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A eficácia e os riscos do terrorismo do PT nas eleições

Campanha de Dilma reedita – ainda mais agressiva – linguagem televisiva de desconstrução dos adversários para conter onda pró-Marina Silva

Por Felipe Frazão e Gabriel Castro
12 set 2014, 18h54
Frame do comercial Dilma na TV – “Pré-sal é dinheiro para educação e saúde” (VEJA)

No auge das eleições de 2002, o PSDB levou à campanha na televisão um depoimento da atriz Regina Duarte até hoje citado – e estudado – por marqueteiros e políticos de todas as matizes. “Estou com medo”, dizia a atriz, em referência ao risco de perda da estabilidade econômica conquistada pelo governo Fernando Henrique Cardoso com a possibilidade de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva e do Partido dos Trabalhadores. Na época, o mercado financeiro vivia um período de turbulência, uma vez que fazia parte do discurso do PT demonizar a iniciativa privada e abraçar teses como o calote da dívida externa. A peça publicitária causou alvoroço na campanha petista, que reclamou do tom agressivo e do rebaixamento da campanha. Pelas mãos do marqueteiro Duda Mendonça, nasceu o slogan “a esperança venceu o medo”. O PT ganhou as eleições de 2002 e as duas seguintes. Após 12 anos, contudo, é o partido que agora adota o “discurso do medo” e, para reeleger Dilma Rousseff – a presidente-candidata que já afirmou que “pode fazer o diabo quando é a hora da eleição” -, faz dele uma poderosa arma de disseminação de mentiras e boatos.

Em 2006, já instalado no Palácio do Planalto e com um novo marqueteiro, o baiano João Santana – Duda foi arrastado pelo mensalão -, o PT espalhou a suspeita de que o PSDB privatizaria a Petrobras e “venderia” a Caixa Econômica Federal se o tucano Geraldo Alckmin vencesse a disputa contra Lula. Quatro anos depois, os boatos eram que se José Serra (PSDB) derrotasse o então “poste” lançado por Lula, sua ex-ministra Dilma Rousseff, acabaria com o Bolsa Família. Nos dois casos, a avaliação no partido é que a terrorismo funcionou. Com um batalhão de militantes e capilaridade nos rincões do país, boatos como esses têm potencial para se espalhar como rastilho de pólvora. Em 2014, além desses fatores, o PT conta também com um exército virtual nas redes sociais, o que faz da artilharia ainda mais pesada. E, não bastasse, a própria presidente-candidata Dilma Rousseff, com seu padrinho político a tiracolo, têm repetido à exaustão o discurso de terrorismo eleitoral.

Acuado pela possibilidade registrada em pesquisas de que pode deixar o poder depois de três mandatos, o PT lançou uma ofensiva contra a adversária Marina Silva (PSB). Entraram em cena peças publicitárias sugerindo que a eleição de Marina provocaria insegurança institucional – ela foi comparada aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, este último, ironicamente, um aliado conveniente do próprio PT. Nesta semana, veio a público a mais aterradora delas: com uma trilha sonora digna de filme de terror, o filme mostra personagens-banqueiros, de gel no cabelo e olhar de predador, conspirando ao redor de uma mesa. Na sequência, uma família de negros sentada à mesa para jantar vê a comida sumir do prato, o suco desaparecer da jarra. O tema é a autonomia do Banco Central brasileiro – proposta defendida por Marina Silva que, segundo a propaganda desinformadora do PT, daria aos bancos privados o poder de retirar das pessoas tudo que elas conquistaram nos últimos anos.

Simultaneamente ao bombardeio na TV, Dilma Rousseff ganhou fôlego nas pesquisas e a arrancada de Marina estancou. O PT não perdeu tempo: na quinta-feira, levou ao ar uma nova peça, nos mesmos moldes, na qual afirma que Marina quer “reduzir a prioridade do pré-sal”, o que acarretaria prejuízo de “1,3 trilhão de reais para a Educação e Saúde” – além de ser uma ameaça ao emprego. Nas imagens, engenheiros debatendo sobre a exploração de petróleo se alternam com crianças tendo aula com livros em branco, as mãos na cabeça em sinal de espanto e a mesa escolar vazia.

