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A hora da verdade para o PV no Rio

Partido tenta repetir, com Aspásia Camargo, bom desempenho de Fernando Gabeira, em 2008, e de Marina Silva, em 2010

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 jul 2012, 13h12

O desafio do PV e de Aspásia é provar que o desempenho de Marina e Gabeira não foi apenas conjuntural, e que há um eleitorado capaz de repetir a “onda verde” de 2010 e 2008. A análise do cientista político César Romero Jacob, da PUC-Rio, no entanto, é de que o voto no PV não é algo consolidado na cidade. “Os dois aproveitaram um momento político particular”, afirma

Nas duas últimas eleições – a presidencial de 2010 e a municipal de 2008 – o Partido Verde alcançou resultados surpreendentes no Rio. Em 2008, Fernando Gabeira disputou a prefeitura da capital e foi derrotado por Eduardo Paes no segundo turno com uma desvantagem de apenas 50 mil votos. Há dois anos, Marina Silva, então no partido, obteve na capital fluminense 31% dos votos no primeiro turno, ficando em segundo, atrás de Dilma Rousseff, com 43%. A primeira pesquisa de intenções de voto no Rio mostra o PV com uma margem bem mais modesta: a deputada estadual Aspásia Camargo aparece com 1% dos votos, num pleito que, segundo o instituto DataFolha, reelegeria Eduardo Paes (PMDB) com 54% dos votos.

O desafio do PV e de Aspásia é provar que o desempenho de Marina e Gabeira não foi apenas conjuntural, e que há um eleitorado capaz de repetir a “onda verde” de 2010 e 2008. A análise do cientista político César Romero Jacob, da PUC-Rio, no entanto, é de que o voto no PV não é algo consolidado na cidade. “Os dois aproveitaram um momento político particular”, afirma. Aspásia prefere pensar o contrário e não nega que tentará fazer percursos parecidos com o dos dois. “O meu legado é de Marina, do Gabeira e do PV. Um belo legado. É o único legado garantido na campanha”, diz a candidata, para quem as pesquisas de intenção de voto não podem servir de referência. “Fiquei chateada porque foi uma pesquisa com 900 entrevistas. A partir disso, é feita uma avaliação precoce sobre candidatos. Isso é muito ruim para o processo eleitoral. Não gostei. Essa quantidade de entrevistas é abaixo de uma amostragem fidedigna de uma cidade com mais de seis milhões de habitantes”, argumenta.

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Recuperada do susto, Aspásia, de 69 anos, roda a cidade para buscar eleitores. Um de seus nortes é uma frase adaptada de Friedrich Nietzsche. “De quantas verdades a minha cidade é capaz? Eu sou o teste”, diz. Aspásia é uma verde de carteirinha. Do histórico recente, foi representante da União Nacional dos Legisladores na Rio+20 e teve participação decisiva na conquista do projeto de criação de um Centro Mundial de Desenvolvimento Sustentável na cidade. Agora, tenta se apresentar como uma alternativa ao modelo econômico desenvolvido no município e se propõe a missão de acrescentar um pouco de filosofia ao debate, como princípios e valores dos candidatos. O percurso é idêntico ao traçado por Marina e Gabeira, que foram em busca do ‘voto ético’.

Fernando Gabeira e Marina Silva durante reunião dos dissidentes do PV
Fernando Gabeira e Marina Silva durante reunião dos dissidentes do PV (VEJA)
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Marina serviu de terceira via para os eleitores insatisfeitos com o quadro apresentado na corrida para o Planalto. No Rio, angariou votos de perfis distintos da população. Saiu-se bem na porção mais rica, tradicionalmente conservadora, representada por Ipanema e Leblon. Conseguiu bons resultados no que Jacob chama de grande Santa Teresa, que inclui os bairros de Laranjeiras, Flamengo, Maracanã, Tijuca e Santa Teresa, onde moram eleitores mais à esquerda, desiludidos com o PT. Marina, apesar de não ter feito campanha baseada na rede de igrejas evangélicas, obteve também votos dos “irmãos” por pertencer à Assembleia de Deus.

