhar tempo. Não só para cacifar ainda mais o PSB, como também para esperar a decisão da Justiça Eleitoral sobre o tempo de TV e o fundo partidário do PSD do prefeito Gilberto Kassab.

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Campos foi um dos principais parceiros de Kassab na formação do PSD, legenda com a qual o prefeito de São Paulo pretende acumular conquistas que vão além do território paulistano. Kassab aposta que o governador pernambucano será o grande destaque da eleição de 2014. E, por isso, pode ajudar a alavancar seu projeto nacional.

Mesmo assim, o comando do PT ainda aposta que dificilmente o governador dirá não a um apelo pessoal de Lula. Campos foi ministro no primeiro mandato do ex-presidente e considera o petista seu fiel aliado e padrinho político. “Ele vai levar em conta [o pedido de apoio em São Paulo] porque sabe qual é a importância da eleição de Fernando Haddad”, disse o presidente do PT, deputado Rui Falcão, há uma semana, depois de participar de um encontro entre o governador e o ex-presidente.

Os petistas acreditam também que as aspirações nacionais de Campos para 2014 pesarão na decisão. O PT quer o PSB na aliança para a reeleição de Dilma Rousseff e está disposto a colocar o pernambucano como candidato a vice. “Temos um projeto nacional que se iniciou com o Lula e queremos mantê-lo”, diz Falcão. “O importante é que, independentemente de disputas locais, queremos manter este projeto”.

Mas Campos está acompanhando de perto as alianças municipais para fechar seu mapa de coligações. Não quer correr o risco de ver os planos para o Palácio do Planalto prejudicados. Não por acaso, a aliança em São Paulo será decidida no último momento. É ela que pode abalar de maneira mais significativa sua proximidade com o ex-presidente Lula e Dilma Rousseff.

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