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Vinte anos depois de autogolpe de Fujimori, sua influência se mantém

Por Por Reynaldo Muñoz
4 abr 2012, 17h13

Na noite de 5 de abril de 1992, o Peru foi atingido pela frase “dissolver, dissolver o Congresso” dita pelo presidente Alberto Fujimori, inaugurando um autogolpe de Estado. Vinte anos depois, com visões ainda discordantes, o “fujimorismo” mantém-se como a maior força de oposição.

Duas décadas depois daquela noite, o ex-presidente de 73 anos cumpre uma condenação de 25 anos de prisão desde 2009 por violações dos direitos humanos, mas o partido que reúne hoje seus militantes, o “Força 2011”, conseguiu colocar nas eleições do ano passado 37 representantes no Congresso unicameral.

O Congresso peruano tem um total de 130 cadeiras, sendo o fujimorismo o grupo opositor com maior representação parlamentar.

Sua filha Keiko, de 36 anos, disputou o segundo turno da eleição presidencial vencida em 2010 pelo nacionalista Ollanta Humala. Dedicada hoje a manter vivo o “fujimorismo”, analistas a posicionam como uma potencial candidata para as eleições de 2016.

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O fujimorismo (direita) “ainda está muito presente, tem um núcleo duro, que está muito arraigado e com muito poder econômico”, disse em uma recente entrevista o prêmio Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, derrotado por Alberto Fujimori nas eleições de 1990.

Sua influência se mantém, apesar das visões contrapostas sobre o golpe de Fujimori, que fechou também a Suprema Corte de Justiça, o Tribunal Constitucional e a Procuradoria da Nação, em meio a uma disputa com o Congresso, no qual não tinha maioria e considerava um obstáculo para governar.

O advogado e ex-senador Raúl Ferrero lembra dessa data as agressões que sofreu junto a outros congressistas.

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“Apesar da dissolução do Congresso, os legisladores concordaram em se reunir no dia seguinte na sede do Colégio de Advogados de Lima, mas uma força de soldados de elite nos impediu com o uso da força”, relatou à AFP.

Após o surpreendente anúncio de Fujimori, que permitiu a ele assumir poderes absolutos, tanques do Exército saíram durante a noite para patrulhar as ruas de Lima e rodearam as sedes do Congresso, do palácio de Justiça e zonas estratégicas para evitar distúrbios.

Contingentes do Exército ocuparam os jornais e canais de televisão implantando uma censura à imprensa. A intervenção alcançou também as agências de notícias estrangeiras, como a AFP, cuja redação foi ocupada nessa mesma noite por um capitão do Exército e dois soldados, como “medida de segurança”, segundo disseram.

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Ferrero, advogado constitucionalista, relata que poucos dias depois senadores e deputados conseguiram se reunir e fizeram juramento ao primeiro vice-presidente Máximo San Román – contrário ao autogolpe – como presidente constitucional, mas isso foi em vão “porque a essa altura o golpe já estava consolidado”.

O autogolpe teve um amplo apoio entre os peruanos, apesar de a maioria considerar hoje que essa experiência não deveria ser repetida.

Uma pesquisa recente revelou que 47% dos peruanos consideram que (o golpe) foi “necessário” naquele momento, enquanto que 38% consideram “desnecessário”. Levando em conta a conjuntura artual, cerca de 50% desaprovariam e 37% aprovariam.

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Nesta terça-feira, Keiko Fujimori afirmou que se tratou de “uma medida excepcional que nunca deve se repetir” e admitiu que “foram cometidos excessos e erros graves”.

No entanto, justificou essa decisão, alegando que foi tomada em “um momento dramático e excepcional quando os terroristas do Sendero Luminoso explodiam a capital todos os dias” e quando o país estava saindo da hiperinflação deixada pelo primeiro governo do social-democrata Alan García (1985-1990).

O governo de seu pai (1990-2000) “assentou as bases do atual crescimento econômico do país, um modelo que foi respeitado pelos presidentes seguintes”, disse Keiko.

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Salomón Lerner Febres, ex-presidente da Comissão da Verdade e Reconciliação opinou que o autogolpe “tentou se aproveitar do medo das pessoas para, sob o pretexto de atacar os grandes males do país, converter a nação em uma enorme pilhagem para um pequeno grupo de inescrupulosos que montaram a maior rede de corrupção”.

“Foi uma época de infâmias que envenenou a moral pública”, escreveu Lerner Febres no jornal La República.

Para Mario Vargas Llosa “foi uma tragédia para o Peru, e quem destruiu a legalidade (Fujimori) foi um criminoso, um criminoso que felizmente está pagando por esse crime”.

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