“Isso é comum nas campanhas, e o PT faz muito bem. Mas a forma que eles estão usando é exagerada. É terrorista”, diz o professor Antonio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB). Ele afirma que os 11 minutos e 24 segundos na TV da campanha petista – cinco vezes maior do que o de Marina – torna desigual a guerra de informação. Na opinião de Testa, a candidata do PSB deve articular uma reação mais firme aos ataques para evitar a sangria no primeiro turno. No segundo turno, os candidatos terão o mesmo tempo de televisão.

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A receita não é novidade neste ano. A fórmula e a estética, aliás, são similares à adotada em maio pelo PT. O partido antecipou o que faria logo que as pesquisas de intenção de voto detectaram o desejo de mudança do eleitorado, chacoalhado pelos protestos de junho de 2013, e a queda na intenção de voto em Dilma. Levou ao ar em rede nacional uma inserção partidária dizendo que os “fantasmas do passado” não poderiam voltar. Como Marina era candidata à vice na chapa de Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em agosto, o alvo preferencial era o tucano Aécio Neves.

Para o especialista em marketing eleitoral e presidente da Associação Brasileira de Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, a campanha passou das duas primeiras fases – apresentação biográfica dos candidatos e das propostas de governo. Agora, diz Manhanelli, os candidatos tentarão descontruir a imagem dos adversários para alterar os números das pesquisas eleitorais – a última etapa da campanha na TV. “Esse processo do medo é uma desconstrução da imagem do outro, assim como tentaram com o Lula. A Dilma não tem mais argumento, ela usou todos. Ela agora chegou à fase de usar artimanhas”, diz Manhanelli.

Revés – O currículo vitorioso de campanhas do marqueteiro petista João Santana também é pontuado por uma derrota, atribuída internamente no partido pelo erro ao levar ao ar, nas eleições para a prefeitura paulistana em 2008, uma peça questionando a vida pessoal do então prefeito Gilberto Kassab (PSD), na época adversário de Marta Suplicy (PT). A campanha que perguntava se Kassab “era casado ou tinha filhos” não só minou as chances da petista como maculou a imagem de Marta. É o risco inerente a esse tipo de estratégia eleitoral.

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https://youtube.com/watch?v=rTy_9oW3gRg%3Flist%3DUUNPBHPsVGXsoKclEkXmtOLw

Dilma vs Marina – O Banco Central

Eleições presidenciais de 2014. Primeira ofensiva de Dilma para para barrar crescimento de Marina Silva (PSB) nas pesquisas de intenção de voto.

https://youtube.com/watch?v=xUjC2B0bEfY%3Flist%3DUUNPBHPsVGXsoKclEkXmtOLw

Dilma vs Marina – O pré-sal

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Eleições presidenciais de 2014. João Santana, marqueteiro do PT, amplia ataques ao programa de governo de Marina Silva (PSB) para frear ascensão da candidata.

https://youtube.com/watch?v=c2GDQYO2xbg

PT vs PSDB – Fantasmas do passado

Programa partidário pré-eleições de 2014 usado para conter, em maio, queda de Dilma nas pesquisas de intenção de voto frente ao tucano Aécio Neves e a Eduardo Campos (PSB).

https://youtube.com/watch?v=jzdJ39Sf8IM

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Serra vs Lula – O medo de Regina Duarte

Eleições presidenciais de 2002: discurso da atriz contra “jogar no lixo” as conquistas do governo FHC fracassou, e José Serra (PSDB) perdeu as eleições para Lula (PT).

Marta vs Kassab – “Ele é casado?’

Eleições municipais para prefeitura de São Paulo em 2008. No segundo turno, Marta perdeu a eleição para Kassab, que estava atrás nas intenções de voto inicialmente. O programa aumentou a rejeição da petista.

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Collor vs Lula – Depoimento de Miriam Cordeiro

Eleições presidenciais de 1989 – Collor venceu Lula após apelo do depoimento em que Miriam Cordeiro, mãe da filha de Lula, Lurian Silva, o acusou de descaso e preconceito.

Lula vs Collor – Lula apresenta a filha, Lurian Silva

Eleições presidenciais de 1989 – Collor venceu Lula após apelo do depoimento de Miriam Cordeiro. Lula levou a filha para a TV, mas não conseguiu reverter o impacto causado pelo programa de Collor.

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