“Ela foi muito bem votada na parte evangélica do Rio. Marina não era uma evangélica óbvia porque tratava a religião como um aspecto de foro íntimo. Mas esse segmento votou nela”, afirma Jacob. Os mapas analisados pelo cientista político mostram que os pentecostais estão localizados, principalmente, na zona oeste. Foi assim que Marina conseguiu circular pela capital, contando ainda com adeptos ao discurso da sustentabilidade.

Em 2008, Gabeira surfou, junto com Paes, no vácuo de um enfraquecimento do grupo brizolista, composto pelos dissidentes Anthony Garotinho, Rosinha Mateus e Cesar Maia. As forças conservadoras da cidade estavam sem candidato. O ex-governador tucano Marcello Alencar articulou a aliança com Gabeira e, assim, fez um arranjo inusitado: fez um político com histórico de luta pela esquerda ser apoiado pela direita. No segundo turno, o verde conseguiu votos onde Marina, dois anos depois, também teve bom desempenho, a zona sul.

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Sérgio Cabral respondeu à altura e lançou Eduardo Paes, ex-PSDB, com passagem anterior pelo PFL. O segundo turno foi o mais acirrado das capitais brasileiras e apresentou um comportamento no mínimo curioso dos eleitores. Em análise dos mapas eleitorais, Jacob afirma que Gabeira acabou preferido por setores conservadores, enquanto Paes foi apoiado pela esquerda. “Eles tiveram o papel trocado em relação às suas histórias de vida. O PSDB tentou com Gabeira o apoio da direita e da esquerda. O Cabral levou Paes do PSDB para o PMDB, em resposta a Alencar. No segundo turno, o PT apoiou Paes, e Gabeira chegou a fazer campanha no Clube Militar”, lembra Jacob.

O pesquisador mostra em seu novo estudo que houve um corte claro na cidade, em 2008, dividindo-a em metades norte e sul. Os votos de Paes vieram da porção norte, das áreas mais pobres. Os de Gabeira, das áreas mais ricas. Quatro anos depois, o cenário é de consolidação do PMDB na cidade e no estado. Cabral lançou um novo estilo de política, de agregação, sem a tentativa de se tornar dono do partido, e basicamente apostando em nomes que, custe o que custar, vençam as eleições. Com as alianças feitas para a corrida à prefeitura deste ano, tudo indica que Paes manterá a dianteira na parte norte da cidade. Restará aos outros a disputa pela metade sul – onde Paes também tem força.

Se Marina e Gabeira saíram-se bem nessa parte da cidade, Aspásia terá de disputar eleitores com Marcelo Freixo, do PSOL, Rodrigo Maia, do DEM, e Otávio Leite, do PSDB. A estratégia de Aspásia está traçada. Como o discurso ambiental de hoje não pode ser mais o de “preservar árvores”, dada a complexidade de questões como a sustentabilidade das atividades econômicas e as necessidades de transporte de massa nos grandes centros, a deputada vai evitar a campanha monocórdia. “Tratarei todos os temas com visão sistêmica, integrada. Fui militante política, jamais reduziria minha agenda só ao meio ambiente. Minha proposta é dar ênfase à agenda econômica da cidade”, afirma.

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O cenário encontrado por Aspásia é, sem dúvida, diferente daquele vivido por Gabeira e Marina. Paes tem conseguido exposições positivas, com as obras para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016. Além de enfrentar um gigante, a deputada tem a tarefa de impulsionar o voto de legenda na eleição para vereador – meta alcançada por Gabeira ao ajudar o partido a conquistar três cadeiras para os verdes na câmara. Aspásia carrega a responsabilidade de manter vivo o eleitor e os políticos cariocas do PV. “O aquecimento eleitoral é muito misterioso, sobretudo em eleições municipais. O eleitor fala uma linguagem imprevisível e fortíssima. Toda campanha municipal tem surpresa”, afirma a deputada, apostando em uma virada.

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