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Xadrez político na Itália tem Monti, Bersani e, claro, Berlusconi

Em meio à instabilidade econômica, disputa eleitoral tem pontapé confuso

Por Gabriela Loureiro
22 dez 2012, 07h12

A disputa eleitoral na Itália mal começou, mas as principais figuras do jogo político já podem ser delineadas. Até aqui, os indícios são de que o ex-premiê Silvio Berlusconi, ressurgido depois de ser obrigado a renunciar no ano passado poderá duelar com o tecnocrata Mario Monti, que renunciou ao cargo nesta sexta-feira. Mas um terceiro nome deverá ser o maior adversário para quem quer que almeje um cargo de primeiro-ministro: o líder do Partido Democrático (PD), Pier Luigi Bersani. Pesquisas de opinião, sem exceções, apontam a legenda de centro-esquerda e seus aliados como favoritos para conquistar a maioria no Parlamento nas próximas eleições.

Uma análise feita pela revista britânica The Economist (leia a íntegra em inglês) afirma que uma coalizão construída em torno de Mario Monti teria dificuldade para superar o PD nacionalmente, mas poderia barrar as chances do partido de dominar tanto a Câmara dos Deputados como o Senado.

Segundo as regras eleitorais da Itália, a coalizão que ficar em primeiro lugar nas eleições recebe um bônus que lhe garante a maioria na Câmara dos Deputados. No Senado, no entanto, o bônus é alocado por região. O grande risco desse sistema para a governabilidade da Itália será um resultado que dê a uma coalizão a maioria na Câmara, mas não no Senado.

Premiê cobiçado – Monti, que nunca disputou uma eleição, pode ser impedido de fazê-lo desta vez por ter um título de senador vitalício, concedido antes de ele assumir o cargo no ano passado. A Economist traz a possibilidade de ele abrir mão do assento no parlamento para entrar na disputa ao cargo de primeiro-ministro – essa decisão, no entanto, o faria perder a chance de se tornar chefe de Estado quando o presidente Giorgio Napolitano deixar a função, em maio. “É lá que Bersani gostaria de vê-lo, como garantidor de futuras reformas”, afirma a reportagem.

O tecnocrata poderia, desta forma, ser candidato ou endossar uma aliança de centro, reunindo o apoio de alguns importantes membros do partido de Berlusconi, o Povo da Liberdade (PdL), que devem abandonar a legenda, como por exemplo, o ex-ministro de Relações Exteriores Franco Frattini. A coalizão poderia incluir ainda um partido veterano, União dos Democratas-Cristãos, e também do incipiente Movimento para a Terceira República, liderado pelo dono da Ferrari, Luca di Montezemolo e fundado especificamente como um veículo para o primeiro-ministro.

Pier Luigi Bersani
Pier Luigi Bersani (VEJA)
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Além disso, grandes empresários e setores da Igreja Católica já sinalizaram apoio ao premiê. Todos esses apoios dariam a Monti a condição de tirar votos do PdL, que já aparece bem atrás nas pesquisas, com 15% das intenções de voto. Completando o cenário favorável a Monti está o fato de que Berlusconi foi derrotado duas vezes em cinco eleições, as duas para um discreto professor de economia com impecáveis credenciais europeias, Romano Prodi.

“Um problema central da democracia italiana é que seus dois principais partidos são uma confusa mistura ideológica. À esquerda, o Partido Democrático é o fruto do casamento entre ex-comunistas e antigos cristãos-democratas. À direita, o Povo da Liberdade é o resultado da fusão entre neo-fascistas reconstruídos e seguidores heterogêneos de Berlusconi, uma gama de oportunistas, ex-socialistas, conservadores e liberais ocasionais”, adverte a Economist, apontando Monti como uma alternativa de construção de uma nova via no país.

Mas como o adversário a ser batido parece ser Bersani, Monti também poderia unir forças com ele depois da eleição, empurrando o PdL para a oposição, junto com integrantes do Movimento Cinco Estrelas, partido opositor fundado por um ex-comediante, Beppe Grillo.

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Renúncia – O tecnocrata anunciou que renunciaria ao cargo depois de perder o apoio do PdL no início de dezembro. A decisão de Monti teria como objetivo impedir que Berlusconi encabece uma campanha eleitoral com mira no governo de Monti – o que o ex-premiê já colocou em prática, com críticas às medidas de austeridade do governo. As declarações de Berlusconi, no entanto, oscilam entre o franco ataque ao atual governo e eventuais recuos – como ao dizer, na semana passada, que se o chefe de governo liderasse a corrente moderada, desistiria de se candidatar.

A data das eleições deverá ser confirmada ainda neste sábado. É provável que o pleito seja marcado para o dia 24 de fevereiro. Antes da situação criada pelo PdL, a disputa estava prevista para abril.

Desafios – O próximo governo da Itália deve se concentrar em reformas financeiras que promovam a competitividade nos mercados e encorajem os investimentos no país, explica uma análise do The New York Times (leia a íntegra em inglês). Nesse cenário, não haveria espaço para Berlusconi, o ‘bicho-papão dos investidores que simboliza a natureza caótica da política italiana’.

Segundo o The Wall Street Journal (leia a análise na íntegra em inglês), a próxima eleição italiana não será decidida com base na personalidade dos candidatos, mas na tensão entre austeridade e gastos que preocupa tanto a Europa inteira. A maioria dos italianos, cansados das medidas de austeridade de Monti, não se importa se o Banco Central Europeu estremece ao imaginar um retorno triunfante de Berlusconi, segundo o jornal. A previsão é de que talvez a Itália experimente o sentimento que cresce na Europa nessa nova fase da crise do euro: exaustão com austeridade e uma volta do otimismo, mesmo que delirante. Nesse caso, haveria espaço para uma volta de Berlusconi.

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